O mundo está envolvido em um processo alucinante de mudanças, que na vida cotidiana muitas vezes não conseguimos acompanhar, diz Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial.
De fato, se o século passado foi marcado pela velocidade das mudanças, hoje vemos a aceleração destas. O que parece coisa distante, de repente, já se encontra entre nós: engenharia genética, veÃculos não tripulados, impressoras 3D, nanotecnologia, biotecnologia, internet das coisas, robótica e inteligência artificial.
Vivemos a Quarta Revolução Industrial, com a fusão dos domÃnios fÃsicos, digitais e biológicos, impulsionada pela biotecnologia e pela inteligência artificial. Isso começa a abrir, para o homem, a possibilidade da imortalidade, da felicidade e da divindade, ou seja, sua transformação em
Homo Deus, nas palavras do israelense Yuval Harari, com três livros entre os cinco mais vendidos da
Veja.
Na perspectiva da história da humanidade, nunca houve um momento tão potencialmente promissor e ao mesmo tempo tão perigoso. Diante disso tudo, não há como pensar nossa vida pessoal e profissional, o desenvolvimento do paÃs e das nossas cidades, sem olhar para os problemas de hoje, com o olhar prospectivo das grandes ameaças e possibilidades.
As mudanças climáticas, em escala global, nos atingem em todos os lugares do mundo. As queimadas em nossa região produzem efeitos danosos em várias outros lugares do paÃs. O mundo olha nossa Amazônia como maior reserva de biodiversidade do planeta. Estão aà as chuvas cada vez mais volumosas e frequentes, danificando nossas infraestruturas urbanas. O aumento da temperatura global deverá repaginar a produção agrÃcola dos paÃses e regiões. A própria pecuária poderá ser ameaçada pela questão ambiental.
A questão energética vai impulsionando mudanças na direção de energias limpas e sustentáveis, como a solar, a dos ventos e o aproveitamento das ondas do mar. Os meios de transportes correm hoje na direção da sustentabilidade. Trens de baixo consumo começam a recarregar suas baterias a partir do próprio movimento.
No mundo do trabalho vive-se a perspectiva de tornar as pessoas descartáveis e irrelevantes. Os robôs vão substituindo as pessoas com grande economia. O que faremos com elas? Vivemos um desemprego enorme no Brasil, com crescente "precarização" do trabalho, sob
o impulso da intensa uberização das atividades humanas. Como me disse um amigo: hoje, se abrirem vagas para escravos, remunerados por comida e moradia, as filas serão enormes.
Retomado o crescimento econômico, nada garante que os mesmos trabalhadores retornarão aos seus empregos. Nesta semana foi publicado relatório do Sine indicando que, das 481.485 vagas ofertadas até maio, apenas 37% delas foram ocupadas.
Nossas cidades vivem um verdadeiro "apagão da mobilidade", com seu trânsito caótico e engarrafamentos crônicos. Várias respostas a esse problema já são visÃveis em outras paragens, tanto no transporte de massas como no transporte individual.
Estão vindo aÃ, com muita rapidez, os carros e ônibus sem motoristas, movidos por combustÃveis renováveis. Daqui a pouco tempo conviveremos com os veÃculos aéreos sem piloto. A própria questão do transporte individual está em xeque.
Em breve os edifÃcios não precisarão mais de garagens, pois veremos a completa uberização do transporte. Ou então as vagas serão mÃnimas, apenas suficientes para os carros compartilhados do condomÃnio. A separação tradicional entre local de trabalho e de moradia perderá muito o sentido. Os edifÃcios precisarão, sim, ter locais de
coworking e heliportos. Será que os códigos de obras serão permeáveis a essa mudanças?
Tais questões, de alta relevância, terão que ser resolvidas. Quem, na sociedade e nos governos, está cuidando disso?
Esse é o desafio das lideranças, que devem buscar ter o olhar da águia e não o das galinhas e patos dos quintais.
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Engenheiro civil, professor aposentado da UFMS