UOL/FOLHAPRESS - Após muita especulação, a Federação Internacional de Automobilismo confirmou a expectativa de que a Red Bull foi a única equipe que não cumpriu o teto orçamentário de 148,6 milhões de dólares do ano passado. E classificou a ofensa como "menor", ou seja, determinou que o time não ultrapassou mais de 5% deste limite de gastos. O time continua dizendo que não concorda com as contas da FIA, enquanto os rivais insistem que mesmo algumas centenas de milhares de dólares já fazem muita diferença na pista. E não dá para cravar como ou quando essa briga vai terminar.
O problema, como também ocorreu na saga do motor da Ferrari ou no processo decisório das últimas voltas do GP de Abu Dhabi, é a falta de transparência. No momento, ninguém sabe quanto a Red Bull passou do teto ou quais foram as contas que a FIA considerou e o time não adicionou no relatório que enviou em março (com números abaixo do teto).
Então, no momento, nem é possível cravar que a Red Bull, de fato, operou acima do teto em 2021. É possível que eles ainda consigam provar que leram melhor as regras do que os rivais, até porque o regulamento financeiro, que estreou ano passado, é complexo e tem uma lista de mais de 20 itens que não entram na conta final.
MOTIVO DOS GASTOS
Enquanto isso, as especulações continuam. Há a versão de que os gastos que foram adicionados após o relatório que a Red Bull enviou à FIA em março nada têm a ver com a performance. Eles seriam para cobrir gastos com comida, custos de pessoal afastado com atestados médicos, e salários pagos a funcionários que foram embora e que estavam impedidos de trabalhar para outra equipe contratualmente.
Porém, toda a reclamação das equipes veio do cálculo de gastos com peças novas. Segundo Toto Wolff, da Mercedes, é possível saber com bastante precisão o quanto cada equipe gasta. "Nós monitoramos isso com muito cuidado. As peças de 2021 e de 2022. Podemos ver que duas equipes grandes estão no mesmo nível e outra equipe gasta mais. Nós sabemos exatamente que estamos gastando 3,5 milhões de dólares em peças que trazemos ao carro. Então dá para ver a diferença que faz gastar meio milhão a mais."
As rivais dão a entender que a Red Bull está fazendo manobras para esconder esses gastos adicionais. Mas não parecem ter nenhuma prova além de suas estimativas, até porque o regulamento permitiria delações premiadas e denúncias formais vindas de outras equipes.
A conta divulgada pela Ferrari para peças adicionadas ao longo da temporada é um pouco mais alta, 4 milhões de dólares. De qualquer forma, isso é bem menos do que os 7,4 milhões que poderiam ser encaixados nas punições mais brandas destinadas a equipes que passaram até 5% do teto.
O que se comenta no paddock é que a revisão das contas da Red Bull não teria revelado uma diferença tão grande: seria algo entre 1 e 2 milhões. Porém, voltando ao ponto de Mercedes e Ferrari, se isso foi destinado à performance e não a gastos com comida, é o suficiente para fazer diferença.
O QUE ACONTECE AGORA?
Pela resposta da Red Bull ao comunicado da FIA, eles continuam não aceitando que tenham passado do teto, e indicaram que vão "avaliar todas as opções que temos". Isso diminui a chance de entrarem em acordo com a FIA com algum tipo de punição mais branda, como uma multa por exemplo. E não cabe recurso neste ano.
Ou seja, o caso pode ir a julgamento de uma junta determinada pela federação. O problema é que isso pode gerar uma punição maior, como diminuição do teto do ano que vem ou menos tempo de desenvolvimento aerodinâmico. Neste caso, a Red Bull poderia recorrer a um tribunal de Justiça. Não há prazos definidos no regulamento para que este processo seja finalizado.
O que está em jogo aqui nem é tanto o campeonato do ano passado, no qual teto teria sido estourado. Mas sim o futuro do limite de gastos. Se a FIA não cumprir seus procedimentos ou se a pena for branda demais, isso só incentiva as equipes a usar esses tais 5%. E, quem sabe, convencer a federação que estavam gastando com comida ou qualquer outra coisa que não tenha interferência na performance.
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