BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A confirmação do nome do financista Luis Caputo como novo ministro da Economia de Javier Milei, nesta quarta-feira (29), veio com uma segunda conclusão no mercado argentino. A dolarização que o ultraliberal tanto prometeu durante a campanha está agora adiada e talvez até descartada, na visão de empresários do país.

Desde que foi eleito, há cerca de dez dias, Milei tem evitado mencionar o assunto como costumava fazer enquanto ainda concorria ao cargo. Agora, anunciou um economista que já disse algumas vezes que não acredita na dolarização para reequilibrar as contas, e sim no corte de gastos públicos.

Ao mesmo tempo, o homem que era considerado o "pai" do seu plano para acabar com os pesos e com a inflação, o economista Emilio Ocampo, recusou o convite para assumir o Banco Central justamente por discordar das posições de Caputo, segundo a imprensa argentina.

No geral, o mercado viu a escolha do novo ministro como mais um sinal da recente moderação de Milei. Apesar de não ser considerado um especialista em macroeconomia, já que sempre atuou no mercado financeiro, Caputo é visto como alguém experiente.

Ele foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central na gestão do ex-presidente Mauricio Macri, que, segundo os empresários, voltará a ter mais influência no governo. Mas eles não acham que esta será uma reedição de sua gestão, já que os nomes que estão voltando provavelmente "aprenderam com os erros do passado".

"A dolarização está descartada agora", afirma Eduardo Costantini, empresário argentino dos ramos imobiliário e financeiro conhecido por ser fundador do Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires). "Não se pode dolarizar sem dólares, e ninguém emprestaria esse dinheiro à Argentina. Caputo tem essa posição, e o mercado também", diz.

Para ele, Caputo sabe muito da dinâmica da dívida argentina, dos bancos e do FMI (Fundo Monetário Internacional), com quem o país firmou um acordo de empréstimo de R$ 44 bilhões, do qual o agora ministro participou na época. "Ele tem uma posição mais realista nesse momento, e isso é o que o mercado está vendo", afirma, citando também uma "evolução na atitude de Milei".

Segundo Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira, o ultraliberal "deixou de ser o candidato para ser o presidente eleito". "Minha leitura é de que a escolha de Caputo representa um exemplo a mais do pragmatismo de Milei", afirma ele, que concorda que a dolarização agora está mais longe.

"O próprio Milei já indicou que a Argentina não está em condições, não tem dólares suficientes para dolarizar. A chegada de Caputo também vai nesse sentido. Ele não é um partidário da dolarização, sua posição é de que, para equilibrar as contas, é preciso cortar gastos públicos, resolver a dívida imensa do Banco Central e colocar a economia para funcionar", diz.

É a mesma opinião de outro grande empresário do setor construtivo, que não quis se identificar. Ele declara que a confirmação de Caputo como ministro significa "claramente" que a dolarização está postergada, como já começou a ser falado quando seu nome começou a circular na última semana.

O economista Juan Telechea, diretor do ITE (Instituto de Trabalho e Economia da Fundação Germán Abdala), analisa que o mercado viu com bons olhos a chegada de Caputo também porque ele é considerado alguém que pode conseguir fundos novos nos mercados internacionais, o que será essencial para levar a cabo o projeto de ajustes de Milei.

"Apesar de ter subido nos primeiros dias, o dólar agora já está diminuindo bastante, e as ações e os bônus voltaram a crescer de maneira bastante forte", diz ele, para quem, com a chegada de Caputo também "indica que a dolarização se distancia, pelo menos no curto prazo."


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