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Vergonha mundial

Lúcio Flávio Pinto - Abril 2019
 


Parecia que o Brasil chegara ao máximo de desmoralização internacional quando, quase 10 anos atrás, a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, discursando na Conferência do Clima, em Copenhague, afirmou que o "meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável".

Os menos espantados intérpretes da vergonhosa cena sustentam que foi uma simples troca. Onde estaria escrito "aquecimento global", justamente o tema da reunião, a futura presidente conseguiu ler "meio ambiente". Sem perceber a troca, ela completou: "Isso significa que é uma ameaça para o futuro do nosso planeta e dos nossos países".

Conspirou contra essa boa vontade a sucessão de frases estapafúrdias da sucessora de Lula, como a "saudação à mandioca" e a distinção entre "homens e mulheres sapiens", entre tantas asneiras no circuito doméstico. No plenário mundial da ONU, em 2015, no auge do seu segundo mandato presidencial, ela apregoou a necessidade de se criar uma tecnologia para "estocar vento".

Todo o besteirol do "dilmês" vira brincadeira infantil diante do que acaba de sentenciar o presidente Jair Bolsonaro. Em Israel, o ex-capitão fez coro ao seu bestialógico chanceler, Ernesto Araújo, de que o nazismo foi uma criação da esquerda.

Em milhares de pesquisas e livros, muito já foi dito sobre o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e seu líder maior, Adolf Hitler, menos essa estupidez. Mesmo os neonazistas dos nossos dias se confessam de direita e não escondem que, podendo, matariam todos os esquerdistas que encontrassem, assim como os homossexuais, os negros e, naturalmente, os judeus. Para eles, esses alvos não podem ser ignorados, porque neles estão sempre incluídos.

Não vou me permitir demonstrar essa verdade. Vou só citar o triste destino de Walter Benjamin. Grande intelectual de esquerda e judeu, foi expulso da Alemanha hitlerista e se suicidou por receio de cair nas mãos da Gestapo, a selvagem polícia secreta dos nazistas.

Assistindo a primária, incivilizada e estúpida performance de Bolsonaro diante das câmeras em Israel, me deu vergonha de ser brasileiro com tal presidente da república.

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Lúcio Flávio Pinto é o editor da Agenda amazônica de um jornalismo de combate. Entre outros, é autor de Na trincheira da verdade. Meio século de jornalismo na Amazônia (2017) e A tragédia de Santarém (Prelúdio do AI-5 na Amazônia).

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Fonte: Jornal Pessoal & Gramsci e o Brasil.

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