SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para participar de uma edição do Brasileiro de Caratê, ela fez uma rifa para conseguir recursos financeiros. Agora, Bárbara Hellen desembarca nos Jogos Pan-Americanos de Santiago como uma das promessas da modalidade e esperança de pódio para o Brasil.

Natural de Pouso Alegre, Minas Gerais, a atleta de 23 anos conquistou a vaga após a medalha de ouro nos Jogos Pan da Juventude e não esconde a ansiedade de estar pela primeira vez em uma das principais competições do continente.

"Venho de uma família humilde, a gente não tinha condições de ficar viajando, bancando tudo. No início, meus pais pediram dinheiro emprestado a familiares e chegaram a contrair um empréstimo. Fizeram dívidas para me ajudar a competir, e sou muito grata até hoje", diz.

"Ia ter um Brasileiro em Fortaleza e meus pais disseram que, naquele momento, não teria como [ter recursos]. Eu estava me preparando desde o início do ano, focada nesta competição. Eu tinha de dar um jeito. Fiz uma rifa, e até aproveitei uma competição em Pouso Alegre para vender. Fui para Fortaleza, consegui uma vaga na seleção e passei a ganhar Bolsa-Atleta, em 2014, foi aí que as coisas mudaram".

A vontade de estar nos tatames surgiu aos sete anos, e Bárbara acredita que por influência indireta do irmão mais velho.

"O meu irmão fazia caratê quando eu tinha uns três anos. Acho que, talvez, no subconsciente, ficou essa vontade. Quando eu tinha sete anos, disse que queria fazer. Até que um dia um professor passou no colégio onde eu estudava oferecendo aula em um projeto social. Tinham centenas de crianças, mas consegui me destacar e fui chamada para uma academia. Daí, comecei a treinar".

De lá para cá foram inúmeros pódios e conquistas, como os seis ouros no Pan-Americano de Caratê, quatro sul-americanos, oito nacionais, além do World Schools Combat Games.

Escala antes do Pan

Bárbara será uma das representantes brasileiras no Mundial de Caratê que vai acontecer em Budapeste, na Hungria, entre os dias 24 e 29. De lá, ela vai diretamente para o Chile. No Pan, as competições da modalidade vão do dia 3 ao dia 5 do próximo mês.

Quer cursar medicina

Além das medalhas, Bárbara tem outro objetivo: cursar faculdade de medicina. Ela tenta conciliar a agenda de atleta com os estudos, mas sabe que ainda há um caminho a percorrer neste sentido.

"Realmente, é bem difícil conciliar. Já faz uns três anos que eu até marco o vestibular e não consigo fazer. Agora, os Jogos Pan estão batendo com a data do Enem, por exemplo [as provas acontecem em 5 e 12 de novembro]. Mas tento fazer o máximo que é possível, estudo nos momentos que tenho livre".

"Sei que não é suficiente ainda para eu conseguir passar no vestibular de Medicina, mas estou indo aos poucos, o importante é não parar, manter o ritmo para quando quiser focar de vez nesse objetivo".

Caratê em casa

Questionada sobre inspirações no esporte, a carateca citou Felipe Gonçalves, que já integrou a seleção brasileira e atualmente é treinador dela. Mas não apenas isso.

"O Felipe é meu noivo e, então, a gente vive 24 horas caratê, né? (risos). Mas acho bem legal, há uma troca bacana, compartilhamos muito. Ele tem uma grande experiência e conseguimos traçar as estratégias", explica.

Arrisca no vôlei

Apesar da relação com o caratê ter sido construída logo cedo, pode-se dizer que há um outro esporte que faz Bárbara abrir um sorriso: o vôlei. Com 1,75m, ela já até pensou em trocar o tatame pela areia.

"Sempre quando dá, que é bem de vez em quando, eu jogo um voleizinho. Até mesmo na minha cidade tem um grupo do pessoal que joga junto e tudo mais. Já pensei até em competir, gosto bastante de vôlei de praia", revelou.

O vôlei, inclusive, acende a chama olímpica na atleta. O caratê fez parte do programa dos Jogos de Tóquio, mas não estará em Paris-2024.

"O caratê, atualmente, não está no programa olímpico. Quem sabe o vôlei seja uma chance", brincou.

'Gafe' em palestra

Os praticantes de caratê, muitas vezes, recebem pedidos para que mostrem golpes ou façam movimentos em momentos não tão apropriados. Em um desses casos, Bárbara lembra, aos risos, de uma gafe.

"Eu acho que tinha uns 14 anos e me chamaram para um evento para contar um pouco da minha vida e trajetória até ali no caratê. No fim, pediram: 'dá aquele chute virando'. E eu fiquei: 'como assim, chute virando?'. Eu estava de calça jeans, sapatilha, nem um pouco pronta para qualquer coisa, mas todo mundo começou a gritar: 'chuta, chuta'. Eu fiz o movimento do chute e minha sapatilha voou, acertou uma moça que estava na plateia", lembra.


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