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A classe operária virou reacionária?

Cláudio de Oliveira - Maio 2017
 

Leio que a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, foi a mais votada entre o operariado no primeiro turno da eleição presidencial da França. Fenômeno semelhante aconteceu com a vitória de Donald Trump em regiões industriais, outrora redutos do Partido Democrata.

Lembremo-nos de que em 1848 os alemães Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto comunista e saudaram a classe operária como a vanguarda redentora da Humanidade.

Segundo o historiador Eric Hobsbawn, no século XX, depois de 5 mil anos, a maioria da Humanidade deixou a agricultura e passou a trabalhar na indústria.

Mas, a partir da década de 1980, nos países desenvolvidos, as pessoas deixaram a indústria e passaram a trabalhar nos serviços, o setor que atualmente mais produz riqueza.

Em 2012 na França, a agricultura produzia 1,9% do PIB, a indústria, 18,3%, o comércio e serviços, 78,9%. É nesse setor que trabalhavam 71,8% dos franceses.

Nos Estados Unidos, os serviços representam 67,8% do PIB e nele trabalham 81% dos norte-americanos.

Mesmo no Brasil, de desenvolvimento médio, os serviços eram responsáveis por 65,8% do PIB em 2007. Enquanto isso, a agricultura respondia por 5,5% e a indústria por 28,7%. Nada mais nada menos de que 66% dos brasileiros então já trabalhavam naquele setor, enquanto 20% na agricultura e só 14% na indústria.

Mesmo na China, de industrialização tardia, o setor de serviços começa a predominar: 35,7% do PIB contra 29,5% da indústria e 34,8% da agricultura. O gigante asiático está deixando de ser a indústria manufatureira do mundo, ao investir pesadamente no setor de tecnologia.

Com a automação, a classe operária industrial tem se reduzido drasticamente e é cada vez mais um componente do passado. A indústria manufatureira parece não representar mais o futuro da Humanidade.

Talvez por isso setores expressivos do operariado tenham deixado se encantar por posições políticas regressivas.

Este novo mundo é que precisa ser decifrado pelos diferentes setores democráticos, entre eles as correntes de esquerda, muitas ainda presas ao Manifesto de 1848. A esquerda volta a ser, hoje, um Édipo diante da esfinge de Tebas, que lhe repete o enigma: "decifra-me ou te devoro".

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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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