Por uma pedagogia do corpo
De modo introdutório o presente texto ao abordar a temática do corpo e para tal pretende-se aqui, mesmo que brevemente, traçar um paradigma histórico no que tange a temática referida. Platão trata de “uma antropologia dualista”, ou seja, o humano, enquanto tal é constituído de duas substâncias que não se combinam, a saber: alma e corpo. Via no corpo a fonte do mal, pois através dele o homem era impedido de elevar o seu conhecimento devido às pulsões amorosas. E a alma era vista como princípio de movimento para o conhecimento das coisas verdadeiras que se encontram no Mundo das Ideias. Com Aristóteles surge à possibilidade de superação do dualismo, que permite definir, portanto, a alma como forma (do corpo, que é a matéria) e como ato. Para Aristóteles, a alma e o corpo coincidem de tal modo que um não sobrevive sem o outro. Assim, formam uma unidade substancial na qual a alma é ato perfeito do corpo.
Dando um salto para a modernidade, Descarte vai introduzir a compreensão de Res cogitans- substância pensante no qual a essência consiste em pensar. O corpo seria uma coisa extensa e / ou substância material, Res Extensa. Descartes aponta para o “dualismo psicofísico” de um lado a mente, cérebro, consciência, pensamento, alma e de outro o corpo, submetido às leis da mecânica, e como em Platão um entrave para as realizações humanas.
Eis a problemática introduzida por Descarte na Modernidade, isso desdobrará, de um lado, a tradição idealista, dualista e negativista da corporeidade – racionalismo, e de outro lado, a tradição empirista, resgata o corpo, mas reduz a percepção a simples resultado de certos processos físicos e fisiológicos. Grosso modo, esta dicotomia entre as correntes filosóficas em distinguir o pensamento- coisa pensante, da res extensa- do corpo propriamente dito renderá um profundo e longo debate histórico- filosófico que nos permeia até os dias de hoje.
Fenomenologia de merleau-ponty
Para a fenomenologia, o conhecimento se dá na relação sujeito-objeto ou consciência e mundo. A consciência é sempre consciência. Isto é intencional e o mundo é sempre mundo para uma consciência. O filósofo Merleau-Ponty nega o fato de que puramente a percepção seja uma operação intelectual, como pretendia o projeto da filosofia moderna, considerando-a um modo de acesso ao ser. Influenciado pela obra de Edmund Husserl, Merleau-Ponty em seu “projeto” procura dar carnalidade à consciência intencional.
Para Merleau-Ponty, estar no mundo só é possível mediante o corpo. Como por exemplo, “para aprender a dançar, o corpo pega uma significação” ou qualquer outra atividade, como dirigir, aprender a tocar um instrumento, etc. o que advém desta compreensão é que o corpo não é um objeto- partes extras partes, ou meramente uma extensão, e sim uma totalidade (unidade) que me permite ser, amar, odiar, rezar, tomar posse, estar no mundo, morrer e, fundamentalmente, conhecer. Podemos nos direcionar para compreensão de que o corpo é condição de possibilidade e fundamentação para compreensão humana de mundo. Podemos, desse modo, pensarmos numa pedagogia do corpo.
Pensemos nessa breve reflexão!
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