SÃO PAULO, SP (UOL - FOLHAPRESS) - "São quinze minutos do segundo tempo, e adivinha que vem aí? Ele, sempre ele: Griezmann".

Nos primeiros meses da atual temporada do futebol europeu, a frase acima era normal nas transmissões dos jogos do Atlético de Madrid. Antoine Griezmann, campeão mundial com a França em 2018, e um dos maiores ídolos recentes do clube, sempre entrava em campo durante o segundo tempo.

Não era por acaso: um dos melhores jogadores do mundo estava proibido de jogar. Parece exagero, mas não era. Griezmann estava emprestado ao Atlético pelo Barcelona, e uma das cláusulas do contrato ativava uma obrigação de compra do jogador por 40 milhões de euros (R$ 204 milhões) caso ele jogasse mais da metade das partidas.

Essa era a vida de Griezmann a três meses da Copa do Mundo. Em 10 de outubro, o Atlético abandonou a estratégia de decidiu comprá-lo.

Mas anos anteriores também não foram brilhantes. Em duas temporadas no Barcelona (entre julho de 2019 e agosto de 2021), ele nunca teve o protagonismo que se esperava, e acabou se transformando em um exemplo de fracasso da gestão do ex-presidente Josep Maria Bartomeu.

Na Copa do Mundo, Griezmann ressurgiu. Em uma convocação repleta de atacantes e volantes, Didier Deschamps apostou no camisa 7 como meio-campista. Caberia ao jogador do Atlético de Madrid ser a conexão entre a força de Aurélien Tchouaméni e a potência de Kylian Mbappé.

Griezmann não apenas se adaptou à função, como tornou-se o cérebro da seleção francesa. Ele lidera o time em passes entre linhas (70), cruzamentos (38) e assistências (3). Antes um goleador, especialista em acabar as jogadas, ele tornou-se um jogador mais criativo, e que também ajuda os companheiros a defender.

No cinco jogos disputados pelo time titular da França no Mundial até agora (contra a Tunísia, jogaram reservas), Didier Deschamps apostou em Griezmann como terceiro homem de meio-campo, ao lado de Tchouaméni e Rabiot--substituído por Fofana na semifinal.

O novo Griezmann, mais longe do gol, tornou-se também um operário em função do time. Ele já recuperou 33 bolas na Copa do Mundo, apenas uma a menos que Tchouaméni, o líder da França no torneio. Na Argentina, rival da decisão de domingo, apenas Rodrigo De Paul (37 recuperações) está à frente; os dois são companheiros no Atlético.

O trabalho defensivo de Griezmann, notável a olho nu por quem assiste os jogos da França, é abalizado pelas estatísticas: além das recuperações, ele é o segundo jogador ofensivo que mais entra em disputas (trancos ou carrinhos) na Copa (11), atrás apenas do companheiro Ousmane Dembelé.

Um trabalho que é reconhecido pelos companheiros. "Mudamos um pouco o desenho do time. Se temos qualidade, ele é incrível na forma como se adapta. Ele pode fazer um esforço ou acelerar o jogo, tem bastante confiança e experiência", afirmou o zagueiro Raphael Varane.

O técnico Didier Deschamps já disse durante esta Copa do Mundo que as atuações de Griezmann não surpreendem, porque ele "gosta de atacar e de defender". O próprio Griezmann não quer se iludir com o bom desempenho nos seis primeiros jogos. "Tento manter o meu pé no chão. Estou mais focado e agora temos que me preparar para domingo", afirmou em entrevista após a vitória por 2 a 0 sobre Marrocos, na semifinal.

CAMALEÃO EM CAMPO

Em sua melhor fase na carreira, na temporada 2015/16, pelo Atlético de Madrid, Griezmann tinha um perfil bem diferente: jogava como atacante e de adaptava às necessidades dos companheiros de elenco --era mais móvel quando jogava Fernando Torres, e mais fixo quando estavam Luciano Vietto ou Angel Correa.

No título francês em 2018, ele jogava como armador, mas caía pela esquerda, já que Blaise Matuidi fechava o meio para fazer um trio de volantes com N'Golo Kante e Paul Pogba. Na Rússia, ele foi eleito o terceiro melhor jogador do torneio e ganhou o prêmio de melhor da final.

O renascimento de Griezmann na Copa carrega um pouco dessa capacidade de adaptação que ele já havia mostrado antes: ele se sacrifica para que Mbappé possa brilhar e a França consiga suprir sua falta de um armador. O gol ainda não saiu, mas é inegável a importância do camisa 7 para o time que tentará buscar a terceira estrela para os franceses no domingo. Na final, ele se reencontrará com Messi, um velho conhecido dos tempos de Barcelona. Um atrativo mais no maior duelo dos últimos anos.

"É um jogo excepcional, contra uma grande equipe. Leo é o melhor do mundo. A Argentina é uma grande equipe, Scaloni faz um grande trabalho. Vocês viram o jogo do Messi ontem, ele está jogando muito. Está fazendo uma ótima Copa e o time ao redor dele também. Vai ser um grande jogo, uma grande partida. Acho que é uma grande final", disse o francês.


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