DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) - O presidente da Fifa, Gianni Infantino, concedeu uma coletiva neste sábado (19) na véspera da estreia da Copa do Mundo para defender o Qatar e a organização local para a competição que começa neste domingo (20). Antes mesmo de abrir para perguntas, o dirigente fez um longo discurso que ultrapassou os 45 minutos onde fez críticas especialmente aos europeus que têm feito o que ele chamou de "ataques hipócritas".

Nos últimos anos, a imprensa mundial tem apontado para a falta de condições ideias dos trabalhadores locais e imigrantes que estão no Qatar para a construção de estádios e para outras obras para o Mundial. Ao final, ainda disse que "os que estão muito incomodados não precisam assistir ao Mundial".

"Os europeus têm que se desculpar por terem feito o que fazem pelo mundo nos próximos 3.000 anos. Quantas companhias europeias e do mundo ocidental estão fazendo bilhões com trabalho por aqui e quantos deles estão se preocupando com direitos para os imigrantes? Eu tenho a resposta: nenhuma. Por que mudar isso diminui o lucro. Não preciso defender o Qatar, eles se defendem sozinhos. Mas quanta gente está aqui pelo combustível e quem se preocupa com as condições de trabalho? A Fifa se preocupa, o futebol se preocupa, o Qatar se preocupa", afirmou Infantino.

"Nós (europeus) fechamos as fronteiras e não permitimos que eles trabalhem de forma legal nos nossos países. E eu digo legal, porque a gente sabe que tem muita gente ilegal nos nossos países e isso não é a coisa certa a ser feita Por isso, aqueles que querem ir na Europa precisam percorrer uma jornada muito difícil. Muitos nem sobrevivem. Se vocês se preocupam realmente com isso, façam como o Qatar fez. Criem meios legais para que ao menos uma porcentagem deles consiga para ter um pouco de futuro, nem que seja pagando salário mínimo, mas que ao menos dê futuro", completou.

"Não significa que não pode falar do que não deu certo. Mas essa lição de moral é hipócrita. Progressos tem sido feitos no Qatar, o salário mínimo foi introduzido, há mecanismos de proteção ao trabalhador, proteção contra o calor. Muita gente não sabe ou finge não saber disso".

Antes de fazer as críticas, Infantino tentou traçar uma comparação com as condições que ele enfrentou na infância ao ser italiano que morou na Suíça e disse que consegue se sentir na pele dos imigrantes que estão no Qatar e enfrentam preconceito e vivem em condições longe das ideais.

"Eu me sinto qatari, árabe, africano, gay, com deficiência e eu sinto tudo isso. Quando eu vejo essas coisas e o que dizem eu lembro de histórias pessoais. Meus pais trabalharam muito difícil em situações diferentes, não no Qatar, mas na Suíça, e eu me lembro muito bem o que acontecia com os passaportes, com os exames médicos e condições em geral. Quando eu vim para Doha eu entendi que tinham coisas a melhorar e hoje eu posso dizer que o Qatar também evoluiu nisso", falou.

"Claro eu não sou qatari, árabe, gay, africano, deficiente, não sou um trabalhador, mas eu me sinto como eles. Por que eu sei como é ser discriminado, como é sofrer bullying, como é ser estrangeiro. Eu quando era criança na escola sofria por ter cabelo vermelho, porque eu era italiano e não falava um bom alemão. E o que você faz? Você olha para baixo, você chora e aí você tenta fazer amigos, tenta falar e se envolver e aí tenta com esses amigos para se engajar, não xinga, não briga, você tenta se enturmar. E isso é o que a gente tem que fazer", afirmou.

Depois, Infantino voltou a falar que todo mundo que quiser viajar ao Qatar para o Mundial será bem vindo, independentemente da religião, orientação sexual e outras diferenças em relação à cultura do país sede.

"E eu posso reforçar: todo mundo é bem vindo. Se alguém falar coisa diferente, não é a opinião do país. Todo mundo que quer vir para cá é bem-vindo. Não importa a religião, a orientação sexual... É o que a gente coloca como requisito mínimo e o que o Qatar concordou com a gente. E você fala sobre as regras daqui, mas existem regras no mundo inteiro. São processos. E o que vocês querem fazer sobre isso? Ficar em casa e atacar, criticar, falar como eles são ruins? Claro que eu acredito que precisa ser aceito, como presidente da Fifa, mas eles estão passando por processos. Quanto tempo demorou para algumas coisas funcionarem na Europa?".

Por fim, Infantino fez um apelo para que os jornalistas não pressionem técnicos, jogadores e pessoas do Qatar. "Querem criticar? Me critiquem, me crucifiquem, me ataquem. Estou aqui. Mas não pressionem os jogadores, os técnicos, deixem que eles se concentrem no trabalho. Não critiquem as pessoas do Qatar, deixem eles se divertirem com a Copa do Mundo. Não divida. Não ataque. Seja inclusivo. A gente espera que consiga dar sorrisos para as pessoas".


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