Ailton Alves Ailton Alves 6/7/2009

Os incompreendidos

Dos 38 times que disputam com o Tupi o título da Série D do Campeonato Brasileiro, nada menos que 11 não são os originais, não são aqueles que conquistaram no campo esse direito. Ficaram mal classificados nos certames estaduais — a seletiva para a quarta divisão do futebol nacional. Estavam esquecidos, desativados e prontos para hibernar até, pelo menos, os primeiros meses de 2010. Foram içados do limbo, convidados de última hora, instados a preencher vagas. Ganharam uma segunda chance, embora saibam que durante todo o campeonato serão vistos com desconfiança e até mesmo desdém. Assim, como se olha um penetra numa festa...

Exatamente 11 clubes, então, tinham essas vagas nas mãos. Brigaram por elas durante todo o primeiro semestre. Direito adquirido, convite recebido, preferiram, no entanto, não seguir adiante. As razões do recuo são diversas, mas todos terão agora que conviver para todo o sempre com uma dúvida, comum no futebol e na vida: E se tivéssemos ido? Faríamos nosso destino melhor, comprovaríamos a perda de tempo e esforços ou afundaríamos de vez nossa própria existência?

Entre os desistentes e os esquecidos recuperados, havia os orgulhosos. Doze equipes foram convidadas pela CBF para substituir os desistentes – afinal, a festa estava programada para 40 talheres e não faz sentido deixar espaços vagos. Num impressionante efeito dominó, um a um os clubes foram abrindo mão do convite (só em Alagoas, seis agremiações disseram não). As razões da desfeita são diversas, mas acho que o principal motivo, inconfessável, foi o orgulho ferido, aquela sensação bem humana de saber que só estava sendo chamado porque faltou alguém.

A esses se juntam os desprezados, caso dos times acreanos – o único estado da federação a não contar com representantes no campeonato. Eles demoraram tanto a desistir, fizeram tão pouco da segunda chance, que a dona da festa, a CBF, perdeu a paciência e riscou da lista de convidados qualquer um daquelas bandas que se oferecesse.

Esquecidos, desistentes, orgulhosos ou desprezados, os times da quarta divisão do futebol brasileiro são, na verdade, incompreendidos. Mais do que personagens de Truffaut eles lembram um filme de Fassbinder: lutam desesperadamente e em vão por atenção e amor.

Não falo nem do Tupi e de sua eterna luta contra a dependência do torcedor juizforano do futebol carioca – mesmo porque a insistência nesse assunto vai acabar por irritar meus parcos leitores. Falo, então, de um drama maior, especificamente de três equipes, que não conseguem um pingo de atenção nem mesmo na sua cidade, entre iguais: Alecrim, Ferroviário e São José.

Natal, no Rio Grande do Norte, é dividida entre o preto e branco do ABC e vermelho e branco do América – não sobra nada para o verde do Alecrim. Na capital do Ceará, os nativos são adeptos do tricolor Fortaleza ou do alvinegro Ceará – sobra quase nada para o Ferroviário. Sina pior é a do São José, do Rio Grande do Sul: pouquíssimas pessoas sabem que Porto Alegre tem outro time além de Grêmio e Internacional.

Luta inglória a dos times da Série D.

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O Tupi, um dos times “legítimos” da Série D (ganhou a vaga em campo, ao conquistar a Taça Minas de 2008), estreou com um empate, no Rio, contra o Madureira: 0 a 0. Pelas ondas do rádio chegaram as notícias de uma partida ruim, disputada num gramado em péssimas condições. Mesmo assim, faltam 15 jogos e 118 dias para o Galo Carijó conquistar seu primeiro título nacional.


Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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