SÃO PAULO, SP (UOL - FOLHAPRESS) - "Eu morri por 5 minutos".
É assim que o dinamarquês Christian Eriksen define o incidente que marcou para sempre sua carreira. Em 12 de junho de 2021, ele caiu em campo durante o duelo entre Dinamarca e Finlândia, pela fase de grupos da Eurocopa. O meia, então na Inter de Milão, teve um ataque cardíaco.
Enquanto os médicos tentavam reanimar Eriksen no gramado do Parken Stadium, em Copenhague, os jogadores dinamarqueses faziam uma barreira humana para que as câmeras não captassem o drama. A esposa de Eriksen, Sabrina, desceu das arquibancadas e foi abraçada pelo goleiro Kasper Schmeichel. A cena era de tragédia.
Nesta terça-feira (22), Christian Eriksen esteve em campo do início ao fim no empate por 0 a 0 entre Dinamarca e Tunísia, pelo Grupo D da Copa do Mundo. Ele até tentou marcar o 1 a 0 com um chute no segundo tempo, mas parou em bela defesa do goleiro Aymen Dahmen. Foram 17 meses, do incidente à redenção. Como é possível que um jogador que foi reanimado em campo possa não apenas sobreviver, mas voltar a atuar no mais alto nível?
"Tudo ter ocorrido em um jogo de um torneio de elite como a Eurocopa pode ter feito toda a diferença. Ninguém jamais poderá saber se ele sobreviveria se a anomalia ocorresse em um treino ou um jogo menor", pondera o cardiologista Miguel González, do Sanatorio Finochietto, de Buenos Aires.
"Conversei com médicos europeus a respeito do que aconteceu e todos concordam que foi uma combinação de fatores típica do futebol de elite. O jogador voltou à vida e agora volta aos gramados por sua seleção em um campeonato como a Copa do Mundo. O incrível é que seu cérebro não sofreu nenhum dano. Há muito o que estudar do seu caso", afirma Pedro Martínez, médico do River Plate.
As condições em que o incidente de Eriksen aconteceu foram importantes para uma intervenção rápida dos médicos. Mas a recuperação completa e o retorno ao futebol competitivo passam também por um aparelho da mais alta tecnologia: um cardioversor desfibrilador implantável, que previne problemas semelhantes por meio de pequenas descargas elétricas.
Para voltar a jogar, Eriksen mudou de time e de país -a Liga Italiana não permite que jogadores atuem usando o desfibrilador. O clube que abriu as portas para ele foi o Brentford, da Premier League. Em 26 de fevereiro deste ano, oito meses depois daquela tarde em Copenhague, ele voltou a entrar em campo.
Nos meses seguintes, além de se tornar titular da equipe, ele voltou também voltou à seleção. Em 26 de março, saiu do banco e marcou logo em seu segundo toque na bola, durante a derrota por 4 a 2 para a Holanda, em Amsterdã. Em agosto, ele foi anunciado como reforço do Manchester United. Começou a temporada como titular e ganhou a confiança do técnico Erik Ten Hag. O sonho de disputar a Copa do Qatar, a terceira da carreira, estava vivo.
Um sonho que parecia impossível há 17 meses, e que Eriksen realizou nesta terça-feira.
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