SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O norueguês Magnus Carlsen, 31, dobrou a aposta no escândalo do xadrez que envolve um norte-americano de 19 anos, acusações de trapaça e suspeitas elusivas sobre o uso de um dispositivo anal para comunicar as melhores jogadas durante uma partida.
A polêmica estourou no começo do mês, quando Carlsen, campeão do mundo e melhor da atualidade, perdeu para Hans Niemann, então número 49 do ranking internacional. O jogo foi válido pelo Sinquefield Cup, torneio realizado pelo tradicional Clube de Xadrez de Saint Louis, nos EUA.
Após a derrota, Carlsen abandonou a competição. Ele repetiu a dose duas semanas depois, ao interromper nova partida contra Niemann depois de apenas um lance. Nos dois casos, o campeão do mundo deixou no ar insinuações de que seu adversário havia trapaceado.
Nesta segunda (26), o norueguês foi além das indiretas e usou o Twitter para se posicionar de maneira bastante clara sobre o assunto.
"Quando Niemann foi convidado de última hora para o Sinquefield Cup de 2022, eu considerei seriamente a possibilidade de não jogar o torneio", escreveu. "Acredito que Niemann trapaceou mais ?e mais recentemente? do que ele admitiu em público."
Carlsen estava se referindo ao fato de que o americano confessou ter trapaceado alguns anos atrás, mas disse que só o fez em jogos online que não valiam nada. Afirmou ainda que usou de expedientes ilegais pela última vez aos 16 anos e que está limpo desde então.
Niemann até se ofereceu para jogar pelado. É que, nos jogos online, fica fácil imaginar como alguém pode ter um computador auxiliando nas jogadas. Em partidas presenciais, como a de Saint Louis, o aparelho precisa estar escondido em algum lugar ?daí as especulações sobre o dispositivo anal.
Sem entrar no mérito do esconderijo, Carlsen elencou motivos para desconfiar de Niemann. Citou, por exemplo, o progresso dele no ranking mundial, mais rápido que o de qualquer outro jogador da história.
Sobre a partida que deflagrou o escândalo, Carlsen afirmou: "Eu tive a sensação de que ele não estava tenso nem totalmente concentrado no jogo durante lances decisivos, e isso enquanto me superava com as peças pretas de uma forma que só um punhado de enxadristas conseguiriam fazer".
O norueguês se disse frustrado com sua retirada da competição em Saint Louis e reconheceu que sua atitude decepciona a comunidade do xadrez, mas ponderou que a trapaça é um problema sério, que representa uma ameaça existencial ao jogo.
"Precisamos fazer alguma coisa em relação à trapaça e, de minha parte, não quero mais jogar contra pessoas que tenham trapaceado repetidamente no passado porque não sei o que elas são capazes de fazer no futuro", escreveu Carlsen.
Alguns dias antes do comunicado de Carlsen, a Fide (Federação Internacional de Xadrez) se pronunciou sobre o tema de maneira não conclusiva. Afirmou que o campeão do mundo tem uma responsabilidade como embaixador do xadrez e que ele não lidou bem com a questão.
Por outro lado, a Fide se declarou preocupada com os danos que trapaças podem causar ao esporte e anunciou uma investigação sobre o caso Niemann.
Para o brasileiro Mauro Amaral, que é árbitro internacional de xadrez e está habituado a organizar competições, parece pouco provável que Carlsen esteja certo.
"Em um torneio de elite, a segurança antitrapaça é muito grande. São utilizados detectores de metal e podem ser realizadas revistas antes das partidas. A equipe do Saint Louis é bastante experiente. Não acredito que alguém consiga passar por esses procedimentos, já que são poucos jogadores", disse.
Amaral também lembra que Carlsen ainda não apresentou nenhuma prova para sustentar as alegações. "Uma acusação desse nível, feita por um campeão mundial, pode afetar a carreira de um jovem promissor", afirmou.
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