Ailton AlvesAilton Alves 13/7/2009

Porque era sábado

Mascote do TupiNunca gostei de sábados, nem quando os embalos eram à noite. É o dia mais inútil da semana e, como dizia Vinícius, “deveria ter sido riscado do Livro das Origens”. Aos sábados os bares ficam cheios de amadores. Doravante, por força da lei, ficarão piores: amadores e não-fumantes. O papo vai girar em torno de um link no site “Salve as Baleias”, que ensina como chegar à Amazônia e respirar o ar mais puro do planeta. Enquanto conversam, vão – os que gostam de pureza – pedir aquela picanha na pedra, fumegante, que espalha fumaça em todo o ambiente, e ainda respinga gordura no copo. Depois vão sair pela cidade com seus carros possantes, aqueles que fazem muito barulho e soltam na atmosfera gases letais – esses que, dizem, estão acabando com a camada de ozônio (seja lá o que isso for).

Jamais, tampouco, compartilhei desse frenesi do final de semana, aquela excitação das 18, 19 horas de sexta-feira, quando as pessoas acreditam piamente que estão entrando num portal de felicidade e glória, duradoura até as 20, 21 horas de domingo, como se não tivesse valor nenhum o período entre as segundas e quintas-feiras.

Os finais de semana, pois, só fazem sentido quando tem jogo do Tupi. Senão, são tão estranhos como “sábado sem sol, domingo sem Missa e segunda-feira sem preguiça”. Dias de tédio, sossegos que não queremos.

E os sábados, agora, só têm graça porque o Tupi – por conta da absurda “necessidade” de fugir da concorrência dos jogos dos cariocas – resolveu marcar suas partidas pela Série D para esse dia da semana.

E porque era sábado, estavam lá, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, as mesmas 1.300 pessoas que estariam no domingo à tarde: a elite – no bom sentido da palavra – Carijó. Para elas não importa o que acontece no resto do mundo do futebol.

E porque era sábado, o Tupi estreou vestimenta nova, com listras negras mais largas, belas.

E porque era sábado, havia a intenção de um espetáculo de gala.

E porque era sábado, apareceu um juiz para atrapalhar, e também zagueiros adversários que insistiam em complicar.

E porque era sábado, havia uma tensão no ar, uma profunda discordância entre o querer e o fazer.

E porque era sábado, alguns espíritos de porco começaram a vaiar, como se aquilo fosse um feriado.

E porque era sábado, algumas bolas eram difíceis, outras fáceis. Até que uma delas, absolutamente imprevisível, começou um bate-rebate e parou nos pés do craque – e daí para as redes.

E porque era sábado, houve aquela sensação de querer mais. Uma bola que nem chegou a ser endereçada, outra que bateu na trave e as inúmeras que o goleiro barrou.

E porque era sábado, baixou a vontade de beber sem se dar conta. Só  para comemorar a liderança, sem perspectiva de domingo.   

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Desde o último sábado, faltam 14 jogos e 112 dias para o Tupi ganhar seu primeiro título nacional.




  Ailton Alves
é jornalista e cronista esportivo
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