RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A inflação oficial do Brasil deve fechar o primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma variação próxima ou até igual à do ano inicial do governo anterior do petista, segundo projeções de analistas.
A mediana das estimativas do mercado financeiro indica alta de 4,46% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no acumulado de 2023, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na terça-feira (2) pelo BC (Banco Central).
Se essa previsão for confirmada, a taxa será a mesma que a registrada em 2007, o primeiro ano do segundo mandato de Lula. À época, a inflação também foi de 4,46%.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgará o IPCA fechado de 2023 na próxima semana, no dia 11 de janeiro.
Apesar da semelhança entre o número esperado para 2023 e o verificado em 2007, os contextos de cada ano apresentam diferenças.
Após registrar avanço de 5,79% em 2022, o último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), o IPCA desacelerou em 2023 sob impacto de fatores como a trégua dos alimentos. Os preços da comida tiveram alívio com o aumento da oferta de produtos a partir da safra agrícola no ano passado.
Já em 2007, ao marcar 4,46%, a inflação ganhou força ante 2006 (3,14%). No ano inicial do segundo mandato de Lula, o resultado foi puxado pelos alimentos, situação distinta da verificada em 2023.
À época, o clima desfavorável, o avanço das cotações de commodities e a demanda aquecida pelos produtos básicos dentro e fora do país teriam impulsionado a inflação da comida.
Não à toa, os preços da alimentação no domicílio fecharam o ano de 2007 com alta de 12,39% no IPCA. No acumulado de 12 meses até novembro de 2023, o quadro é inverso, com queda de 1,14%.
"O cenário de 2023 foi de uma desinflação ajudada pelo lado da oferta. Tivemos uma oferta maior de alimentos com a supersafra de grãos", afirma Andréa Angelo, estrategista de inflação da corretora Warren Investimentos, que prevê IPCA de 4,55% para o acumulado do ano passado.
Em 2024, o cenário para os alimentos deve mudar com o El Niño, projeta a analista. O fenômeno climático afeta a distribuição das chuvas, aumentando os riscos na agricultura.
Nos últimos meses, o Brasil viveu ondas de calor em regiões como o Sudeste e tempestades no Sul, o que ameaça reduzir a oferta dos produtos que saem do campo.
A Warren projeta aumento de 5,5% para os preços da alimentação no domicílio no IPCA de 2024, após estimativa de queda de 0,8% em 2023.
Já a alta dos preços administrados, categoria que inclui gasolina e energia elétrica, tende a desacelerar a 4,7% neste ano, após avanço previsto de 9,1% no ano passado.
Para o IPCA como um todo, a corretora prevê inflação de 4,2% em 2024, após a expectativa de 4,55% em 2023. "Sem o El Niño, esses 4,2% virariam 3,8%", aponta Angelo.
O economista Carlos Lopes, do banco BV, diz que o IPCA de 2023 foi impactado por uma combinação de pelo menos quatro fatores.
De um lado, o recuo dos alimentos, o fim dos choques que afetaram o abastecimento de insumos na pandemia e a perda de força da inflação de serviços, ainda que em ritmo lento, ajudaram a conter o índice no ano passado, afirma Lopes. De outro, a pressão dos itens administrados impediu uma desaceleração maior.
O saldo desses componentes deve ser um IPCA de 4,5% no acumulado de 2023, segundo a previsão do BV. Para 2024, o banco projeta uma taxa menor, de 4%.
A estimativa mediana dos analistas do mercado financeiro é de IPCA de 3,9% neste ano, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus.
"Em 2024, vamos ver uma inflação de alimentos voltando a acelerar, mas não será um baita choque", afirma Lopes. O BV espera alta de 3% a 3,5% para a alimentação no domicílio.
A série histórica do IPCA, divulgada pelo IBGE, aponta que o índice oficial de preços havia acumulado alta de 9,3% em 2003, o primeiro ano do primeiro mandato de Lula.
A taxa é maior do que a registrada no início do segundo governo do petista, em 2007. Também supera as previsões do mercado para 2023.
Mesmo com a variação de 9,3%, a inflação de 2003 desacelerou ante 2002, período marcado por eleições presidenciais no Brasil, vencidas por Lula. O IPCA havia subido 12,53% em 2002, a maior alta desde 1995 (22,41%).
Em 2002 e em parte de 2003, a inflação refletiu em grande medida os repasses da disparada do dólar para os preços de bens e serviços. A taxa de câmbio havia subido em meio ao temor de investidores com o resultado das eleições de 2002.
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