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A sociologia crítica de Octavio Ianni

Filipe Reis Melo - Junho 2006
 

Marcos Costa Lima (org.). A sociologia crítica de Octavio Ianni: uma homenagem. Recife: UFPE, 2005. 51p.

Este pequeno livro é uma homenagem a Octavio Ianni, falecido no dia 4 de abril de 2004, realizada pelos professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Costa Lima (organizador), Michel Zaidan Filho, Ricardo L. L. Santiago e Denis A. de M. Bernardes, na qual os autores se debruçam sobre o trabalho desse sociólogo, ressaltando aspectos de sua obra e de sua personalidade.

Ao escrever o primeiro capítulo, "Octavio Ianni e o labirinto da modernidade", Costa Lima escolhe comentar dois livros de Ianni (O colapso do populismo no Brasil; e Sociologia da sociologia latino-americana) e três artigos ("A crise de paradigmas na sociologia", "A sociologia e o mundo moderno" e "O Estado-Nação na época da globalização"), com os quais mais se identifica. Como bem diz Costa Lima, a obra de Ianni é demasiado vasta para poder ser analisada num só livro, mas é possível listar os temas que se destacam ao longo de sua obra.

É oportuno o resgate que faz Costa Lima de discussões feitas por Ianni sobre a epistemologia nas Ciências Sociais nos tempos que correm, caracterizadas pela prevalência do "pensamento único" que também influencia e parece querer moldar alguns cientistas sociais. Costa Lima ressalta a atualíssima preocupação de Ianni com o fato de se aceitar a ciência como panacéia, negligenciando determinados usos da ciência que agravam a questão social ou desumanizam as relações humanas.

No segundo capítulo, "Em memória do sociólogo Octavio Ianni", Zaidan divide a obra de Ianni em três fases: a dos estudos sobre escravidão negra no Brasil; a dos estudos sobre o populismo e a industrialização na América Latina e no Brasil; e a dos estudos sobre imperialismo e cultura. Considera a segunda fase como a mais rica e coincide com Costa Lima ao citar O colapso do populismo no Brasil, que analisa o processo político que levou ao golpe de 1964, como uma das principais obras de Ianni. Zaidan chama a atenção para a terceira fase, onde Ianni analisa o processo de globalização, e a considera uma "resposta necessária" num período em que a "Nação foi vendida a preço de banana".

Santiago escreve o terceiro capítulo, "As ciências sociais e a globalização: lembrando Octavio Ianni", no qual manifesta a importância da obra de Ianni, na sua formação universitária no curso de Ciências Sociais, como um dos representantes da corrente do pensamento crítico brasileiro. No entanto, nessa homenagem, prefere "pinçar" alguns escritos sobre a globalização. Lembra ainda três características de Ianni: a posição coerente que perpassa toda a sua obra, a sua posição sem dogmatismos e a disposição e abertura às críticas.

O quarto e último capítulo, "Octavio Ianni e a Questão Nordeste", é uma homenagem de Bernardes, ao relembrar sua experiência pessoal no "Seminário sobre História Econômica do Nordeste", que teve lugar no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFPE em 1979, e do qual Ianni foi um dos palestrantes convidados. Bernardes descreve o contexto sociopolítico brasileiro da época e relembra o impacto que a palestra de Ianni, intitulada "A Questão Nordeste e a democracia", gerou entre os participantes. Bernardes cita trechos da conferência de Ianni e quer assinalar a sua coragem ao se distanciar das abordagens economicistas sobre a Questão Nordeste e ao chamar a atenção para a questão agrária regional que reproduzia padrões históricos de exploração dos trabalhadores. Desta forma, Bernardes quis revelar um aspecto pouco comentado do pensamento de Ianni, que é sua posição quanto aos problemas da região Nordeste, bem como ressaltar sua "inteligência e sensibilidade".

Aos estudantes mais jovens que ainda não tiveram contato com o pensamento do renomado sociólogo, a leitura deste livro oferece a oportunidade de uma primeira aproximação, em linhas gerais, aos temas tratados por Octavio Ianni em sua extensa obra. Àqueles que já estão familiarizados com o seu trabalho, o livro representa um convite a participar desta homenagem, bem como conhecer o testemunho de quatro intelectuais que conhecem de perto o trabalho de Ianni e que tiveram a iniciativa de lhe prestar esta significativa homenagem.

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Filipe Reis Melo é doutor em Ciência Política pela Universidade de Deusto, País Basco, Espanha.



Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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