SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Navegar nos sites de aposta esportiva é mais complicado do que eu imaginava. Eles são poluídos, repletos de informações confusas que piscam na tela do computador ou do celular e têm atualizações a todo instante.
O que são aqueles números? O que significa o 2,55 associado ao tenista Daniil Medvedev, que enfrentaria Stefanos Tsitsipas no Aberto de Roma? E o 1,53 ligado ao Flamengo, que pegaria o Corinthians pelo Brasileirão?
Penso: enquanto tomo pé da situação, vou me concentrar apenas nos esportes que acompanho. Mas isso também é mais complicado do que eu imaginava. Logo estou arriscando dinheiro no campeonato de basquete da República Dominicana e em mesatenistas da Polônia e da República Tcheca.
Melhor ir com calma. Não vou completar minha missão se torrar logo de cara os R$ 100 que o jornal liberou para eu experimentar alguns dos principais sites de aposta esportiva do país.
São muitos, então busco um critério. Que tal os patrocinadores dos maiores campeonatos de futebol envolvendo o Brasil, além do site que tiver seu nome em mais times das séries A e B?
Reservo o final de semana para isso e me cadastro no Sportingbet (Copa Libertadores), no Galera.Bet (Campeonato Brasileiro), no Betano (Copa do Brasil) e no Esportes da Sorte (mais times).
Começo pelo Sportingbet. Sou surpreendido com um bônus de 100% do depósito, até o limite de R$ 300. Não tenho tanto. Preciso dividir os R$ 100 entre quatro sites.
Que seja. Passo um pix de R$ 25 e tento fazer a primeira aposta. Não consigo. Um alerta avisa que, pelas políticas da promoção, certas restrições se aplicam à minha conta. Só então leio o regulamento do bônus, depois de ter feito o depósito. Gênio.
A principal regra diz respeito às apostas: sou proibido de fazer palpites em que eu tenha, nos cálculos do Sportingbet, mais de 50% de chance de vencer. Ou seja, não posso escolher favoritos.
Sites de aposta esportiva não são ONGs. Eles querem ganhar dinheiro. E fazem isso sempre que apostadores erram o palpite. Por exemplo, se escolho o time A e ele ganha, o site me paga uma quantia predefinida. Se o time A empata ou perde, o site fica com o valor da aposta.
Daí por que, do ponto de vista do site, faz sentido me impedir de jogar em favoritos. Afinal, eles têm mais chance de ganhar, o que significa mais chance de eu ganhar, o que significa mais chance de o site ter que me pagar.
Escolado com a pegadinha, rejeito bônus das outras plataformas. Quero liberdade para definir minha estratégia. E ela será conservadora: somente apostas pequenas -no máximo R$ 5-- e sempre em francos favoritos, de preferência com mais de 80% de chance de ganhar.
E como fico sabendo quais são as chances? É aí que entram as cotações, ou odds.
Como funcionam as odds
As odds são o preço da aposta, ou, dito de outra forma, o valor que o site pode pagar para cada R$ 1 investido. Em geral, elas aparecem na forma de um número que varia de 1,01 a 20, mas nada impede que passe de 100.
Assim, o 2,55 associado a Medvedev indica que, se eu botar R$ 1 nele e ele vencer, o site me pagará R$ 2,55, aí incluído o valor da minha aposta -lucro de R$ 1,55.
Quanto menor a odd, ou cotação, maior o favoritismo; quanto maior a odd, maior a zebra. Claro, o site quer me pagar o mínimo possível caso eu aposte em alguém com boas chances de ganhar e quer me estimular a apostar em alguém com boas chances de perder.
Para entender o grau de favoritismo implícito em uma odd, basta recorrer a uma equação: 1 dividido pela odd multiplicado por 100 = percentual de chance. Embora não seja uma ciência exata, as cotações em geral não diferem muito entre os sites.
Vamos lá: 1 dividido por 2,55 multiplicado por 100 = 39,2%. O site estava me dizendo que Medvedev tinha apenas essa chance de ganhar do Tsitsipas. Como eu achava o russo favorito, apostei R$ 2,50 na "zebra" e lucrei quase R$ 4.
Outra odd que me chamou a atenção foi 2,25 no Miami Heat contra o Boston Celtics. Apenas 44,4% de chance de ganhar em casa? Botei R$ 5 e lucrei R$ 6,25.
As duas situações ajudam a entender como os sites calculam as odds. Eles analisam tudo que puder interferir no resultado, como histórico do confronto, desempenho recente, escalações etc.
No caso da NBA, talvez tenham pesado as vitórias do Boston nas três partidas anteriores que jogou em Miami; no tênis, Medvedev não é especialista no saibro, o piso de Roma.
Mas se você me perguntar o que fazia do mesatenista polonês Szymon Radlo favorito contra o tcheco Adam Linek, ou do Cañeros azarão contra o Titanes no basquete da República Dominicana, confessarei minha ignorância.
Assim como nos palpites em Medvedev e Miami, eu estava apenas tentando driblar a restrição do bônus. Nesse caso, fazendo apostas múltiplas, modalidade em que escolho mais de um evento ao mesmo tempo e só ganho se acertar todos os resultados. Isso diminui minhas chances, mas aumenta o prêmio.
Caí no tênis de mesa e no basquete dominicano por acaso. Poderia ter escolhido mais de 30 opções, entre as quais dardos, snooker e pólo aquático, além de jogos virtuais.
Também poderia ter escolhido outros tipos de aposta. É possível palpitar não só no resultado do confronto mas também no vencedor do set, na diferença de pontos entre as equipes, no autor do primeiro gol, no total de escanteios ou cartões vermelhos etc.
O cardápio vinculado a um único evento esportivo pode ter mais de 500 itens, o que, em tese, torna relativamente fácil a vida de quem quiser manipular apostas sem dar na cara.
Mas a enormidade de ofertas existe por outro motivo. Como nos cassinos, a confusão aparente cria a sensação de que sempre há algo acontecendo, de que sempre há alguém ganhando, de que sempre é possível apostar de novo e lucrar mais -ou recuperar a grana perdida.
Por isso que as plataformas de aposta se dedicam tanto aos jogos ao vivo, inclusive com transmissão dentro do site. Conforme uma partida progride, as odds vão sendo atualizadas em tempo real.
Quem quiser pode até interromper a aposta no meio, seja para embolsar um lucro, seja para cortar perdas.
Por exemplo, botei R$ 2,50 num palpite múltiplo: São Paulo, Flamengo e Cruzeiro venceriam Vasco, Corinthians e Cuiabá, respectivamente. O lucro potencial seria de mais de R$ 7,50, mas, para passar a régua a tempo da reportagem, encerrei a aposta antes do último jogo e fiquei com ganho de R$ 3,38.
No fim das contas, somadas as mais de 30 apostas que fiz, terminei com R$ 140,08. Se descontar o bônus de R$ 25, são R$ 15,08 de lucro, ou 15% sobre os R$ 100 iniciais. Não garanti a aposentadoria do editor de Esportes, mas não gastei o dinheiro do jornal.
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