SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (7) que o corte de juros de 0,50 ponto percentual por reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) é o ritmo adequado neste momento e que as incertezas no cenário econômico só permitem projetar os passos do comitê para os dois próximos encontros.

Segundo ele, a instituição não tem como dar uma sinalização mais clara sobre até que patamar a taxa básica de juros, atualmente em 12,25% ao ano, irá cair. Nem projetar o que acontecerá nas reuniões do comitê depois de janeiro.

"50 pontos é um ritmo apropriado, e a gente tem a visibilidade de duas reuniões", afirmou o presidente do BC durante palestra no Fórum de Estratégias de Investimentos, promovido pela Bradesco Asset Management.

"A gente precisa analisar ponto a ponto, tem um cenário global que se complicou, tem algumas incertezas no cenário local. A gente usou a palavra próximos, que significa que a gente consegue enxergar as próximas duas reuniões, a princípio. Sinalizar muito mais do que isso, não tem valor esperado, dada a tamanha certeza que existe, tanto global quanto local."

Segundo ele, a taxa final da Selic no fim do atual ciclo de cortes, independente de qual for, precisa ser restritiva.

Campos Neto também afirmou que as taxas de juros globais podem ficar mais altas por mais tempo, devido aos desafios ainda existentes para garantir uma queda mais rápida da inflação.

Ele também espera que uma política fiscal mais frouxa nas grandes economias, como os Estados Unidos, contribua para um período de restrição de recursos para países emergentes e diz que o Brasil precisa fazer a lição de casa para se destacar nesse cenário.

Com um endividamento maior e juros mais altos, afirma, os EUA vão demandar mais recursos para rolagem da sua dívida, contribuindo para o cenário de retração da liquidez global.

"O ambiente de liquidez vai secar. Precisa fazer o dever de casa, precisa ter um fiscal arrumado. O Brasil tem feito. A gente, quando está aqui localmente, tem que ser mais crítico, mas quando eu faço uma comparação com os pares, o Brasil tem feito um bom trabalho. Na parte monetária também fez um bom trabalho, foi um dos primeiros a subir os juros, e a inflação tem caído", afirmou.

Campos Neto também disse que apoia a iniciativa do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de ter como meta "fazer o máximo de esforço possível" para zerar o déficit público no próximo ano.

"O problema quando você afrouxa a meta, é que vai gerar aquele problema de expectativa pior para frente. Se foi feito um grande esforço de arcabouço fiscal, e a gente não faz uma grande força para perseguir a meta, as pessoas vão ter mais dificuldade em projetar o fiscal de 2025 e 2026. Isso vai gerar prêmio de risco, e o prêmio de risco é um custo", afirmou.

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