Os l?zaros do futebol

Ailton Alves Ailton Alves 19/01/2009

Ilustra??o de um quebra-cabe?as com o tema futebol Os primeiros a irem embora, quase que simultaneamente, numa mesma semana de maio de 1996, foram Ademir e Danilo. Um ano depois, quem partiu foi Chico. Na primeira metade desta d?cada, concretizaram as despedidas Barbosa (2000), Zizinho (2002), Bigode (2003), Augusto (2004) e Jair (2005). N?o faz muito tempo, em 2007, que Bauer seguiu o mesmo caminho. Na ?ltima quarta-feira chegou a vez de Fria?a. Esses s?o os l?zaros do futebol, aqueles que, como o personagem b?blico, morreram duas vezes. O crime deles foi perder uma Copa do Mundo em casa, num jogo em que precisavam empatar, sa?ram na frente do placar e cederam a virada ao Uruguai. O ?ltimo desses "amaldi?oados", o sobrevivente, o que ainda n?o est? a salvo dos tormentos da mem?ria, ? Juvenal, hoje com 85 anos.

Desde o fat?dico dia 16 de julho de 1950, esses 11 homens conviveram - Juvenal ainda convive - com o fantasma de um fracasso ?nico, pois inexplic?vel. S?o pessoas que carregaram durante uma eternidade uma tristeza sem fim e uma m?goa duradoura. Tiveram, todos, uma carreira marcada por outras gl?rias e deram uma contribui??o inestim?vel a seus clubes e ? sele??o brasileira, mas s?o lembrados, prioritariamente, pela derrota na Copa.

Como o futebol ? um esporte coletivo, n?o h? (ainda bem) como medir a responsabilidade de cada um na derrota. O fato de Barbosa, o goleiro, ter sido apontado como principal culpado e tamb?m as lendas que cercam a partida, dando conta de atitudes covardes de uns ou desinteressadas de outros, n?o passam de perversidade da hist?ria.

E como a vida ? bastante complexa (ainda bem) n?o h? como dimensionar a dor de cada um com as conseq??ncias do fracasso. Dizer que uns levantaram a cabe?a e seguiram a vida ou que outros se entregaram ? bebida ? simplista demais.

Se tivesse, no entanto, que apontar os jogadores que mais sentiram o peso das lembran?as do passado diria: Ademir e Danilo, os dois primeiros a desaparecerem, e Barbosa, ? claro. N?o por acaso tr?s vasca?nos (sabemos todos que o clube de S?o Janu?rio carrega em seu destino uma alma lusitana e, portanto, melanc?lica). Ademir Menezes, o "Queixada", sonhou durante anos com o ?ltimo lance daquele jogo contra o Uruguai, quando ele perdeu a chance do empate. Danilo Alvim, chamado de "Pr?ncipe" por causa da eleg?ncia do seu futebol, chorou sete dias e seis noites a derrota.

Por outro lado, sem nenhuma base filos?fica ou de conhecimento para tal, acredito piamente que Fria?a, o ?ltimo a morrer, era (ainda bem) o mais leve de todos, justamente porque teve a culpa atenuada por ter feito o gol brasileiro naquela partida. Um lance, por sinal, quase fantasma, s? visto na ?ntegra pelos torcedores que estavam no Maracan? naquele dia, h? 58 anos. Por uma dessas funestas coincid?ncias o c?mera de TV cochilou e n?o conseguiu registrar toda a jogada.

Isso, por?m, pouco importa. Barbosa, Augusto, Bauer, Danilo, Bigode, Fria?a, Zizinho, Ademir, Jair e Chico deviam se reunir onde est?o e ir a Deus, dizer ao Criador o que L?zaro deveria ter dito a Jesus Cristo: "Ningu?m nesta vida ? t?o miser?vel que precise morrer duas vezes".

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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