DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) - Estava escrito no destino de Ángel Dí Maria que ele brilharia em uma final de Copa do Mundo. Autor de um gol e vítima do pênalti convertido por Messi, o jogador chorou o tempo inteiro na conquista do tricampeonato. Primeiro, ao marcar o seu gol, depois, ao ver a França empatar já no banco de reservas. E por fim, quando pôde tirar o grito de campeão da garganta. Seu feito no tempo normal ficou um pouco esquecido depois das reviravoltas da partida, mas até ser substituído ele era o nome do jogo que tirou a Argentina da fila de 36 anos.
Depois de ser impedido de jogar a final de 2014 pelo Real Madrid por conta da recuperação de uma lesão, ele entrou no Estádio Lusail como a grande novidade da Argentina e saiu aos 18 minutos do segundo tempo substituído por Acuña tão aplaudido quanto Messi havia sido quando a escalação era anunciada no telão.
Do banco de reservas, chorou quando viu o camisa 10 fazer o 3 a 2, assim como foi em 1986, quando os hermanos abriram 2 a 0, sofreram o empate e depois assistiram a Burruchaga marcar o terceiro. Quando a felicidade parecia completa, ele voltou a se emocionar com o empate francês e depois com o pênalti final.
O choro visto em seu rosto e nos dos milhões de argentinos após o gol já tinha virado símbolo do país no ano passado, quando o técnico Lionel Scaloni se emocionou ao decidir escalá-lo como novidade na final da Copa América de 2021, em uma relação que começou bastante conflituosa.
E parte do roteiro daquele título no Maracanã se repetiu hoje com o garoto que na infância era carvoeiro ao lado do seu pai e teve a sua carreira colocada em dúvida por causa de uma sequência de lesões. Em uma nação que estava louca por coincidências com momentos vitoriosos do futebol argentino, o atacante carrega uma série delas.
A mais recente é que em 2021, no título da Copa América em cima do Brasil que virou hit no Qatar e que encerrou o jejum de 28 anos sem títulos da Albiceleste, ele também foi o talismã. Como mostrou o documentário da Netflix "Sejam Eternos", ele fez o técnico chorar na última conversa antes de decidir quem entraria em campo.
Escolhido para substituir Nico González, que havia sido titular nas quartas e na semifinal da competição, Di Maria entrou, aproveitou a falha de Renan Lodi e fez o gol da vitória por 1 a 0. Normalmente tratada como conquista de segunda prateleira para os brasileiros, essa Copa América na verdade forjou esse time que hoje volta a colocar a América do Sul no lugar mais alto do pódio depois de 20 anos.
Além dos gols no Brasil e no Qatar, ele também fez gol na Inglaterra e no título da Finalíssima. Ou seja, três gols em três finais do ciclo de Scaloni, que chegou ao cargo totalmente desacreditado e como um improviso e já se transforma em um nome histórico para o país. Isso sem nem falar do gol dele no ouro olímpico em 2008, na China.
O mais curioso é que sua relação com o técnico, a quem hoje chama de pai, começou da pior maneira possível, com uma briga. Por conta disso, o jogador teve que convencer o técnico que havia mudado e que merecia uma vaga na lista de convocados depois de um tempo de mais de um ano de geladeira. No meio dessa reconquista, contou até com a ajuda de um psicólogo para voltar a encontrar o equilíbrio emocional.
El Fideo, apelido que ganhou por uma comparação entre o seu porte físico e a delicadeza de um macarrão, é torcedor fanático do Rosário Central, time que virou até tatuagem em seu corpo e faz parte da promessa de o escolhido para encerrar a carreira.
Após deixar o Qatar como grande herói ao lado de Lionel Messi, resta saber se ele cumprirá o aviso de que essa seria a sua despedida com a camisa alviiceleste.
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