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Armênio Guedes e Luiz Maranhão

Cláudio de Oliveira - Março 2015
 

O jornalista Armênio Guedes morreu aos 96 anos na última quinta-feira (12/03) em São Paulo. Foi um alto dirigente do antigo PCB e principal líder de uma ala interna chamada eurocomunista, favorável a um socialismo democrático e contrária ao modelo soviético, que ele considerava autoritário.

Estive com ele poucas vezes, e em uma delas pedi que falasse sobre o potiguar Luiz Ignacio Maranhão Filho, um dos 11 membros do Comitê Central do PCB a figurar na lista dos desaparecidos políticos mortos pelo regime ditatorial de 1964.

Luiz Maranhão foi professor do meu pai no Atheneu Norte-Rio-Grandense, fundador da Faculdade de Filosofia e Letras do Rio Grande do Norte e deputado estadual em 1958.

- Ele era um dos nossos - disse Armênio Guedes sobre Luiz Maranhão, numa referência ao grupo de renovadores que, pelo menos desde 1958, buscava superar a ortodoxia e propunha uma política de abertura e diálogo com outras forças políticas do país, envolvendo comunistas, socialistas, social-democratas e liberal-democratas. - Ele fez um bom trabalho junto à Igreja Católica, foi uma grande perda - contou Armênio.

Luiz Maranhão foi o responsável designado para dialogar com a hierarquia católica, como o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e o cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, o também potiguar Dom Eugênio Salles. O diálogo tinha como objetivo unir o país pela redemocratização. Naquele difícil período, submetido à clandestinidade, Luiz Maranhão usava o codinome de "o bispo", segundo outro dirigente partidário, Givaldo Siqueira.

Nos tempos atuais de debate sectário e intolerante nas redes sociais, em que adeptos de posições divergentes são vistos como inimigos a eliminar, eis duas figuras que merecem ser conhecidas e cujas trajetórias foram marcadas pela tolerância e pela capacidade de convivência democrática.

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Cláudio de Oliveira é jornalista e chargista.

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Sobre Armênio Guedes

Sandro Vaia. Armênio Guedes, sereno guerreiro da liberdade. São Paulo: Barcarolla, 2013. 254p.

Raimundo Santos (Org.). O marxismo político de Armênio Guedes. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Astrojildo Pereira & Contraponto, 2012. 208p.

Sobre Luiz Maranhão

Heloneida Studart. Luiz, o santo ateu. Natal: Ed. UFRN, 2006. 344p.

Maria Conceição Pinto de Góes. A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho. Cristãos e comunistas na construção da utopia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ & Revan, 1999. 270p.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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