Busca:     


O assédio ao PSB e o troca-troca partidário

Cláudio de Oliveira - Julho 2017
 

Leio que o Partido Socialista Brasileiro tem sido vítima de assédio do presidente Michel Temer e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. O objetivo de ambos seria cooptar parlamentares do PSB para engordar as bancadas do PMDB ou do DEM, na disputa que travam na votação da denúncia da PGR contra Temer.

Mais uma vez, um presidente da República incentiva o troca-troca partidário para formar apoio parlamentar, contribuindo novamente para a fragmentação partidária, a desmoralização do Congresso e o enfraquecimento dos partidos. Estes, pilares fundamentais da democracia representativa.

Um presidente democrata e republicano deveria buscar o apoio dos partidos em uma negociação institucional com os seus dirigentes, em bases programáticas e não em termos fisiológicos.

O Mensalão e o Petrolão

Eleito em 2002, sem maioria no Congresso, Lula estimulou o troca-troca partidário em detrimento da negociação institucional com os partidos. Corrompeu congressistas da oposição e inflou partidos neo-aliados, como o PTB, de Roberto Jefferson, o PR, de Valdemar Costa Neto, e o PP, de Paulo Maluf.

Foram exatamente PTB, PR e PP os partidos mais envolvidos no escândalo do Mensalão, que levou Lula a colocar oficialmente o PMDB no ministério em troca de apoio contra um possível processo de impeachment, então aventado pela OAB.

Como tem sido revelado pela Lava Jato, vêm dessa época os esquemas de propina de empresas prestadoras de serviços a estatais, como a Petrobras, para o financiamento ilegal de partidos, especialmente PT e PMDB.

No governo Dilma, a cooptação e a fragmentação partidárias continuaram com a nomeação do bispo da Igreja Universal, Marcelo Crivella, do PRB, para o Ministério da Pesca, e de Gilberto Kassab para o Ministério das Cidades. Com ajuda governamental, Kassab fundou o PSD, formado majoritariamente de políticos cooptados do DEM, reduzido então a duas dezenas de parlamentares.

O governo ainda incentivou a criação do PROS, partido ao qual se filiaram os irmãos Cid e Ciro Gomes, com o objetivo de, passada a eleição de 2014, esvaziar o PMDB no Congresso.

Não por acaso, uma das primeiras medidas do então recém-eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi impedir a criação de "partidos fictícios" [1]. O deputado e o PMDB exigiram a demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação.

As tentativas da cúpula petista de enfraquecer o comando do PMDB foram mais um dos motivos que levaram o partido a aderir à campanha do impeachment de Dilma.

Temer perde a oportunidade de ser um novo Itamar Franco, que, justiça se faça, tratou o Congresso e os partidos de forma muito mais democrática e séria do que seus sucessores.

Com esse "presidencialismo de coalizão" jamais teremos partidos consolidados, pondo sempre em risco o regime democrático e abrindo as portas para a entrada de salvadores da pátria e defensores de "mão forte" para moralizar o sistema político.

Foi assim que Fernando Collor se elegeu presidente da República, em 1989, depois de cinco anos do "é dando que se recebe" do presidente José Sarney.

Nada é por acaso.

P.S.: Lembremo-nos ainda das denúncias de compra de deputados para a aprovação da emenda da reeleição, que maculou o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.

----------

Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

----------

[1] PMDB vai questionar na Justiça criação de partidos, Folha de S. Paulo, 3 fev. 2015, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/206717-pmdb-vai-questionar-na-justica-criacao-de-partidos.shtml

----------

A derrota de Cunha e a dissolução do "Novo Centrão"
Temer Sarney ou Temer Itamar?
As relações China-EUA e o Brasil
A "Geringonça" no Brasil
"Contabilidade criativa", "pedaladas" e contas públicas
A classe operária virou reacionária?



Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

  •