Ailton Alves Ailton Alves 31/8/2009

A força de uns e a sorte de outros

símbolo de força com a mão e de figa da sorteÀ medida que o tempo passa adquirimos uma nostalgia bem próxima da decadência. Passamos a lembrar de fatos acontecidos quando tínhamos, por exemplo, 23 anos de idade. É nessa época que se vê a trilogia de Guerra nas Estrelas e nunca sai da cabeça, a do jovem, o que o mestre dizia a cada um de seus guerreiros antes de uma batalha: “Que a força esteja contigo”.

O tempo passa e, 23 anos depois, o que passa pela cabeça – não mais do jovem – são os filmes de Woody Allen, notadamente Match Point, quando a sorte é fundamental e tal conceito é traduzido naquela bola (de tênis) que bate na fita e, dependendo de que lado cai, pode moldar toda uma vida.

Cito filmes – minha cultura é essencialmente e somente cinematográfica – por causa de um jogo de futebol (este, sim, o assunto que minhas limitações me permite), pois, no sábado, não foram outros os elementos da partida: a força do Tupi e a sorte do Macaé.

O Tupi entrou em campo com a camisa branca (que está se tornando a vestimenta oficial do Galo) e pareciam, os jogadores, realmente guerreiros, nobres cavaleiros e cavalheiros Jedi, prontos para derrotar um império construído com o dinheiro do petróleo. E a força realmente estava com os de cá, os Carijós, que logo aos seis minutos de jogo deram uma estocada certeira nos inimigos, como se eles, os amarelos, fossem os touros miúras dos livros de Hemingway.

Mas, que nada. A estocada não foi fatal, não foi aquela estaca que, nos filmes, é necessário cravar no coração dos vampiros para que eles deixem de existir.

Lembramos, sempre, no entanto, que estamos a escrever de futebol, um esporte dominado, grosso modo, por apenas um objeto: a bola. É ela, a pelota, quem determina o placar, o destino. E parecia que essa bola estava, no último sábado, a queimar os pés dos jogadores locais e reservar uma boa surpresa aos visitantes.

Eles, os torcedores de fora, pareciam saber disso. Ficaram o tempo todo atrás do placar, num batuque e cantoria bestas. Talvez seja esse modo normal: os nascidos no Estado do Rio, temperados por sol e sal, gostam de barulho, de festa; nós, os das Gerais, preferimos sempre o silêncio, no máximo o murmúrio, pois, afinal, Minas não tem mar e talvez nunca tenha tido sal.

Foram, os de lá, recompensados por uma bola alçada na área, aos 44 minutos do segundo tempo, um gol caído do céu azul que protegia o Estádio Mário Helênio. Ficamos, os de cá, com uma sensação estranha, de quem, à medida que o tempo passa, vai depender cada vez mais da sorte e não mais da força.

O que nos consola, no entanto, é que, apesar de tudo, faltam sete jogos e 61 dias para o Tupi ganhar seu primeiro título nacional.

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Não deixa de ser coisa de jovens essas críticas contundentes ao confuso regulamento da Série D do Campeonato Brasileiro. Não estão acostumados com o futebol brasileiro? Estão chegando hoje da Europa? A todos, se me permitem, um conselho, de um velho: não deixem que essa discussão inútil manche a beleza que é a quarta divisão do futebol nacional.



Ailton Alves   é jornalista e cronista esportivo
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