SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - Mais de sete anos depois do fim dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016, o comitê organizador da entidade, que já foi réu em mais de 650 processos simultâneos, está em vias de fechar as portas, sem deixar credores para trás. De acordo com dirigentes, a última pendência é uma dívida de R$ 21 milhões com o Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Nesta sexta-feira (15), a assembleia do COB vai aprovar o perdão dessa dívida, permitindo assim que o Comitê Rio-2016 encerre suas atividades no próximo dia 31 de dezembro, conforme previsão estatutária. O tema já foi discutido em reunião de trabalho, e não contou com a oposição de nenhuma confederação. Na assembleia, isso só será oficializado.

Antes, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que, assim como o COB, também era credor e associado da Rio-2016, topou perdoar uma dívida semelhante, e confirmou isso em documento enviado recentemente ao comitê organizador. Ali, disse que reconhece que não tem nada a receber do órgão.

EQUACIONANDO DÍVIDAS

As dívidas do Comitê Rio-2016 são amplamente conhecidas e, em 2019, chegaram a mais de R$ 400 milhões, segundo levantamento feito pelo Globo Esporte. Na ocasião, Ricardo Trade, o Baka, presidente do órgão, detalhou que o Comitê era réu em 332 ações trabalhistas e mais de 340 ações cíveis, por dívidas.

A maior dívida era com a GL Events, que forneceu os mais diversos serviços de infraestrutura, e inicialmente reclamou não ter recebido cerca de R$ 45 milhões. A empresa, que administra a Arena da Barra e o Riocentro, informou a coluna que o processo foi encerrado em 2020, sem dar maiores detalhes.

Procurado pelo Olhar Olímpico, Baka não quis dar entrevista. Atualmente trabalhando na organização da Copa América, nos EUA, depois de ser um dos líderes da Copa do Mundo do Qatar, o ex-CEO da Copa do Mundo de 2014 é voluntário como presidente da Rio-2016.

A expectativa é que, depois do perdão da dívida do COB, que será formalizada amanhã (15), o Comitê Rio-2016 reúna sua assembleia, formada também por federações, e explique de onde vieram os recursos para equacionar suas dívidas. O principal financiador teria sido o Comitê Olímpico Internacional (COI).

SÓ FALTA O COB

A única dívida que resta ser solucionada é com o COB. Em carta ao comitê olímpico, em agosto, Baka escreveu que, apesar das "inúmeras dificuldades duramente enfrentadas" nos últimos anos, o Rio-2016 estava próximo de alcançar o objetivo de encerrar suas atividades sociais por completo. E pediu que o COB formalizasse "a renúncia expressa a todo e qualquer direito" a repasses financeiros.

Nas contas do COB, este é credor de R$ 21,1 milhões, relativos a um contrato de "JMPA" (Joint Marketing Agreement), exigido pelo COI, que previa que a Rio-2016 pagasse ao COB parte de suas receitas publicitárias, com o comitê brasileiro se comprometendo a não firmar contratos individuais de patrocínio durante a preparação para as Olimpíadas no Rio.

Pelo acordo, a Rio-2016 deveria pagar R$ 120 milhões ao COB, em valores de 2011, mas deixou de quitar R$ 15,5 milhões, em valores de 2017. Essa dívida, corrigida pelo IPCA, chega ao R$ 21,1 milhões. Nas demonstrações financeiras do COB, ela já vem aparecendo, há anos, como "provisão para perdas, em função da inadimplência dos últimos exercícios e da situação financeira do Rio 2016". Em outras palavras: o COB já não tinha expectativa de receber o dinheiro.

O perdão já foi aprovado pelo Conselho Administrativo do COB, mas precisa também passar pela assembleia. O Olhar Olímpico apurou que a diretoria do COB entende que, na condição de ao mesmo tempo credor e associado da Rio-2016, o comitê olímpico escapa de dores de cabeça futuras permitindo que o comitê organizador feche as portas. E que a dívida, de qualquer forma, jamais seria paga.


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