SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Pedro Malan disse nesta quarta-feira (6) achar "difícil" que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alcance a trajetória de resultados primários propostos para 2024, 2025 e 2026 por causa de gastos já contratados e também em razão das dificuldades de aumento de receita em "uma magnitude significativa".
Para o próximo ano, a meta que está na proposta de Leis de Diretrizes Orçamentárias é zerar o déficit fiscal. Malan, contudo, reconheceu o empenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para organizar as contas públicas.
"Haddad está fazendo o melhor dos seus esforços, eu devo reconhecer isso, para mostrar que é possível. Acho que foi correta a decisão dele de não abandonar a meta fiscal", disse durante evento com gestores promovido pela RB Investimentos, em São Paulo.
Para o ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, o regime fiscal continuará sendo o "grande calcanhar de Aquiles" do Brasil pelos próximos três anos, e talvez até além disso.
Ele justificou sua fala citando uma pressão natural no país por aumento de gastos públicos por conta de questões relacionadas à demografia, à urbanização e ao envelhecimento da população.
Malan disse que fatores estruturais continuarão operando por "décadas vindouras" e impondo desafios para a economia do país.
"Eu digo isso sem nenhuma crítica, a maioria dessas pressões [por aumento de gastos] são legítimas, são expectativas de exercício de direitos, expectativas de direitos por adquirir, necessidades de lidar com a nossas mazelas sociais, distribuição de renda, riqueza, redução da desigualdade de oportunidades, que é a raiz da nossa desigualdade de renda e de riqueza", afirmou o ex-ministro de FHC.
Segundo o economista, a velocidade da urbanização no Brasil impõe cada vez mais a necessidade de aumento de investimentos em infraestrutura, transportes, energia, comunicações, além dos investimentos sociais em habitação, educação, saúde e mobilidade urbana.
"Há demandas que se colocam para governos", disse.
Malan também citou novas demandas sociais que surgem e que exigem investimentos.
"Essa pressão vem e vai continuar, e agora com algumas modificações importantes que me fazem olhar para um horizonte além de 2026, questões que eu gostaria que estivessem no debate desde agora", disse.
Entre essas questões que estão no centro das preocupações do ex-ministro para o país, segundo ele, estão os investimentos em educação, ciência e tecnologia.
SOCIEDADE NÃO PERMITIRÁ GOVERNO QUE INFLACIONE A ECONOMIA
Um dos responsáveis pela implementação do Plano Real, que controlou uma inflação histórica no Brasil entre o fim de 1980 e o início de 1990, Malan disse acreditar que, hoje, a "esmagadora maioria da sociedade brasileira" não permitirá que um governo volte a inflacionar a economia do país.
Segundo o ex-ministro, a população do Brasil já compreendeu que o controle dos preços significa a preservação do poder de compra de seu salário.
"Então, eu acho que um governo que permita a aceleração e a volta da inflação será punido nas urnas", afirmou.
"Posso estar enganado, mas depende lá de razões de quanto tempo demora para as pessoas perceberem que estão sendo garfadas por uma inflação não esperada, de repente, por decisões de um governo", disse.
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