SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Marcos, grande ídolo do Palmeiras, apelidado São Marcos (devido a defesas milagrosas), é um dos quatro goleiros a conquistarem a Copa do Mundo na condição de titular da seleção brasileira.

Ele ganhou no Mundial da Coreia/Japão, 20 anos atrás. Antes, Gylmar triunfou na Suécia-1958 e no Chile-1962, Félix, no México-1970, e Taffarel, nos EUA-1994.

Com a proximidade da Copa do Qatar, que começará no dia 20 de novembro, a Fifa tem publicado entrevistas, em inglês, com personagens que estiveram em Mundiais anteriores.

Uma delas é com Marcos, e chama a atenção o fato de o goleiro, um dos grandes que vi jogar, afirmar que estava muito apreensivo antes da decisão, no Japão, contra a Alemanha.

Ele declarou que temia decepcionar os companheiros ?craques do nível de Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu? caso não fosse bem na partida decisiva no Estádio Internacional de Yokohama.

"Eu estava realmente preocupado. A pressão que você sofre jogando pela seleção brasileira é imensurável. Você consegue imaginar isso em uma final de Copa do Mundo?", disse o então camisa 1.

"A mídia brasileira e os torcedores são incomparavelmente exigentes. Fiquei preocupadíssimo no vestiário. Eu jogava em uma seleção maravilhosa, cheia de estrelas de renome, e eu não era ninguém. Eu estava muito preocupado em decepcioná-los."

Marcos citou o caso de Barbosa, o goleiro titular na Copa do Mundo de 1950, no Brasil, que no jogo decisivo falhou no chute de Ghiggia que resultou no gol da vitória por 2 a 1 do Uruguai no Maracanã lotado.

"No Brasil se exige muito do goleiro, eles são sempre o bode expiatório. Em 1950, o Brasil era o grande favorito. Infelizmente o Barbosa errou e perdemos. Eu o conheci em um evento e jamais esquecerei o que me contou. As pessoas apontavam para ele nas ruas e diziam aos filhos: ?O Brasil perdeu a Copa por causa daquele cara?. Ele era um grande goleiro e isso era injusto."

O paulista de Oriente (457 km a noroeste de São Paulo), hoje com 49 anos, prosseguiu seu relato: "Eu estava muito preocupado que o mesmo acontecesse comigo. Isso foi agravado pelo fato de que meus dois reservas eram goleiros excelentes, então qualquer erro que eu cometesse todos diriam: ?Deveria ter jogado o Dida. Deveria ter jogado o Rogério [Ceni]".

Marcos ganhou a titularidade na seleção depois que Luiz Felipe Scolari assumiu o comando da equipe, a cerca de um ano da Copa de 2002, no lugar de Emerson Leão.

"Você é meu goleiro, acredito no seu potencial", disse o técnico ao arqueiro.

Felipão depositava grande confiança no guarda-metas que, sob sua batuta no Palmeiras, conquistara a Libertadores de 1999.

A pressão em Marcos era de fato enorme, até porque o goleiro do adversário na decisão era Oliver Kahn, capitão da Alemanha e que havia sido eleito, antes de a final ser realizada, o melhor jogador da competição.

Um dos maiores erros cometidos pela Fifa, aliás.

Kahn falhou feio ao não encaixar um chute de Rivaldo e, no rebote, Ronaldo abriu o placar para o Brasil. O mesmo Ronaldo ampliaria para 2 a 0, resultado final do jogo.

Por seu lado, Marcos não viu seus fantasmas se concretizarem. Estando nervoso ou não, quando exigido, cumpriu o que dele se esperava.

Primeiro, com a decisão sem abertura de contagem, espalmou cobrança de falta de Neuville ?a bola ainda tocou na trave.

Depois, já perto do fim do segundo tempo, e com o Brasil em vantagem (2 a 0), fez defesa difícil em finalização na grande área de Bierhoff, impedindo que a Alemanha empreendesse um "sufoco" em busca da igualdade que resultaria em prorrogação.

Finalizada a partida, Marcos conta que correu até Felipão para agradecer. "Obrigado por acreditar em mim quando nem eu mesmo acreditava."

Marcos terminou a Copa de 2002 com quatro gols sofridos em sete partidas.

Um na estreia, contra a Turquia (Brasil 2 a 1, de virada), dois no terceiro jogo, contra a Costa Rica (Brasil 5 a 2), e um nas quartas de final, contra a Inglaterra (novamente Brasil 2 a 1, de virada).

Em nenhum dos gols a culpa foi dele.

Além da final, Marcos deixou o campo sem ser vazado diante de China (primeira fase, 4 a 0), Bélgica (oitavas de final, 2 a 0) e Turquia (semifinal, 1 a 0).


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