MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Após ser "expulso" de uma cidade em 2023, o grupo Carrefour vai abrir a primeira loja da marca brasileira Atacadão na França no primeiro semestre deste ano. A bandeira vai estrear em Aulnay-sous-Bois, uma pequena cidade que faz parte da Grande Paris, a 16 km do marco zero da capital.
A loja foi chamada de "projeto miserabilista" em um manifesto lançado por um político local, mas o documento parece não ter sensibilizado a cidade ?apenas 650 moradores assinaram, no esforço inicial de alcançar mil nomes.
Em março do ano passado, o Carrefour desistiu de abrir um Atacadão em Sevran, também na Grande Paris, após o prefeito criar um abaixo-assinado contra a instalação do mercado e chamar a ideia de "desastrosa".
Na vizinha Aulnay-sous-Bois, no entanto, o prefeito Bruno Beschizza, do partido de direita Republicanos, abraçou a ideia. Nem o prefeito nem o Carrefour na França responderam a pedidos de entrevista.
"A situação atual é que estão em andamento procedimentos de demissão e de reclassificação e também estão em andamento negociações entre o Carrefour e os sindicatos", afirmou à Folha o professor Mehdi Chtioui, responsável local pelo partido de esquerda França Insubmissa.
"Diante disso, os funcionários se cansaram de brigar e estão preferindo negociar amigavelmente", disse Chtioui. De acordo com reportagens da mídia francesa, o investimento necessário para a transformação da loja Carrefour em um Atacadão é de ? 10 milhões (R$ 53 milhões).
Da mesma forma que aconteceu em Sevran, houve um abaixo-assinado online lançado em Aulnay-sous-Bois. O texto-manifesto foi criado justamente por Mehdi Chtioui, em julho de 2023, quando os primeiros rumores da chegada do Atacadão passaram a ser comentados na pequena cidade.
No documento, Chtioui lista problemas como eliminação das prateleiras em favor da apresentação em paletes, qualidade e diversidade menores dos produtos, menores salários e prejuízo a compradores que viajam em transporte público, uma vez que a marca prioriza venda de grandes volumes.
"Nós, deputados, governantes eleitos e forças políticas de esquerda, funcionários e moradores, lançamos uma petição para dizer NÃO AO ATACADÃO!", começava o texto.
Em seu final, concluía: "Aulnay e os habitantes de Seine-Saint-Denis [departamento administrativo que engloba vários municípios] merecem mais do que este projeto miserabilista e de baixo custo, que ameaça o emprego, que abre caminho à utilização exclusivamente de automóvel, degrada a oferta comercial e impõe um modelo de consumo que vai contra as questões sanitárias e ecológicas".
Questionado sobre a razão de o Atacadão não ser bom para Aulnay-sous-Bois, Chtioui avalia que "essa marca vende a granel, o que não é adequado para uma população de baixa renda e muitas vezes sem carro". "Passaremos de 60 mil referências de produtos para 11 mil referências de produtos. Uma perda de escolha. Finalmente, os produtos serão de qualidade inferior."
Segundo um assessor do prefeito de Aulnay-sous-Bois, o Atacadão é "uma solução alternativa e contemporânea ao modelo decadente dos hipermercados" e se adaptará "à área de influência específica de Aulnay, uma localidade que conseguiu preservar um rico tecido comercial e que tem uma grande diversidade social, ao contrário de Sevran".
A ideia de levar a marca brasileira à Europa foi uma das metas apresentadas pelo CEO mundial do grupo, Alexandre Bompard, para o ano de 2023.
Na ocasião, ele disse que a marca, que tem o formato mais agressivo de descontos do grupo, "funciona muito bem no Brasil". E forneceu detalhes: "No Atacadão, não vamos ultrapassar 10 mil produtos, contra até 60 mil nos hipermercados, e proporemos preços muito baixos".
Maior atacarejo do Brasil em número de lojas, a rede fechou 2022 com 374 unidades no Brasil, um incremento de 50% em relação a 2021. Estima-se que a marca, comprada em 2007 pelo Carrefour por US$ 1,1 bilhão, responda por cerca de 70% do faturamento do grupo no país.
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