SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Poucos nomes foram tão comentados no paddock da F1 no último final de semana na Itália quanto o de Nyck De Vries, algo curioso por se tratar de um piloto que fez sua estreia como substituto de Alex Albon na Williams já aos 27 anos, e que vinha orbitando a categoria há tempos. Mas só agora se tornou o nome do momento no mercado de pilotos para 2023.

De Vries teve uma boa carreira no kart, vencendo por duas vezes o mundial. Nos carros de fórmula, teve um progresso menos claro. Embora tenha conquistado títulos no nível da Fórmula Renault 2.0 (algo comparável à F4 hoje), demorou três anos para subir para carros de Fórmula 3, e depois mais dois para chegar à F2.

Na categoria, correu por times menores na temporada de estreia, vencendo uma corrida. Depois foi quarto na segunda temporada, pela Prema (ficando atrás de George Russell, Lando Norris e Alex Albon no campeonato), e levou o título do ano seguinte com uma rodada dupla de antecipação, pela ART GP, ou seja, correndo com duas das melhores equipes do campeonato. Nicholas Latifi foi o vice naquele ano.

Isso foi em 2019. Desde 2010, ele fazia parte do programa de jovens pilotos da McLaren, mas havia se desligado do time no início justamente de 2019, focando no trabalho paralelo que fazia com a Audi, que o levou ao endurance. Sem portas abertas na F1 e com fama de piloto de personalidade difícil, acabou indo para a Fórmula E e iniciando uma associação com a Mercedes. Na categoria de carros elétricos, foi campeão em sua segunda temporada, e se tornou piloto reserva dos alemães na F1.

Essa vaga significa que De Vries está sempre trabalhando no acerto do carro e provando modificações no simulador do time, e também que ele está presente em vários finais de semana de corrida, participando de reuniões e convivendo dentro do time mais vencedor dos últimos anos na F1.

Foi aí que a maré pareceu virar para o holandês. Já não se ouve mais sobre seu comportamento difícil como antes, e a experiência com a Mercedes abriu portas para ele neste ano, que coincidiu com a adoção de uma regra que obriga as equipes a cederem seus carros duas vezes por ano durante a primeira sessão de treinos livres para pilotos com até 2 GPs completados na F1.

A Mercedes usou isso para dar quilometragem a De Vries. Ele primeiro andou com a Williams na Espanha, e bateu Nicholas Latifi. Ocupou o mesmo posto na própria Mercedes na França e foi bastante elogiado por Toto Wolff. Na Itália, De Vries andou com outra cliente dos alemães, a Aston Martin, e teve seu conhecimento e profissionalismo elogiados pelo diretor de performance da equipe.

Tudo isso o ajudou a estar preparado para aproveitar a chance de mostrar serviço quando foi promovido a titular no lugar de Albon pela Williams no último final de semana. Ele teve a sorte de já ter feito o FP1 em Monza, de ver vários pilotos levando punições por troca de componentes de motor e câmbio, e pela velocidade de reta da Williams. Mas nada tira o mérito de ter tido um fim de semana muito melhor do que Latifi.

Até porque é com o canadense que ele disputa uma vaga na Williams na temporada que vem. E esta não é sua única opção. De Vries também está na lista da Alpine. Por um lado, o time francês é bem mais forte. Por outro, oferece só um ano de contrato.

E pensar que, em julho deste ano, Toto Wolff dizia que seria melhor a Mercedes liberar De Vries se não pudesse ajudá-lo a ter uma vaga de titular no grid.

É por isso que é importante se manter dentro da esfera da F1 mesmo quando não há vagas de titular logo de cara para os campeões da F2, como é o caso do brasileiro Felipe Drugovich. Como De Vries, ele dominou a sua terceira temporada na categoria, embora contra pilotos que acabaram decepcionando. Por isso, termina o ano bem menos badalado que o campeão do ano passado, Oscar Piastri, por exemplo. E também é verdade que o australiano não conseguiu uma vaga de titular logo de cara, embora no caso dele fosse sabido que era uma questão de tempo.

É claro que há, também, exemplos de pilotos que entraram em vagas de reserva ou piloto de desenvolvimento e nunca passaram disso, como Callum Ilott para ficar num exemplo mais recente. Isso sempre vai depender das vagas que se abrem (há épocas em que o grid se renova mais rapidamente que outras). Mas quando surgirem cockpits vagos são os pilotos que conhecem a realidade da F1 mais de dentro que serão lembrados, ainda mais com essa possibilidade de participar de treinos livres da F1, chance rara de andar com carros atuais em uma categoria que limita muito os testes.


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