Ailton Alves Ailton Alves 17/8/2009

Éramos sós

Escudos do Tupi e do EsportePor longos 19 anos ficamos absolutamente sós.

Até que, no segundo semestre de 2007, como no samba-canção de Carlos Roberto Pimenta e Adilson Tavares ("...O dia é sagrado, levanta mais cedo, me faz um agrado...") o Tupynambás jogou, de forma profissional, embora na Terceira Divisão de Minas.

Até bom seria que, a fim de não tornar enfadonha tal saga, a de um adversário, o Baeta conseguisse a ascensão ao Módulo Dois, a Segundona, e depois a vaga na Primeira Divisão, quiçá já em 2008 – estávamos nós, os Carijós, cansados de ser sozinhos.

Mas, não. Não são assim as coisas. Carecem de seguir a sua ordem natural. O Baeta não estava apto a seguir sua sina. A experiência em competições lhe faltou, o clube não primou pela persistência, não atingiu o patamar do rival.

Voltamos, os adeptos do Tupi, à nossa solidão, ao fardo de representar sozinho o esporte de Juiz de Fora. O futebol, lembremos sempre, é um esporte coletivo e na vida - verdade seja dita – ninguém nasceu nem merece ficar só.

Agora, após 21 anos de solidão (descontado esse pequeno espasmo do Tupynambás), no segundo semestre de 2009 eis que o Sport, depois de uma longa e sentida ausência no cenário esportivo local, voltou a campo, de forma profissional, ainda que na Terceira Divisão das Gerais.

Que sejam bem-vindos, os Periquitos. No último domingo, no ônibus, a caminho do estádio, como um intruso alvinegro, vi a mesma cena de dois anos atrás: torcedores, poucos, em estado de euforia, com ânsia de demonstrar apreço por um time que, sim, agora existe, não é mais apenas o espectro daquilo que pais e avós contavam. E deu gosto.

Mas para suprimir quaisquer esboços de surpresa, revelo logo, de cara: a minha boa educação com os adversários termina aqui. Não vejo diferenças entre o Sport de hoje e o Tupynambás de 2007. O verde deles continua, como há 21 anos, aquém da beleza do preto do Tupi. Assim como o vermelho do Baeta jamais teve o brilho do branco do Galo.

Talvez a nossa soberba Carijó tenha a ver com a solidão que fomos obrigados a sentir. Não foi fácil enfrentar sozinho a crueldade dos torcedores locais em virar sistematicamente as costas para os times da cidade. Isso deixou suas marcas.

Éramos sós. Agora estamos nos sentindo como aquele ermitão que rasgou a placa que ostentava em sua casa — “Viver é fácil, difícil é conviver” — e desceu a montanha. Talvez viver seja difícil, mas ter alguém para ajudar a suportar o peso do descaso de praticamente toda a cidade faça toda a diferença.

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 O Tupi joga nesta terça-feira, dia 18, em Feira de Santana, Bahia. Tão longe que só as ondas do rádio alcançam. Não tem problema. Faltam dez jogos e 75 dias para o Galo ganhar seu primeiro título nacional.

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América (MG), Guaratinguetá (SP), Icasa (CE) e ASA (CE) venceram seus duelos contra Brasil (RS), Caxias (RS), Paysandu (PA) e Rio Branco (AC), pela Série C do futebol nacional. As cidades de Belo Horizonte (MG), Guaratinguetá (SP), Juazeiro do Norte (CE) e Arapiraca (AL) verão jogos da Série B do Campeonato Brasileiro em 2010.

 


 

Ailton Alves   é jornalista e cronista esportivo
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