Guerreiros do asfalto

Ricardo Corr?a Ricardo Corr?a 09/05/06

A ?poca ? de Copa do Mundo. S? olhar no calend?rio: falta menos de um m?s para a disputa do maior campeonato de futebol do planeta. Mas ao mesmo tempo algumas competi?es em Juiz de Fora e pelo Brasil chegam em sua reta final. Se o Tupi, faltando poucos jogos, est? pr?ximo de uma vaga na Primeira Divis?o de 2007, tr?s dos clubes cariocas, grande paix?o dos juizforanos, entram em um momento decisivo na segunda competi??o mais importante do pa?s: a Copa do Brasil.

Mas ainda assim vou usar, dessa vez, o espa?o n?o para falar de futebol. N?o falarei da paix?o que levou mais de 10 mil pessoas ao Est?dio Municipal no domingo, nem da que levar? milhares de pessoas a correr ?s lojas para comprar uma televis?o maior, mesmo sem dinheiro, s? para ver melhor os jogos da Copa do Mundo.

Direi de um universo onde gira muito menos dinheiro, do qual se fala muito menos e que, essencialmente, ? formado por pessoas comuns, com vida comum e que fazem do esporte um modo de sobreviv?ncia n?o ?nico, mas complementar.

A primeira vez que v? uma mat?ria sobre corridas r?sticas, muita gente acha estranho. Porque os nomes dos patrocinadores entre par?ntesis logo ap?s o nome do atleta? Porque o tratamento diferenciado se na maioria dos outros esportes isso n?o acontece.

Em primeiro lugar diria que a diferencia??o ? justa. Justa porque, nas corridas r?sticas est?o atletas que, sem nenhum apoio, buscam uma supera??o pessoal, que n?o tem s? a ver com os resultados mas com a paix?o pela atividade f?sica.

Corredores de r?stica, que s?o trabalhadores comuns no dia-a-dia, costumam acordar bem mais cedo para treinar. Juntar patroc?nios ?nfimos para conseguir competir em uma prova, e renovar, a cada metro, a cada passo, a esperan?a de que as coisas um dia podem melhorar.

No suor de Andril?ia do Carmo, Geraldo de Assis, Lu?s Claudio da Silva "27", Viviany Anderson e muitos, muitos outros desses que passam o fim de semana correndo por a?, est? a encarna??o da supera??o de um atleta. ? neles que est? a prova de que ? o esfor?o ?nico e exclusivo de uma pessoa que est? de fato relacionado o sucesso ou o fracasso em um objetivo.

Claro que existem os mais e os menos aptos. Existem aqueles que possuem condi?es financeiras para treinar mais, ou que s?o preparados desde pequenos para praticar esportes. Mas nesses corredores de r?sticas, muitos que come?aram j? com uma certa idade, est? a prova de que nunca ? tarde para encarar um desafio.

Ao pensar que ? necess?rio para um corredor de r?stica juntar quatro ou cinco patroc?nios simplesmente para conseguir disputar suas provas, ainda tendo que seguir em seu outro emprego para sobreviver, podemos at? pensar que o esporte, como neg?cio, n?o vale a pena. Mas isso n?o ? mais do que uma das provas de que nossa sociedade ? injusta, cruel e pouco solid?ria. Que n?o reconhece os esfor?os e que premia n?o quem enfrenta um desafio, mas que est? presente em um contexto de muita divulga??o. Culpa mais uma vez dos empres?rios, da imprensa de um modo geral, e de n?s todos, brasileiros, que poder?amos muito bem ser apaixonados pelo futebol, mas sem se esquecer de que tem gente que est? muito mais perto, merecendo aplausos. Ou ent?o eles v?o parar de correr e teremos menos exemplos de vida para seguir.