BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Viajar para a Argentina pode ficar mais caro para os turistas nos próximos meses, com as medidas que o novo presidente Javier Milei está implementando para tentar baixar a inflação. O país vizinho, porém, deve continuar sendo um destino comparativamente barato para os brasileiros, dizem economistas.
Os pagamentos com cartão de crédito, antes desvantajosos em relação ao dinheiro, também deixaram de ser desfavoráveis, pelo menos por enquanto. Os especialistas ponderam que o dólar e os preços estão muito voláteis no país nesse momento, então ainda é difícil fazer a conta na ponta do lápis.
"Vir a Buenos Aires, Mendoza, 'Brasiloche', como chamamos Bariloche, vai seguir sendo barato para vocês brasileiros, mas não vai voltar a ser como foi nesse último inverno. O dólar ou o real vai valer o mesmo, enquanto os preços vão subir cerca de 25% por mês, nos próximos dois ou três meses", resume Andrés Borenstein, professor de macroeconomia da Universidade Torcuato di Tella.
A Argentina tem hoje muitas limitações para a compra de dólares e convive com várias cotações diferentes, a depender do setor.
São políticas usadas até aqui para tentar conter a fuga da moeda americana, já que a nação vive uma escassez histórica de reservas, causada por altas dívidas externas contraídas ao longo de suas diversas crises.
Para entender por que a viagem pode ficar mais cara, é preciso conhecer dois desses câmbios: o dólar oficial, que é usado em transações comerciais, bancárias e financeiras de grande volume, e o dólar paralelo "blue", que é o encontrado em espécie por turistas nas casas de câmbio paralelas e na Western Union, por exemplo. Ele não é controlado pelo governo, mas pela oferta e demanda.
Até a última terça-feira (12), a diferença entre esses dois dólares era muito grande ?o oficial estava custando 366 pesos, e o paralelo, mais de 1.000. O que Milei fez, na intenção de tornar a cotação oficial mais "real" e, mais para frente, unificar os câmbios, foi subir o dólar oficial a 800 pesos.
Isso significa que todos produtos e serviços vão ficar mais caros. Já começou uma onda de remarcação de preços em supermercados, lojas e postos de gasolina, uma vez que antes os valores estavam represados e controlados por acordos de preço feitos pelo governo de Alberto Fernández.
Ainda sem muita referência, porém, as porcentagens desses aumentos têm variado muito dependendo do produto, do fornecedor e do comércio na ponta.
Pois bem: apesar da subida da cotação oficial, o dólar ou real "blue", que continua sendo vantajoso para turistas, não cresceu tanto. Na última semana, mesmo com os anúncios econômicos do governo, esse dólar ficou em cerca dos 1.000 pesos, e o real, envolta dos 200 (apesar da alta volatilidade).
"As pessoas e as instituições financeiras não saíram desesperadas para comprar dólar. Há uma certa credibilidade pelos ajustes fiscais que o governo promete fazer, mesmo que ninguém saiba se vai de fato funcionar", explica Borenstein, que foi economista-chefe do BTG Pactual na Argentina de 2014 a 2020.
Em resumo, os preços estão subindo, enquanto o dólar e o real usados pelo turista estão se mantendo mais ou menos no mesmo patamar, o que encarecerá um pouco a viagem. Ainda assim, a diferença até agora não é tão grande a ponto de se precisar cancelar passeios ou evitar restaurantes, por exemplo.
"Esse aumento no câmbio oficial [determinado pelo governo Milei] afeta muito mais os argentinos do que os estrangeiros", diz o economista Ignacio Galará, do Centro de Estudos Monetários e Financeiros de Madri.
Ele lembra que outra cotação importante para o brasileiro é o chamado dólar MEP, usado em cartões de crédito, débito e internacionais.
Se até o início do ano fazer pagamentos usando esse meio era extremamente desvantajoso, atualmente essa cotação (1.004 pesos nesta quinta) está muito próxima do dólar "blue" em espécie (990).
"Não há grandes diferenças entre o MEP e o blue, é mais ou menos equivalente", afirma Hernán Letcher, diretor do Centro de Economia Política Argentina. "É o famoso tanto faz, como vocês falam no Brasil", diz Borestein.
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