Deus ? Alvinegro! Milagre ou n?o, o Tupi est? de volta ? Primeira Divis?o

Ricardo Corr?a
R?porter
29/05/2006
 

Deus ajudou e Juiz de Fora parou. Por cinco minutos, ap?s o fim do jogo do Tupi, para ver o drama do Uberaba, e por horas, depois, para ver o Tupi passar. Em carreata, de trio el?trico e carro de bombeiro. Quem diria! Dois anos depois, o Galo trocou os cambur?es pelos carros de festa. A tens?o, as vaias e os protestos pelos aplausos. E mais um cap?tulo da hist?ria de amor e ?dio, por?m com muito mais amor, de Juiz de Fora com o Carij? foi escrito.

Milagres acontecem no futebol, mas por esse poucos, de fato, esperavam. Tanto que dos 10, 12 mil pagantes que costumavam ir no Municipal em dia de jogo, apenas mil e quinhentos, mais ou menos isso, apareceram para a despedida. Era para a ser a despedida do campeonato deste ano. Mas foi mais do que isso: a despedida do Campeonato Mineiro do M?dulo II. Agora, o Tupi volta a representar a cidade na Primeira Divis?o dos Profissionais. Pena ter que esperar at? 2007 para que os bons tempos comecem.

Antes deles, drama. Muito drama. O Tupi, que j? teve a classifica??o perto das m?os, e longe das esperan?as, entrou em campo quase eliminado do hexagonal final. Quase. O time precisava vencer por dois gols de diferen?a, em seu jogo contra o Juventus, de Minas Nova, e ainda contar com a sorte para que Uberaba e Mamor?, mesmo jogando em casa, n?o vencessem suas partidas. E foi o que aconteceu.

O Carij? entrou meio atrapalhado, sem muita objetividade, mas correndo atr?s do que precisava. E conseguiu ainda no primeiro tempo. Depois de uma bobeira do goleiro advers?rio, que entregou a bola na cabe?a de Felipe, a torcida Carij? foi ao del?rio, aos 37 minutos. Mas durou pouco. Muito pouco a alegria. Logo dois minutos depois o Juventus empatou e Felipe passou de her?i a vil?o. Foi expulso e deixou o Carij? com apenas dez jogadores em campo.

Foi o suficiente para que o torcedor perdesse a cabe?a. Na verdade, a paci?ncia andava t?o curta quanto a esperan?a no Est?dio Municipal Radialista M?rio Hel?nio. Na sa?da para o intervalo, ambas desapareceram. Mas um tempo respirando, os resultados acontecendo nas outras partidas e o torcedor resolveu dar mais um voto de confian?a ao time.

Quem saiu vaiado no intervalo, voltou aplaudido. E fez por onde. Depois de uns minutos de sonol?ncia e algumas mexidas do t?cnico Z? Lu?s, o Galo fez um e depois outro. Aos 13 e aos 29. Primeiro com Leandro Guerreiro, ap?s ?tima jogada de Allan. Depois do pr?prio Allan, que n?o se conteve e caiu no gramado ap?s o gol salvador. N?o foi do t?tulo, que ficou com o Rio Branco, mas nessa ocasi?o ? como se fosse.

Sufoco, susto, tens?o. Drama! Depois de conseguir o que precisava, reverter tudo o que estava contra, o Tupi precisava se segurar. O tempo foi passando, o Juventus apertando, mas a bola ?a batendo daqui, dali e n?o entrava. Era a prova de que a sorte definitivamente tinha mudado de lado, enfim...

Quando o juiz apitou o fim do jogo o que se viu foi uma meia-festa. Tanto em campo quanto nas arquibancadas. Vibra??o contida, afinal ainda faltava terminar o outro jogo. Foram cinco minutos a mais de sofrimento. Jogadores ajoelhados, rezaram. Mudaram de fun??o. Agora eram como os outros mil que se acotovelavam perto dos radinhos nas arquibancadas. Torcedores. Assim, dif?cil diferenci?-los entre jornalistas, dirigentes e demais pessoas envolvidas na ocasi?o. Rostos tensos, l?grimas nos olhos. Sil?ncio, o barulho do r?dio. Chiados longes, dif?ceis de disting?ir.

