Ailton Alves Ailton Alves 8/6/2009

O amor acabou

Camisa da seleção sendo guardada na gavetaJusto na semana dos namorados, a verdade nua e crua é que não nos amamos mais.

Sei que tal declaração não tem nenhum valor para a humanidade, pois se trata do fim de caso entre alguém muito bela, adorada por milhões no Brasil e mundo afora, e outro alguém muito insignificante - no caso este que vos escreve -, mas, o fato é que acabou, não dá mais.

Sei também que falar de desamor é muito mais fácil que falar do amor, mas nesse caso não está sendo. É muito difícil precisar o que aconteceu, em que momento o encanto terminou, a paixão apagou e a falta de respeito mútuo imperou.

Acho que foi a distância o motivo da separação. Estava realmente muito complicado acompanhar a ex-amada por lugares tão distantes quanto Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra e até Rússia.

Pode ter sido o dinheiro a razão do fim. Não sei não, mas de uns tempos para cá, ela passou a pensar só em grana. Cobrava muito caro para vestir aquela roupa da qual eu tanto gostava.

Creio que os pais dela também contribuíram para o fim do casamento. Eles são ditadores, gostam de mandar e nunca, jamais, em tempo algum, me perguntaram o que eu achava de tudo aquilo.

Além dos sogros, têm também os tios e os irmãos mais velhos. Eles se apossam dela, ficam lembrando a todo o momento que a criaram e não aceitam, em hipótese alguma, que se aponte os defeitos, que a humanize. Quem faz isso ganha logo o rótulo de traidor.

E tem também os primos bajuladores, que insistem em dizer que ela está forte quando, na verdade, está humanamente fragilizada.

Então, para mim, chega.

Além de tudo isso - ou por causa disso - tenho que confessar que não sinto mais nada de especial quando a vejo. Para completar: não tenho mais idade para amar quem não me ama. E nem disposição para acompanha-la na Europa, caso colocasse na cabeça que era necessário recuperar a chama antiga.

Contudo, não farei nunca. Como no samba do Cartola, poderia fingir que ainda a amo, mas isso não vai acontecer. Esqueço, pois, o nosso amor - vou ver se esqueço.

Deixo, portanto, a seleção brasileira de futebol para outros. Para os jogadores europeus, que só pensam em quanto vão aumentar a conta bancária. Para os dirigentes, donos absolutos dela. Para os técnicos (de Zagallo a Dunga, exceto o mestre Telê Santana), que, cada um a seu modo, ajudaram a manchar a história da amarelinha. Para a imprensa festeira e irresponsável.

O meu coração do torcedor é um pote pela borda de mágoas. Suportou Lazaroni em 1990, o vôo da muamba em 1994, Paris em 1998, o mercado persa de 2002 e a soberba de 2006. Agora, o técnico Dunga com o boné do patrocinador, o comentarista mandando a gente prestar atenção na importância de Felipe Melo (!!??) para o time e a possibilidade, mesmo que remota, da volta de Adriano representaram para mim a gota d´água.

Obviamente não vai fazer nenhuma falta a minha torcida. É paixão findada e só ficarão as lembranças. Ela e eu sempre teremos a Suécia, o Chile e o México (os tempos do tricampeonato) e principalmente Sevilha, quando fomos, pela última vez, corpo e alma.


Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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