SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O hábito brasileiro de deixar tudo para a última hora é a principal aposta de comerciantes da região central de São Paulo para elevar ainda mais as vendas neste Natal.
A expectativa na 25 de Março, principal rua do comércio popular da capital paulista, é vender 15% mais neste ano em comparação com o mesmo período de 2022, e o movimento em alta tende a confirmar as projeções.
A reportagem da Folha de S.Paulo esteve na 25 e no Mercado Municipal nesta sexta-feira (22) e encontrou ruas e lojas cheias. Para este sábado (23), os lojistas apostam em movimento ainda maior de um público em busca de itens que vão desde presentes até frutas e carnes para a ceia.
A ideia é apelar para promoções e queimas de estoque, e chamar a atenção dos "atrasados".
O movimento no Mercado Municipal deste final de ano rivaliza com o da Páscoa, quando o preço do bacalhau em alta não afugentou o consumidor. No Natal, no entanto, as bancas de bacalhau estão vazias, e a preferência tem sido pela carne de poro.
O peixe salgado subiu 14,03% no último quadrimestre, de acordo com o IPC (Índice De Preços Ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A estratégia de muitas bancas que trabalham com o produto está sendo segurar o aumento do preço do para atrair a freguesia. Além do tradicional bacalhau gadus morhua, cujo quilo não sai por menos de R$ 100, os boxes oferecem outras opções de peixe salgado mais em conta, com valores a partir de R$ 89,90.
Já as bancas que trabalham com cortes suínos e bovinos estão lotadas na corrida pelo prato principal da ceia natalina. Silvio Oliveira, 52 anos, responsável por um dos açougues do Mercado Municipal, afirma que, desde o começo do mês, as vendas vêm aumentando com a clientela optando por carnes frescas.
"As vendas já se elevaram muito, estão ótimas. O que mais têm saído são os tradicionais cortes suínos, como pernil, paleta e lombo. O preço da mercadoria suína está estável desde o começo do ano, hoje é duas vezes mais em conta que a carne bovina e equivalente ao preço do frango."
Kauan Alex, responsável por uma banca que vende bacalhau e cortes suínos, afirma que o carro-chefe das vendas é realmente a carne de porco. "Nesse final de ano está saindo mais o tender do que o bacalhau. O pessoal prefere mais o pernil, que não tem em todo canto, assim como a paleta."
Diferentemente do bacalhau, cortes suínos tiveram uma variação negativa no quadrimestre, com o quilo do pernil com osso em queda de 4,85% e o lombo de porco com osso caindo 7,59%, segundo o IPC.
A procura por frutas também teve aumento no Mercadão, com boxes com grande movimentação de clientes e vendedores disputando a atenção deles. Carlos Alexandre Alves da Silva, conhecido como Juca, 41, afirma que esta reta final antes do Natal é sinônimo de aumento de suas vendas.
"Essa semana as vendas aumentaram ao menos 30%, mais do que o esperado, mas aposto tudo em amanhã [sábado, 23], que vai ser o dia de 'virar a mesa', porque com o brasileiro é sempre no penúltimo dia", diz, em tom de brincadeira.
O carro-chefe de venda de Juca é o pêssego, além dos cachos de uvas de vários tipos, que tiveram variação de 9,83% e -17,47%, respectivamente, de acordo com o IPC.
Na rua 25 de Março, a movimentação em alta entrega quem deixou as compras de Natal para a última hora. Os locais mais buscados são as lojas de eletrônicos, roupas, calçados e brinquedos.
Aline Silva, 26, atendente de uma das lojas da região, considerou o movimento desta sexta tranquilo perto de outros dias da semana. "Está tranquilo, mas alguns dias atrás estava bem mais movimentado", conta.
A aposta, no entanto, é em um sábado bem mais movimentado. "Mas amanhã vai lotar cinco vezes mais, capaz de ninguém conseguir andar na loja. Essa época do ano os setores de brinquedos são o que mais movimentam, e mesclam com as pessoas que já estão comprando os materiais para a volta às aulas de 2024."
Pierre Sarruf, diretor da Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências), afirma que a expectativa é que as vendas deste ano cresçam 15% em relação ao mesmo período do ano anterior.
"A 25 [de março] é o maior shopping a céu aberto da América Latina, com uma variedade de produtos a preços atrativos. A a cultura brasileira mostra certa necessidade de tocar no produto antes de comprar, e isso favorece as vendas", diz ele sobre a ida presencial a lojas ante o apelo do comércio online.
De acordo com pesquisa da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), feita em parceria com o Datafolha, o consumidor brasileiro prefere fazer as compras de Natal em lojas físicas.
Na região Sudeste, 68% dos consumidores preferem o atendimento presencial na hora de comprar presentes. O levantamento mostra que quanto mais velho o consumidor, maior a preferência por lojas físicas, com 81% entre pessoas acima de 60 anos e 64% entre jovens de 18 e 24 anos.
O levantamento indica ainda que o Natal de 2023 deve movimentar R$ 18,5 bilhões em compras de presentes no Sudeste, região que concentra o maior volume da projeção.
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