SANTOS, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, E LE HRAVE, FRANÇA (UOL/FOLHAPRESS) - Nesta quarta-feira (21), durante o treino no Stade Océane, em Le Havre (França), a dois dias do amistoso contra Gana, Tite observava a movimentação dos atletas e, por um momento, deixou de pensar no futuro. O técnico já não imaginava o que acontecerá nos últimos amistosos, no Mundial, ou projetava os testes que tem pela frente. Ele pensava na origem de seus jogadores.

"Eu comecei a observar a movimentação, e me perguntava "onde eles se formaram?" Confesso que é uma curiosidade minha, eu estava me perguntando onde eles se formaram", afirmou.

A reportagem fez um levantamento para responder à pergunta de Tite. O treinador diz que, em média, acompanha de três a quatro nomes por posição. Considerando um recorte com 40 jogadores chamados recentemente, a resposta à pergunta de Tite não é nem fácil, nem rápida: ao todo são 23 clubes formadores/reveladores. O levantamento atribui apenas um clube por jogador, embora haja casos em que o atleta tenha rodado por diferentes clubes na base.

Santos e São Paulo lideram a relação com quatro jogadores cada. Da base santista saíram Neymar, Rodrygo, Gabigol e Lucas Veríssimo. Do famoso CT de Cotia, saíram Casemiro, Éder Militão, Antony e o goleiro Éverson, atualmente no Atlético-MG, considerado a quarta opção para a posição.

Corinthians e Fluminense, duas escolas também tradicionais da base, vêm logo depois, com três jogadores cada um. Há casos de atletas que passaram por mais de uma equipe, e outros que tiveram caminhos pouco comuns. O goleiro Éderson, por exemplo, foi dispensado pelo São Paulo aos 15 anos e completou a base no Benfica. Já o zagueiro Roger Ibañez, que ganhou projeção pelo Fluminense, passou antes pelo Grêmio Osoriense-RS e pelo RS Futebol.

Os casos de Fabinho e Bruno Guimarães também mostram como a trajetória na base nem sempre é linear. O volante do Liverpool começou no Paulínia, passou pelo Fluminense e foi para a Europa sem jamais ter disputado uma partida oficial no Brasil. Já o meio-campista do Newcastle saiu do futsal do Flamengo para o CFZ e defendeu o Audax-RJ e o Audax-SP, onde se tornou profissional.

Com uma seleção renovada ao longo do ciclo, Tite aproveitou uma pergunta sobre a velocidade dos jovens atacantes para fazer um longo elogio às categorias de base no Brasil. "Tem que enaltecer. A gente critica tanto a base, a formação, então vamos ser verdadeiros, quando tem que elogiar vamos elogiar. E está aqui o reconhecimento público das categorias de base dos grandes clubes, que proporcionam esses atletas deste nível".

NA BASE DA SELEÇÃO, OBSERVAÇÃO E LAPIDAÇÃO

Tite fez questão, ainda, de dividir os méritos da qualidade dos jovens da seleção com treinadores que passaram pelas categorias de base da CBF, nas seleções sub-17, sub-21 e olímpica. O treinador citou nominalmente profissionais como Rogério Micale, Carlos Amadeu, Guilherme Dalla Déa, Paulo Victor Gomes e André Jardine, que desde 2016 passaram pelas seleções de base.

O período teve a conquista de dois ouros olímpicos e um Mundial Sub-17. Alguns técnicos trabalharam com os jogadores que estão prestes a ir para a Copa tanto em clubes quanto na própria seleção de base. É o caso da relação de Jardine com Antony. Mas mesmo quando o melhor resultado em campo não veio, houve frutos futuros. Vide a geração de Paquetá que nem se classificou ao Mundial Sub-20 em 2017 com Micale.

"Não é uma aposta minha. É dos técnicos das categorias de base, que fizeram esses garotos vestirem a camisa da seleção brasileira com tanta expectativa, com tanta responsabilidade e alegria", disse o treinador.

Na parte ofensiva, o trabalho nesse período resulta na prospecção de jogadores com características de drible e velocidade. Isso passa por duas frentes, basicamente, a captação de talentos pelo Brasil e a adoção de uma filosofia de jogo compatível para aproveitar essas valências dos jogadores.

Quando a base da CBF passou a se estruturar melhor -antes mesmo da chegada de Tite, em 2016-, contratando profissionais para análise e observação e alimentando um banco de dados dos jogadores, alguns itens eram requeridos de cada posição. Quem atuava como ponta precisava, entre outras coisas, ter boa capacidade para duelos 1 x 1.

"Uma conversa que eu tive com Gilmar Rinaldi (ex-coordenador da seleção) foi a de que era preciso recuperar o futebol brasileiro. Essa questão do jogar com bola. O caos organizado que o Micale citava. Fizemos reunião com os observadores. Definimos o que queríamos. Atacante de beirada? Um contra um forte, boa dinâmica de jogo, recomposição com o lateral. Eles já tinham em mente", explica Erasmo Damiani, coordenador da base da seleção entre 2015 e 2017.

Com os jogadores convocados, a parte da equipe técnica das seleções era trabalhar dentro da filosofia de jogo definida, usando os valores que já tinham mostrado serviço nos clubes. Vem daí o espaço para aproveitamento dos talentos como Vini Jr.

"O processo do Vini Jr começa com o Guilherme Dalla Déa na sub-15. Tem o acompanhamento, trocas de ideias. Um treinador alimentava o outro. Quando o Amadeu pegou o Vini na sub-17, o papel dele também era mostrar o que fazia de errado. O banco de dados dava condição para eles analisarem o atleta e fazer o comparativo entre o clube e a seleção. E dávamos o feedback para os clubes, com relatórios dos jogadores convocados", acrescenta Damiani, que hoje trabalha na base do Atlético-MG e "tira onda" por ter assinado os primeiros contratos profissionais de Roberto Firmino, no Figueirense, e Gabriel Jesus, no Palmeiras.

O amistoso desta sexta-feira (23), contra Gana, é um dos próximos momentos cruciais para definir quais desses nomes todos observados estarão, de fato, na Copa do Mundo do Qatar. A bola rola em Le Havre às 15h30 (de Brasília). Na terça (27), a seleção ainda enfrenta a Tunísia. A lista final para o Mundial será divulgada em 7 de novembro.


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