Momento ?mpar. Nunca se viu e dificilmente nunca se ver? algo como aqueles cinco minutos no Est?dio Municipal. O tempo foi suficiente para que jogadores, torcedores, jornalistas, dirigentes, trabalhadores, todos pudessem entrar em um s? pensamento. Ser?? Foi.

Explos?o de alegria. Abra?os, choro. Gritos. Palavr?es. Palavr?es de amor... Desses que s? valem para o futebol.

Port?es abertos, invas?es do gramado. O que j? se parecia, se misturou. A festa ganhou um contorno ?nico. Era tudo uma coisa s?. Uma alegria s?. Um al?vio s?. J? n?o existiam mais as grades que separavam o suor dos jogadores, da l?grima do torcedor.

Atr?s do trio-el?trico

Atr?s, na frente, em cima, do lado do trio-el?trico s? n?o foi para quem, a esperan?a, j? tinha morrido. Ao fim da partida, os corajosos que ficaram ou pegaram carros e entraram na carreata, ou subiram no caminh?o de bombeiros mesmo, junto com alguns jogadores. A maioria dos atletas veio atr?s, no trio-el?trico, com microfone na m?o, comandando, eles mesmos, a alegria alvinegra. Bem diferente do que se viu em 2004, quando o Galo deixou o Municipal e a elite do futebol mineiro de cambur?o. Nada como um dia ap?s o outro. Elencos mudaram, torcedores n?o. Talvez por isso a emo??o foi t?o grande. Haviam entre aqueles os que protestavam h? dois anos antes e s? agora podiam expressar exatamente o que estavam sentindo. Aplaudindo os jogadores, viveram seu dia de gl?ria.

O goleiro El?dio, o mais festejado em todos os jogos, foi tamb?m o primeiro a se juntar ? festa do lado de fora do gramado. Dali, explicou, com uma hist?ria simples, que aprendeu em casa, como o time n?o desistiu da disputa. El?dio contou a hist?ria do cavalo que caiu em um buraco, a mesma que contou aos jogadores no momento mais dif?cil que o time viveu no campeonato. Dos ensinamentos da fam?lia simples do goleiro parecem ter vindo as for?as que ningu?m mais sabia existir para que a situa??o mudasse.

Na hist?ria de El?dio, um cavalo cai no buraco e ningu?m consegue tir?-lo e l?. Tentam de tudo, mas depois desistem. Decidem ent?o jogar terra para enterr?-lo. A cada p? de terra que cai, o cavalo sacode, a terra cai no ch?o e ele soca com as patas. Assim, o buraco vai diminuindo, e o cavalo sai. N?o precisa dizer mais nada.

Fora do buraco, ? o Galo que agora teria um longo caminho, bem mais agrad?vel do que o que viveu dentro dos campos nos ?ltimos meses. Agora o ?nico desafio era escapar de fios, ?rvores e bandeirinhas de Copa do Mundo, de cima do trio, na carreata que tinha como destino o Centro da cidade.

Com dezenas de carros atr?s, a carreada Carij? mandou todo mundo para a janela no caminho. Crian?as acompanhavam de bicicleta. Sabe-se l? como voltariam para um lugar t?o longe depois. Descer era f?cil. Subir, eles provavelmente nem lembravam que teriam que fazer. Um torcedor foi al?m. Desceu correndo, ? p?. At? o Centro. Foi quando permitiram que ele subisse no caminh?o de bombeiros e curtisse a festa, mais confort?vel e de novo ?ngulo.

De l? ele viu, em bares, nas janelas, nos pr?dios, nos passeios, um monte de gente feliz, aplaudindo e transmitindo o sentimento que Juiz de Fora nutre por seu ?nico representante no futebol profissional. Luzes piscaram ao pedido de jogadores. Pedidos de sorriso eram retribu?dos. A senhora que faz o sinal de positivo com o dedo. O homem que balan?a a camisa. O gar?om que grita de emo??o e vai acompanhando o trio, deixando as mesas ? espera de atendimento.

Pela Rio Branco, Independ?ncia, ruas do Alto dos Passos, Paulo Frontin. A festa chegou at? a Pra?a da Esta??o, quando os jogadores desceram e foram para um restaurante comemorar a vit?ria. Os torcedores ficaram do lado de fora. Ou foram para casa, para o bar ou para qualquer lugar. Foram comemorar o fim de um pesadelo. E o in?cio de um sonho.