Música é instrumento de sensibilização A boa música vem sendo mal utilizada por pais e educadores, que perderam o hábito de cantar e dançar para contribuir com a educação das crianças
*Colaboração
25/06/2008

Musicoterapeuta, atriz e cantora, Bia Bedran explica a importância da música para o ensino infantil. Segundo ela, a música faz parte da vida do ser humano desde que ele está na barriga da mãe e o acompanha até a morte.
Para Bia, ensinar música na escola é algo que vai além de fazer melodias que facilitem o aprendizado de conteúdos escolares.
"Até funciona, mas não é a função maior da música na escola. A música é muito
mais importante na formação do ser, ela é um instrumento de sensibilização do
indivíduo"
. A musicista acrescenta que o importante é que os professores levem
aos seus alunos as cantigas e acalantos do cancioneiro popular para que a criança
usufrua do que é belo.
Bia chama a atenção para a participação dos professores na educação musical
infantil. "A mídia mostra uma música que não é legal, então, o professor hoje
tem uma responsabilidade ainda maior, ele tem que saber cantar e dançar.
Esse é um instrumento fantástico na educação"
, ressalta.
Ela acrescenta que o professor deve trabalhar todos os sons de forma a equilibrar
a música externa e interna da criança. "Cantamos para orar, para brindar, para
amar, então, quando a gente usa esse material sonoro dentro de sala de aula para
fazer um trabalho de integração dessa música externa com a interna, a música
ganha um caráter formador"
.
Boa influência
A musicista frisa que é importante o jovem educador que não conheça as cantigas
de roda, fazer uma pesquisa séria, ter um acervo de bons exemplares musicais para
que sua influência seja positiva. O mesmo serve para os pais.
"A criança conhece o ambiente musical ao redor. Ela ouve o som dos passarinhos
ou dos engarrafamentos ou dos tiros... às vezes tudo isso junto. E também recebe
o som que os pais levam para ela. Se os pais só levam música ruim, o paradigma
dela vai ser esse"
.
Uma dica que Bia dá aos pais é que eles contêm histórias que com
musicalidade. E se o talento do papai e da mamãe para trazer essa musicalidade
para os pequenos, ela já vai logo dizendo: "muitos artistas têm repertório voltado
para crianças"
.
Apesar de haver esse segmento específico de músicas de qualidade para crianças,
Bia garante que não é preciso que as canções sejam infantis porque a música popular
brasileira é muito rica e "a criança consegue usufruir do que é belo e do que
é porcaria também"
, diz.
Exercício diário
Bia Bedran ensina que a música não pode ficar restrita ao dia da aula de música,
tem que ser um exercício diário. "É importante que tenha o momento de ouvir
a música erudita, de deitar no chão, ouvir estilos de música variados, se deixar
penetrar pelos sons. É uma construção cotidiana"
.
Há estudos feitos nos Estados Unidos e na Europa que comprovam cientificamente que crianças educadas com boas músicas apresentam desenvolvimento físico melhor, segundo Bia. A música trabalha a movimentação corporal e psicomotora, que é fundamental para o seu desenvolvimento, em especial, hoje em dia, que as crianças passam boa parte do tempo em frente ao computador.
Sendo responsável pela sensibilização do indivíduo, a música
"toca a alma"
,
como diz a cantora para quem a música é "um toque de afeto que acalanta, faz
lembrar, voltar no tempo, ir para o futuro"
.
Para a especialista, iniciativas como as bandinhas, comuns em décadas passadas, são muito eficazes, porque organizam e dão orgulho à criança que aprende a tocar um instrumento e a hora certa de entrar e fazer um bom trabalho de equipe. A bandinha é educadora e socializadora.
Bia Bedran reforça a importância do diálogo com a barriga durante a gestação e
das cantigas de ninar para o desenvolvimento do gosto musical. "A criança se
reconhece quando ouve uma boa música infantil, bem tocada. Ela tira os pezinhos do cotidiano
e volta. Ela sai, olha ao redor e retorna para dentro de si"
.
Críticas
Bia Bedran faz algumas críticas ao cenário músico-educador nacional. Segundo ela,
grandes nomes da música brasileira, que têm muito a acrescentar na educação infantil,
não são bem aproveitados. Em alguns casos, nem são divulgados.
Ela comenta que tem muita gente boa produzindo esse tipo de música. "São pessoas
talentosas do Rio, de São Paulo, de Minas.. inclusive de Juiz de Fora, que não
aparece porque a mídia só toca os sucessos do momento"
, diz.
Outra crítica é à própria educação acadêmica. "Não há uma disciplina na faculdade
que ensine música"
, lamenta. A musicista lamenta também que a música erudita
não seja mais tão trabalhada porque como ela não tem letra, o professor tem que
ensinar os sentidos ocultos da música.
*Marinella Souza é estudante de Comunicação da UFJF