O futuro est? jogando

Ailton Alves Ailton Alves 05/01/2009

Ilustra??o de um menino no campo pronto para chutar a bola de futebol N?o ? certo que chegue ao est?gio de futuro, mas o fato ? que o futuro est?, neste momento, sendo sonhado. Dos 2.200 jovens, entre 15 e 18 anos, de 88 times que disputam a Copa S?o Paulo de Futebol J?nior, exatamente todos t?m a mesma esperan?a: a de ser algu?m no futebol - o que para eles equivale a ser algu?m na vida.

Se fosse s? futebol, se dependesse apenas do destino soberano de uma bola, todos teriam chances iguais. Os deuses do esporte n?o costumam discriminar ningu?m.

Mas ? a vida e, a?, todos sabemos e temos certeza: o sol (ao contr?rio do que apregoam os filmes otimistas da ?poca de ouro de Hollywood) n?o nasce para todos.

O S?o Paulo x Cear? da rodada inaugural de s?bado ? um bom exemplo disso. De um lado, os s?o-paulinos bem nutridos e assistidos, alguns, como Oscar e Bruno Formigoni, j? famosos; de outro, os nordestinos, tamb?m fortes (o nordestino ? antes de tudo um forte), mas desassistidos e an?nimos. Por conta disso, os tricolores jogaram com leveza. Os alvinegros com aspereza. Os atacantes do S?o Paulo atuaram com parcim?nia; os zagueiros do Cear? tentaram se defender de forma quase suicida, atirando-se em todas as bolas. Resultado: 5 a 1 para os paulistas.

O Cruzeiro x Rio Bananal, tamb?m no s?bado, foi outro exemplo da disparidade, de qu?o diferente s?o formados os jovens. Os capixabas abriram o placar - uma alegria bastante fugaz, respondida com cinco gols dos mineiros. Os cruzeirenses, tratados a p?o-de-l? na Toca da Raposa, souberam o exato momento de virar a partida. Nossos vizinhos no mapa do pa?s, preparados com muita dificuldade, n?o tiveram f?lego para 90 minutos de bola.

Os jovens, os pais e, principalmente, os empres?rios dos meninos querem para eles um bom contrato, dinheiro e fama. Jogam em gramados paulistas, para lentes de TVs brasileiras, com resultados publicados na imprensa nacional, mas est?o todos de olho mesmo na Europa ou ?sia. Ser profissionalizado pelo time que os revelou ? quase um fracasso. Ser vendido para um grande clube brasileiro, apenas uma ponte. Esses meninos j? nascem com o ex?lio em mente.

Os torcedores querem dos garotos jogadas de craque e, se n?o for pedir muito, um t?tulo de campe?o, mesmo que de categorias de base. Os dirigentes querem fazer caixa. Tratam os jovens como investimento, uma mercadoria valiosa.

E a imprensa quer desses jovens muito mais do que eles podem dar. Pouco antes de come?ar Vasco x Mogi Mirim, a rep?rter quis saber do centroavante vasca?no se aquele jogo j? era uma prepara??o para enfrentar a S?rie B do Campeonato Brasileiro de profissionais. Algo assustado com a responsabilidade que lhe foi imposta ali, naquela hora, de defender o gigantesco Clube de Regatas Vasco da Gama em seu maior desafio de uma hist?ria centen?ria, o menino de 17 anos respondeu, mais por h?bito do que com convic??o: "?...com certeza...pode ser..."

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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