Fidel Castro nunca gostou de futebol

Ailton Alves Ailton Alves 25/02/2008

Quando Fidel Castro assumiu o poder em Cuba, em 1959, a Ta?a Libertadores da Am?rica ainda n?o existia. O torneio s? surgiria no ano seguinte, com a utopia de integrar, atrav?s da bola, o continente sul-americano. O comandante n?o gostava de futebol, n?o viu ali uma possibilidade de complementar a tal teoria da "exporta??o da revolu??o". Talvez estivesse certo. A ilha n?o tinha bons jogadores, sequer um time decente para servir de base para uma sele??o minimamente competitiva.

Ta?a Libertadores Quando Fidel deixou o poder, na ?ltima semana, a 48? edi??o da Ta?a Libertadores estava come?ando. Inchada com 38 times de onze pa?ses, M?xico inclu?do, e sob o patroc?nio - sinal dos tempos - de um banco espanhol. Apesar da participa??o recorde, a tal integra??o continua sendo apenas isto: uma utopia.

Entre uma data e outra, Fidel fez da Ilha uma pot?ncia ol?mpica, com medalhas e mais medalhas em v?rias modalidades esportivas. O comandante subverteu o quarto elemento tradicional que define um pa?s: a exist?ncia de uma equipe nacional de futebol - os outros s?o: um territ?rio, uma popula??o e um governo. Nos pa?ses abaixo da linha do Equador, o futebol sufoca os demais esportes. Vamos ?s Olimp?adas j? derrotados, com metas t?midas ao extremo.

Dir?o os torcedores de futebol que ? mil vezes melhor ganhar uma Copa do Mundo - como j? fizeram Brasil, Argentina e Uruguai - do que uma medalha de ouro nas Olimp?adas. Pode ser. O problema maior, por?m, est? na vis?o do esporte. Enquanto o m?tico jogador de voleibol de Cuba, Joel Despaigne, recusou uma oferta milion?ria para atuar na It?lia ("entro em quadra pelo povo cubano e n?o por dinheiro") os craques sul- americanos aceitam qualquer oferta de transfer?ncias para os gramados da Europa. Seguem o preceito de Wall Street: "se voc? pode ganhar um milh?o de d?lares e s? ganha 999 mil ? um idiota".

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No Brasil, a chance de integra??o nacional, sob o ponto de vista social do esporte, ? a Copa do Brasil. ? a ?nica competi??o que d? oportunidade aos clubes e aos torcedores do Piau?, Amazonas, Rond?nia e at? mesmo de estados mais desenvolvidos, como o Esp?rito Santo, de terem contato com os grandes times.

Em 1989, estava em Ibira?u, pequena cidade do Esp?rito Santo, na semana em que o time local, campe?o capixaba, enfrentaria o todo poderoso Gr?mio de Porto Alegre. O resultado do jogo n?o lembro mais (acho que o Gr?mio venceu por 3 a 0). Recordo-me com perfei??o de duas coisas: a atua??o fant?stica de Assis, o irm?o mais velho - e mais craque - de Ronaldinho Ga?cho, e a agita??o esportiva e social na regi?o.

N?o se falou em outra coisa durante toda a semana, em Ibira?u e nas cidades vizinhas. Os jogadores locais davam aut?grafos nas ruas, n?o porque fossem craques, mas porque iriam enfrentar um time de verdade.

Havia um cidad?o, que a exemplo do personagem do jegue de "O Bem Amado", de Dias Gomes, mudava de opini?o a toda hora. Quando estava s?brio, dizia que o Ibira?u perderia feio. Ap?s alguns copos de cacha?a, se enchia de brios e afirmava, com certeza, que o Verd?o venceria com facilidade em casa e empataria no Ol?mpico de Porto Alegre.

Chegou o dia do jogo. Parecia um com?cio pol?tico. Algu?m me disse que s? uma vez Ibira?u teve mais gente - justamente na visita do ent?o candidato a presidente da Rep?blica J?nio Quadros. A partida transcorreu normalmente e ningu?m ficou chateado com a derrota. Os mais afoitos conseguiram os "verdadeiros" aut?grafos, algumas mo?as (precursoras das loiras que hoje correm atr?s dos jogadores) acharam "lindos" todos os atletas do Gr?mio.

Mas, o que era doce acabou. A cidade se esvaziou, o jogo foi o assunto principal por mais uma semana e at? hoje h? exageros e lendas sobre a partida.

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Todo mundo tem o direito de trope?ar na vida. Apesar do empate contra o Ituiutaba, no s?bado, o Tupi segue l?der. Faltam 10 jogos e 69 dias para o Galo ser campe?o mineiro.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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