SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pior início de ano da Ferrari desde 2009 contrasta com o otimismo do lançamento, quando Charles Leclerc e Carlos Sainz falavam em disputar o título. A baixa pontuação não vem só do desempenho em si. Leclerc teve uma quebra e um abandono por toque, Sainz levou uma punição que a Ferrari busca reverter. Mas, em três corridas, ficou claro que a Scuderia não lidou bem com as mudanças que levantaram as bordas do assoalho, e não está conseguindo fazer a peça, que é a principal fonte de pressão aerodinâmica do carro, funcionar.

Na verdade, eles ainda sofrem com os saltos, que deveriam ter desaparecido com a mudança. Para evitá-los, têm de usar um carro mais rígido. E isso é ruim para a dirigibilidade do lado dos pilotos, compromete a performance, e gera muito gasto de pneus.

A Ferrari acaba colocando muita energia nos pneus, o que é bom para fazer uma volta lançada, como vimos nas classificações, mas é muito ruim na corrida, pois gera o desgaste acelerado. E, na Austrália, nem a boa performance aos sábados ficou evidente, com uma indefinição na Ferrari se os pilotos deveriam fazer uma ou duas voltas lançadas, pela previsão de uma chuva que nunca apareceu.

Ou seja, mesmo com a mudança na chefia da estratégia, como era de se esperar, os erros operacionais continuam acontecendo. A diferença é que, agora, o carro está muito mais longe da Red Bull do que terminou ano passado. E ainda foi ultrapassado pela Aston Martin e pela Mercedes, pelo menos em ritmo de corrida. Comparando com o começo do ano passado, quando o time tinha até o melhor conjunto, o desempenho estagnou, enquanto os demais avançaram.

Claro que a diretiva técnica que começou a valer no GP da Bélgica do ano passado e que freou o uso de assoalhos mais flexíveis já tinha tirado parte do rendimento da Ferrari. E as mudanças anti-saltos que começaram a valer esse ano foram outro passo nessa direção.

Tanto, que a Ferrari já estuda uma mudança de conceito, buscando alimentaram os canais do assoalho de maneira diferente. A última atualização do assoalho foi um passo positivo no sentido de permitir uma liberdade melhor no acerto na Austrália. Sainz, que vinha tendo muito mais dificuldade com o carro, conseguiu andar em um ritmo mais próximo de Leclerc. E, quando teve pista livre, foi o segundo carro mais rápido da pista. A única dúvida que fica é quanto Hamilton e Alonso estavam forçando à frente do espanhol da Ferrari, já que eles travavam uma "guerra fria" naquele momento da prova, com muita administração dos pneus.

A imprensa italiana, que nem sempre acerta, fala uma grande atualização chegando em fases. Uma em Miami, outra em Imola, e uma terceira no GP da Espanha, ou seja, das próximas cinco etapas, a Ferrari teria novidades em três. Mas também é justo dizer que esse é o plano de outras equipes, como a Aston Martin e a Alpine.

O problema é que essa diferença entre o otimismo do lançamento e a realidade também passa pelos resultados diferentes do que foi visto nas ferramentas de simulação da equipe e na realidade na pista, até porque esse fenômeno dos saltos é difícil de reproduzir. Então a Ferrari vive, ao mesmo tempo, a expectativa de que as novidades cheguem e a incerteza se elas funcionarão.

Para completar o cenário não muito animador a curto prazo, é clara a insatisfação de Leclerc com a qualidade das informações que são passadas aos pilotos, o que vem daquela questão do gerenciamento ruim de corrida. Como o monegasco é mais dependente desse tipo de informação que Sainz, acaba sofrendo mais com isso.

Na Austrália, por exemplo, foi só o sétimo no grid porque tinha combustível a mais no carro que não usou por seguir a ordem de só dar uma volta por conta da chuva, enquanto o espanhol decidiu ignorou a instrução e foi o quinto no grid. Na corrida, acabou dividindo a primeira curva com dois carros e abandonou.


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