RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - A tragédia do Ninho do Urubu que vitimou dez jovens completa cinco anos nesta quinta-feira (8). Um grupo de torcedores trabalha para que a memória dos garotos não seja esquecida nem pelos rubro-negros e nem pela diretoria.

O Flamengo da Gente distribuiu adesivos e panfletos do lado de fora do Maracanã. A ação teve cerca de 4.000 exemplares dados a torcedores de Flamengo e também de Botafogo no clássico pelo Campeonato Carioca na véspera do aniversário da tragédia.

O grupo atua em outras frentes, mas lidera um movimento contra o esquecimento da tragédia. Há uma vertente de trabalho focada apenas nos assuntos ligados ao Ninho.

Familiares de jovens mortos naquele 8 de fevereiro assistiram ao clássico com membros do grupo. Os pais de Bernardo Pisetta vieram ao Rio para o lançamento de um livro sobre o incêndio. A mãe, Lêda, geralmente não acompanha o pai, Darlei, que quando está na cidade tenta ir aos jogos para ouvir a música em homenagem aos dez. A autora, Daniela Arbex, também foi convidada e nunca tinha ido ao estádio. Eles se encontraram na arquibancada do Maracanã.

O Flamengo não realizou ações durante o clássico. O clube chegou a soltar uma nota oficial no intervalo do jogo falando sobre demandas recebidas de diversos veículos e explicando a relação com as famílias e os acordos. No fim, disse se solidarizar novamente. À meia-noite, os perfis do clube ficaram em preto e branco.

"Atuamos muito nessas áreas que entendemos que o Flamengo deveria ser mais forte, mais incisivo, ditar um padrão ético dentro do esporte e da sociedade em geral", afirma Guilherme Jorge, integrante do grupo.

MEDIDAS

O Flamengo da Gente propõe algumas medidas ao Flamengo. Eles envolvem acolhimento das famílias com homenagens institucionais, transformar o 8 de fevereiro em uma data onde não haja jogos oficiais do Flamengo, um memorial no Ninho do Urubu, a inclusão da tragédia no museu do clube, apuração interna, atuação junto ao poder público e concessão do título de sócio honorário a Benedito Ferreira, vigia que ajudou a salvar três jovens, custeando tratamento médico e psicológico, além de uma pensão vitalícia.

O grupo também relembrou a música criada para os dez minutos do primeiro tempo de cada partida. A sensação é que o canto está ficando cada vez mais fraco na arquibancada. A letra estava no panfleto. "A gente nota que a música não ecoa mais. Distribuímos os panfletos e não foi suficiente nesta quinta-feira (8). Não temos a força institucional, esse movimento tinha de vir do Flamengo".

"No primeiro momento houve comoção geral, mas assim que baixou a poeira surgiram estratégias de pressionar as famílias, que passaram a ser afastadas do clube. Nosso movimento foi mais uma reação a esse momento contrário à memória dos meninos, ao acolhimento das famílias, de isolar e depois demitir o vigia que salvou três crianças no incêndio. A gente esperava que o Flamengo tivesse uma postura ética de acolher essas famílias e tratar a tragédia como ela merecia ser tratada", afirma Guilherme.

O Flamengo não tem mais um espaço dedicado à tragédia no museu. O local passou por uma reformulação e as camisas dos dez jovens foram retiradas. "O Flamengo da Gente tenta preencher essa lacuna, impedir que essa história seja apagada. Porque se uma história não é contada e repetida, ela deixa de existir."

A única homenagem que o clube tem é uma capela ecumênica no CT. Ela foi inaugurada em 2022. O local onde ficavam os conteineres foi transformado em estacionamento pouco após o episódio.

Não há ações programadas para nesta quinta-feira (8). Algumas pessoas devem ir somente ao mural em homenagem aos garotos do Ninho na frente do Maracanã para os retoques.

"A gente vai continuar fazendo ação, continuar lutando para que a memória desses meninos continue viva, e que essa tragédia não se repita. Só você tratando o passado com respeito, entendendo ele e estudando, que você não repete os erros. Quem sabe um dia a gente não precise vir cobrar. Queremos homenagear nossos meninos, chorar o luto e acolher as famílias sem ter de cobrar que as pessoas que dirigem o Flamengo tomem uma atitude minimamente humana", diz Guilherme.

Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva Matos, Rykelmo de Souza Vianna, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías morreram na tragédia.

- Livro homenageia adolescentes mortos em incêndio no CT do Flamengo

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