Futebol como herança

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Futebol como heran?a Na hora de escolher o time do cora??o,
muitos filhos "herdam" as escolhas dos pais

Fernanda Leonel
Rep?rter
20/07/2006

A hist?ria de "filho de peixe peixinho ?" costuma funcionar com o futebol tamb?m. Numa esp?cie de "hereditariedade" do esporte mais popular do Brasil, muitos filhos assumem a escolha dos pais, e passam a torcer pelo time do cora??o dos velhos.

Esse tipo de situa??o ? muito comum, de acordo com a psic?loga Carla Queir?z. Ela explica que transferir o time para o filho faz parte da cultura do brasileiro, que, na maioria das vezes, apaixonado futebol, acaba entendendo essa situa??o como uma esp?cie de "inicia??o" do filho.

Esse papel de incentivo fica, na grande maioria das vezes, com o pai, por uma mera quest?o de tradi??o e cultura. ? claro que h? casos e casos, como destaca a psic?loga, mas, normalmente , fica para o homem da casa o papel de repassar ao filho a id?ia do que ? o futebol.

Deixando de lado quem faz o que na cultura da bola, a quest?o ? que transferir o time do cora??o para o filho, acontece pelos mesmos mecanismos que explicam o fato de pais quererem identificar tra?os gen?ticos deles nos "filhotes".

Na pr?tica, repassar a paix?o por uma equipe, simboliza para um pai louco por futebol, o mesmo que ouvir um parente falando que o nariz ou a boca do pequeno ? igual ? dele. "E isso n?o ? exagero", garante Carla Queir?z, justificando que futebol trabalha com sentimento e com paix?o.

Judson Melo ? um exemplo disso. Herdou do pai e do irm?o a grande paix?o pelo Flamengo. "Costumo dizer que sou (Fla)n?tico", brinca o estudante de Internet e Redes de 20 anos.

O juizforano diz que tem certeza que a escolha do time tem tudo a ver com o seu pai, apesar de sempre deixar claro o seu time joga o suficiente para que ela seja um torcedor de carteirinha. Tanto ele, quanto o irm?o (o irm?o ? oito anos mais velho e tamb?m influenciou Judson), s?o flamenguistas por "hereditariedade".

Ritual para influenciar nessa "gen?tica" ? que n?o faltou. Em dia de jogo do flamengo, o pai chamava os filhos para frente da TV e fazia aquela comemora??o. Conta o estudante que os jogos vinham com direito a foguete, bandeira na sala, cerveja, tira-gosto e muita anima??o. " Se o flamengo ganhava, a gente punha o hino no som do carro, pegava a bandeira e sa?a para a rua", explica.

Desde pequeno, Judson tamb?m ganhava sapatinhos e macac?es nas cores rubro-negras. Foi uma crian?a daquelas que o pai vestia com as cores oficias do time do cora??o.

Mas a roupa mais especial da inf?ncia, Judson n?o tem d?vida de qual ?. Ele conta que, com mais ou menos seis anos, ganhou a primeira camiseta do time. O pai e o irm?o foram para o Maracan? e trouxeram a lembran?a para ele. "Era pequeno, mas lembro direitinho at? hoje, porque realmente senti uma emo??o muito forte".

Nada convencional
Rog?rio Ritter tamb?m foi influenciado pela fam?lia na hora de escolher o time do cora??o. Mas a sua hist?ria vem com um detalhe interessante. Ele ? gremista, fan?tico, por influ?ncia da... m?e!

N?o porque, nesse caso, o pai de Rog?rio tenha seguido um caminho diferente e tenha aberto espa?o para o convencimento da m?e. Rog?rio conta que o pai sempre perguntava para os dois filhos sobre futebol e ficava falando sobre o Internacional para eles. "Ele falava do time mesmo, queria mostrar para gente que o Colorado era o melhor", comenta.

Mas todo esse esfor?o n?o adiantou. Com uma m?e que adorava futebol e que tinha herdado do pai dela a paix?o pelo tricolor, Rog?rio acabou torcendo para o Gr?mio. O irm?o mais velho, ficou com o pai, e a paix?o pelos dois times rivais do Rio do Sul acabou repartida.

A gota d' ?gua para a indecis?o veio quando o Gr?mio foi campe?o mundial em 1983, explica Rog?rio, com aquela pitada de orgulho na justificativa. Depois dessa data hist?rica, o pai acabou entendendo, mesmo que "com uma pitada de decep??o", como brinca o filho.

H? alguns meses, Rog?rio se mudou do Sul para Juiz de Fora, mas n?o deixou de compartilhar com a m?e a paix?o pelo tricolor. "Ela sempre me liga para contar os resultados dos jogos, para gente compartilhar as vit?rias ou as derrotas".

J? morando em Juiz de Fora, o gremista diz que no fim do ano pasado, quando o time voltou ? primeira divis?o, ele ligou correndo para a m?e. Tudo para compartilhar com quem lhe repassou a paix?o pelo time, o quanto todas as unhas ru?das estava valendo a pena naquele momento.