O papel do perito criminal
Ele trabalho com fatos, raciocínio e utiliza a esperteza e o cuidado
para levantar todas as
pistas de um crime
Repórter
28/04/2008

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O trabalho é dinâmico, sem rotina, exige paciência, atenção e raciocínio apurado.
Além disso, é anônimo. "O que mais importa não é o trabalho da perícia, mas
seu resultado final, um laudo bem feito e aceito pela justiça"
, explica o perito criminal da 7ª
Delegacia Regional de Polícia Civil, Paulo Varela.
A profissão é considerada de extrema importância na solução de crimes de qualquer natureza,
auxiliando nas investigações e no processo judicial. "A perícia contribuiu para
a solução de todos os crimes mais complexos de Juiz de Fora. Ela é fundamental, pois
um exame e laudo bem feitos levam a uma pena justa"
.
O dia-a-dia do perito está nos locais onde os crimes acontecem. Por isso, não há rotina
e eles trabalham em esquema de plantão. "Não tem hora para o crime acontecer"
.
Eles buscam sinais que
levem à materialização do crime, na tentativa de definir quem cometeu a infração.
Para chegar ao laudo, os profissionais passam por algumas etapas. Primeiro, são feitas
análises de campo e laboratoriais. A partir do que foi coletado, acontecem as análises
técnicas e científicas, utilizando a ajuda da
matemática, química e biologia. Depois disso, todo o estudo é transferido para o papel,
o chamado laudo pericial.
Para estar atento a tantos detalhes, o perito passa por um curso de formação específico, após ser aprovado em concurso público, que exige formação em curso superior em qualquer área. Varela é graduado em Direito e estudou durante seis meses no curso preparatório na academia da Polícia Civil em Belo Horizonte. Durante este período, aprendeu noções sobre criminalística, teve aulas de fotografia, desenho e redação técnica.



Varela está há 27 anos na profissão e passou por cursos de aperfeiçoamento, necessários
para apresentar, aos profissionais, os novos equipamentos, fundamentais para a
solução dos crimes. Entre eles estão o computador, que aumenta a imagem de documentos.
"O que fazíamos com lentes de aumento, agora jogamos para o computador. Com ele, aumentamos
a imagem e conseguimos perceber se algum documento sofreu alteração, por exemplo.
Vemos o que o olho não enxergaria"
, diz.
Nos laboratórios há equipamentos de alta tecnologia que permitem verificar a presença
de manchas orgânicas em qualquer local. Essas manchas podem ser de suor, urina, esperma,
sangue e saliva. "Fazemos isso através de luzes especiais"
, completa. Entre os cuidados
não estão somente aqueles que vão contribuir para a solução do caso, mas também os que vão
garantir a segurança dos profissionais. "Se for um lugar em que há risco
temos que usar luvas, capacetes e calçados apropriados"
.
Dificuldades
Como qualquer profissão, a de perito também oferece algumas dificuldades. Uma delas é a dificuldade
em preservar a cena do crime para a perícia trabalhar. "As pessoas não colaboram nesse
sentido ou preservam de forma inadequada"
. A dificuldade é apontada por Varela,
porque os peritos raciocinam com base no que verificam no local. "Se algo for modificado,
podemos ter um raciocínio errado"
, comenta.



Este fato explica o regime de plantão que os peritos precisam cumprir. O ideal é que
a perícia chegue ao local imediatamente. Mas Varela vai mais longe. "É bom que a
perícia seja feita rapidamente, mas o mais importante é que o lugar seja preservado"
.
Dessa forma, os peritos evitam que as marcas do crime tentem ser apagadas.
Outra dificuldade apontada pelo profissional é a falta de investimento em equipamentos.
A maioria deles é importado. "O crime evolui e a polícia também deve buscar processos mais sofisticados.
Ela não pode ter meios mais arcaicos que o crime"
. Para Varela, o futuro da
polícia judiciária está calçado no trabalho técnico e científico realizado pelo perito.
Em Minas Gerais, o trabalho do perito está subordinado diretamente à Polícia Civil,
o que não acontece em outros estados. Este também é um ponto de dificuldade para
Varela. "Em São Paulo, por exemplo, ela é um órgão autônomo"
. Para ele,
essa subordinação é prejudicial ao trabalho, mas evitou dar mais detalhes.



Outra diferença na profissão está no trabalho realizado pelos peritos que estão na capital mineira e os que estão no interior. Os primeiros trabalham com áreas específicas. Algumas delas são as de trânsito, meio ambiente, documentoscopia (verificação de alteração em documento público), balística, física, engenharia, química e biologia legal, crime de informática e áudio e vídeo (registros de imagens e conversas). No interior, os peritos investigam todos os tipos de crimes.
Segundo Varela, a remuneração para a profissão de perito não é excelente. Ele a classifica como
boa. "Um profissional aprovado em concurso ganha um salário inicial de cerca de R$ 3 mil,
no estado de Minas"
, diz.
Dezesseis peritos em JF
A 7ª Delegacia Regional de Polícia Civil, em Juiz de Fora, conta com o trabalho de 16 peritos,
número considerado baixo por Varela. "É pouco se formos levar em consideração
a demanda violenta"
. A delegacia é responsável por 32 municípios da região e, mensalmente,
são cerca de 750 ocorrências de crimes, com perícia interna ou externa.