SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os fabricantes brasileiros de colchões comemoram uma decisão do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) que deixou a comercialização do produto mais rigorosa no Brasil.
Com uma nova portaria do dia 5 de dezembro, que entra em vigor em 2 de janeiro, todos os colchões trazidos de fora do país deverão obter a chamada anuência para importação, medida que valida a entrada e a utilização dos produtos no Brasil.
A decisão representa uma vitória dos fabricantes nacionais ante a entrada massiva no país de produtos, sobretudo com origem chinesa.
O documento altera, por exemplo, a classificação de riscos econômicos e à saúde do consumidor do nível um para o nível três, o que aumenta o controle na venda.
Caso as determinações sejam desrespeitadas, a mercadoria poderá ser apreendida, com aplicação de uma multa que pode chegar a R$ 5 milhões, a depender do porte da empresa e do volume importado.
A Câmara Chinesa de Comércio do Brasil foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.
As medidas eram demandas do setor, que observa um aumento expressivo da concorrência de produtos importados da Ásia nos últimos anos. De janeiro a outubro de 2023, o Brasil importou 54.247 colchões, uma alta de 25,8% em relação ao mesmo período do ano passado (43.116 unidades).
O movimento começou em 2019, quando o governo dos Estados Unidos iniciou investigações de produtos chineses por práticas de dumping -quando a empresa exporta um produto a preço inferior àquele que pratica para o produto similar nas vendas em seu mercado interno.
Naquele ano, o Departamento de Comércio americano anunciou uma conclusão preliminar "de que exportadores da China despejaram colchões nos Estados Unidos com margens que variam de 38,56% a 1.731,75%".
Na época, foi colocada como medida de proteção à indústria americana um "antidumping" de até 1.072% de imposto de importação. A derrota acabou estimulando as fabricantes a buscarem outros mercados para os produtos, como o Brasil.
"Na contramão, o Brasil, cumprindo algumas questões na Lei de Liberdade Econômica, de 2019, liberou os colchões de anuência de importação", diz Adriana Pierini, diretora-executiva da Abicol (Associação Brasileira da Indústria de Colchões).
Antes da mudança, todo colchão importado que entrava no Brasil vinha acompanhado da anuência para importação, quando já se dizia se o item era certificado ou não, o que é obrigatório para produtos nacionais.
"A partir do momento que não tem a certificação dos colchões, não se pode afirmar que eles sejam produtos livres de riscos para o consumidor", diz Pierini.
A entidade estima que o setor é responsável por 120 mil empregos diretos e indiretos no país em mais de 339 fábricas.
Já o Inmetro calcula que os colchões importados chegavam para o importador brasileiro por um valor até 30% menor, ainda que essa diferença não se refletisse no preço final pago pelo consumidor.
"Eles chegavam mais baratos assim, pela diferença nos custos operacionais dos fabricantes no Brasil. Em 2020 e 2021, o governo passado fez a revogação que acabou com diversas regras do setor produtivo e isso dificultou o nosso trabalho", diz Márcio André Oliveira Brito, presidente do Inmetro.
Segundo Brito, o importador via vantagens no produto, por ser mais barato, mas sua qualidade era "péssima". "Os colchões tinham menos espuma do que determina o regulamento. Alguns chegavam a ter diferença de até 12%, quando a tolerância é de 1,5%."
A autarquia deve divulgar nos próximos dias uma lista de marcas de colchões aprovadas e reprovadas a partir de uma nova rodada de testes que terminam nesta quarta-feira (20).
Para Brito, outro ponto que dificultava o controle era a ausência de fiscalização. O orçamento do Inmetro teve uma redução de 60% no governo anterior e mais de 600 fiscais foram demitidos, afirma.
"Tinham criado um ambiente perfeito para fraude. Ainda não conseguimos restabelecer completamente as perdas, mas alcançamos uma recomposição de 40%."
Em 2021, o instituto chegou a divulgar documento alegando que o corte de verba dificultaria ações importantes, como a fiscalização de bombas de combustível.
A Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) também celebra a decisão do Inmetro. "Este é um exemplo de como o trabalho conjunto entre a iniciativa pública e a privada, neste caso entre a Abicol junto a seus associados e o Inmetro, podem gerar ações e regulamentações estratégicas e necessárias em nosso país", diz Irineu Munhoz, presidente da entidade.
Segundo Munhoz, agora, a disputa entre fabricantes nacionais e estrangeiros deve ficar mais equilibrada. "A Abimóvel espera ver cada vez mais ações como esta sendo colocadas em prática em nosso mercado."
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!