SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, começa nesta terça-feira (30) a primeira reunião do ano que irá definir a Selic (os juros básicos). O anúncio será feito na quarta (31), e a expectativa do mercado é de continuidade da redução da taxa, hoje em 11,75% ao ano.

Se a tendência se confirmar, esta será a quinta queda consecutiva, desde que o ciclo de redução teve início, em agosto de 2023.

Com a redução esperada de 0,50 ponto percentual, a Selic irá para 11,25% ao ano e ficará no patamar mais baixo em quase dois anos.

A taxa básica de juros passou por um ciclo de 12 altas consecutivas de março de 2021 a agosto de 2022, respondendo ao aumento nos preços de alimentos, energia e combustíveis. Depois disso, ela ficou congelada no patamar de 13,75% até agosto do ano passado.

Antes do início desse ciclo de alta, a Selic chegou a ser reduzida a 2% ao ano, devido à contração econômica gerada pela pandemia de Covid-19.

De acordo com o boletim Focus, divulgado nesta terça, o mercado espera que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo) termine 2024 em 3,81% -na semana anterior, a previsão era de 3,86%.

Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, há uma ideia de convergência na queda dos juros, com uma inflação que está caminhando bem e uma atividade que está desacelerando, o que ajuda na busca de uma inflação menor.

"O que eu gostaria de ver na ata da reunião é um ponto de preocupação em relação à questão fiscal. Por mais que o governo sinalize que irá entregar um déficit público neste ano menor do que em 2023, ainda assim é um déficit. Em março ele deve ser discutido como maior do que o apontado pelo novo regime fiscal, com outros riscos que aparecem", diz.

Entre essas dificuldades, ele menciona a necessidade de o governo encontrar novas fontes de arrecadação. "E também [tem] essa política industrial que apareceu que não implica em gastos ou despesas, mas que envolve o BNDES e cujas versões anteriores representavam um risco que o BC acompanhou", afirma

Na avaliação de Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, apesar da surpresa positiva no último IPCA-15, a inflação no setor de serviços continua pressionada, o que diminui o espaço para um corte de juros diferente de 0,50 ponto agora. "A gente deve ter uma Selic chegando em 9,25% até o fim do ano, e os cortes só devem voltar a acontecer em 2025, quando os juros devem chegar a 8,5% ao ano."

O economista André Perfeito concorda que a redução nesta quarta-feira deve ser de 0,50 ponto, dado que o IPCA-15 veio abaixo das expectativas. A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,31% em janeiro, após marcar 0,40% em dezembro.

"Levando em conta a dinâmica de curto prazo da inflação, tem espaço para o corte de juros continuar. Mas há um limite de corte de juros, não. Acho que vamos ter uma Selic de 9,75% ao ano até o fim de 2024, acima dos 9% ao ano projetados pelo Focus", diz.

Apesar de prever um crescimento de 2,2% para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2024, ele ressalta que há uma preocupação fiscal que está ficando mais clara, o que deve limitar a queda dos juros até o fim do ano.

Em nota, Sérgio Goldenstein, estrategista Warren Investimentos, afirma que o comunicado do BC deve repetir a mensagem de que os membros do Comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões, avaliando que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

"Desde a última reunião, não houve alterações relevantes da dinâmica inflacionária, das expectativas, das projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos que justifiquem uma sinalização divergente das anteriores."

Também em nota, Pedro Oliveira, do Paraná Banco Investimentos, diz que o cenário internacional ainda é incerto, com os BCs ainda cautelosos em dar como ganha a batalha contra inflação. Ele avalia que o Copom deve manter o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual até a reunião de setembro, a qual deve acontecer um último corte de 0,25 ponto percentual, finalizando o ciclo de queda da Selic em 9%.

Já para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a trajetória de cortes deve se manter até metade do ano, sem indícios de aceleração, dada a expectativa de inflação ainda acima da meta, de 3% para este ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

JUROS CAUSARAM ATRITO ENTRE LULA E PRESIDENTE DO BC

A queda de juros era uma demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que por diversas vezes reclamou do patamar elevado da Selic, em críticas públicas à atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Campos Neto foi indicado para comandar o BC ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL). Após a autonomia do banco ser aprovada, o mandato do presidente da instituição passou a não coincidir com o do Presidente da República.

Em dezembro passado, na véspera da última reunião do Copom, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fizeram declarações para pressionar o BC a reduzir os juros.

"Temos de mexer com o coração do presidente do BC [Roberto Campos Neto]. 'Reduz um pouco os juros que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado. Os governadores podem ajudar", disse Lula ao discursar em evento sobre investimentos de bancos públicos nos estados.

"O presidente não tem faltado, tem chancelado decisões tomadas pela área econômica, no sentido de construção de uma economia robusta e sustentável", disse o ministro durante reunião do chamado Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e Sustentável.

No último dia 23 de janeiro, em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura, o ministro abrandou o tom e reforçou que a relação com o presidente do BC foi pacificada.

"Roberto Campos Neto não sai do churrasco lá da Granja do Torto, já foi convidado para ir para o [Palácio da] Alvorada. Então, está tudo em paz." Sobre a mudança de presidente da instituição, Haddad afirmou que um dos diretores indicados por Lula poderia vir a presidir o BC.

Em dezembro, Lula nomeou o professor de economia Paulo Picchetti e o servidor Rodrigo Alves Teixeira para ocupar duas vagas na diretoria do Banco Central até 31 de dezembro de 2027. Os dois novos integrantes poderão participar do primeiro encontro do Copom de 2024, nesta semana.

O primeiro dia de reunião do Copom é dedicado a anúncios técnicos, com apresentações sobre a evolução e as expectativas para a economia brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, o colegiado faz um balanço final e define o novo patamar da Selic.


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