SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um pedido de desculpas da BBC pela maneira que conduziu o afastamento do ex-jogador e apresentador Gary Lineker colocou ponto final a uma das maiores crises da história da emissora pública do Reino Unido. Polêmica que resvalou no governo do Partido Conservador.

"Após alguns dias surreais, estou feliz de termos conseguido encontrar uma forma de atravessar isso. Quero agradecer a todos pelo incrível apoio, especialmente aos meus colegas do esporte da BBC pelas marcantes demonstrações de solidariedade. Futebol é um esporte de equipe, mas o apoio deles foi incrível", escreveu Lineker no Twitter.

Lineker causou uma crise na emissora ao comparar, em postagem no Twitter, a política de imigração a ser implantada pelo governo britânico à da Alemanha nazista.

Ele havia sido afastado do programa pela direção da BBC. Em solidariedade, outros ex-jogadores que trabalham como comentaristas avisaram que não participariam da transmissão neste sábado (11). Mark Chapman, a voz mais conhecida da 5 Live, a rádio de notícias do conglomerado, não apareceu para trabalhar. Atletas em atividade se recusaram a dar entrevistas pós-jogo para a emissora.

O Match of the Day exibiu os melhores momentos da rodada, mas sem vinheta de abertura, narrações, entrevistas e análises. Apenas os lances das partidas com som ambiente. Isso jamais havia acontecido.

"Todos reconhecem que tem sido um período para estafe, colaboradores, apresentadores e, mais importante do que isso, para nossa audiência. Pedimos desculpas por isso. A confusão causada por uma área cinzenta nas regras de redes sociais para os funcionários da BBC, introduzidas em 2020, é reconhecida por nós. Quero resolver isso, e nosso conteúdo esportivo estará de volta no ar", disse o diretor geral da emissora, Tim Davie.

O acordo fechado é que a BBC vai contratar uma empresa independente para rever suas recomendações a respeito do uso de redes sociais. Enquanto isso, Lineker se compromete a respeitar as determinações em vigor.

A polêmica sobre seus tuítes e a suspensão escancaram também uma briga interna pela influência na BBC. Apesar de ter regras de independência, a emissora, referência de TV pública no mundo, não está imune a disputas políticas.

O atual presidente do conglomerado estatal, escolhido pelo governo e aprovado pelo Parlamento, Richard Sharp, fez doações de 600 mil libras (R$ 3,8 milhões hoje em dia) para o Partido Conservador. Quando era banqueiro, ajudou a azeitar um empréstimo pessoal de 800 mil libras (R$ 5 milhões) para o ex-primeiro ministro Boris Johnson.

Há também uma antiga batalha nos corredores do governo a respeito da taxa de licença. O dinheiro que sustenta a BBC é pago por todas as pessoas que possuem televisão em casa. São R$ 998 por ano, e não fazer o pagamento ou declarar falsamente que não possui uma TV eram considerados crimes até o início da pandemia.

Parte do Partido Conservador deseja extinguir a taxa e quer que a emissora busque dinheiro no mercado, com a venda de anúncios, como fazem os canais convencionais.


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