Sábado, 16 de novembro de 2019, atualizada às 10h35

Grupo Gerados em Amor promove encontro de famílias adotivas de Juiz de Fora   

Angeliza Lopes
Repórter

Iniciar processo de adoção no Brasil é para grande parte das futuras mães e pais um processo gestacional, que diferente do convencional, pode durar anos. Todos os trâmites legais somados ao tempo de espera pelo tão sonhado filho ou filha são um desafio angustiante para as pessoas e casais inscritos como pretendentes à adoção no novo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) - que passou a valer a partir de outubro, substituindo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Para minimizar o sofrimento causado pela trajetória, foi criado há mais de três anos em Juiz de Fora o grupo Gerados em Amor.

O projeto nasceu da alegria gerada pelo nascimento de Miguel, primeiro filho da enfermeira Ana Borges Milione. Depois de passar longo período de sofrimento, muitos questionamentos, angústias, momentos de esperança que se misturavam com desesperança, causada pela espera no SNA, a idealizadora sentiu que suas dores poderiam ser as mesmas de outros casais. “Junto com o processo, passei por tratamentos para tentar engravidar. Sentia uma solidão absurda, tive que enfrentar paradigmas, preconceitos e regras que a sociedade dita. Com a felicidade pela chegada do meu filho, quis ajudar essas pessoas a amenizar todo o sofrimento através da partilha de conhecimento, experiências e vivências”, detalha.

Durante período de formação, o grupo de WhatsApp, com 70 pessoas, já realizou dois encontros e prevê, em breve, agendar uma confraternização ainda para este ano, além de evento mais elaborado em 2020, com bate-papo e profissionais que possam debater questões pertinentes com as mães pela adoção. “Um ano e três meses depois do Miguel, meu segundo filho Teozinho nasceu. Com duas crianças e trabalhando fora não é tão simples juntar grupos grandes, mas em breve vamos organizar novas atividades”, explica Ana, lembrando que será criado um perfil no Instagram do grupo para facilitar interação e aproximação de novos integrantes.

Segundo a assistente social da Vara da Infância, Ana Maria de Paula Souza, o projeto é um espaço que agrega e fortalece envolvidos com processo de adoção na cidade. “Organizado pela sociedade civil, o grupo aproxima famílias que adotaram irmãos, por exemplo, e muitos casais que estão em processo de habilitação. A Vara tem apoiado a iniciativa que é muito importante e oferece grande apoio”.  Quem tiver interesse em conhecer o Gerados em Amor, pode entrar em contato com a Vara da Infância, que fica na Avenida Brasil, nº 1.000, sala 307.

A enfermeira relata que a maioria das participantes está no processo de habilitação ou espera pelo SNA. Os encontros já realizados mostraram o quanto é importante o diálogo, o desabafo e troca entre mulheres que já passaram por toda esta fase e as que estão passando. “Queremos oferecer, além da convivência, que por si só já é muito importante, conteúdo que possam agregar conhecimento ao grupo. Teve um evento que montamos espaço multicultural com psicólogos, assistente social”.

Para um futuro, a organizadora não descarta a formalização do grupo como Organização Não Governamental (ONG) ou associação.

Da dor ao amor

A idealizadora do grupo Gerados em Amor conta que até a chegada de seus filhos, passou por momentos muito difíceis com perdas gestacionais, tratamentos para engravidar sem êxito, tudo junto com a habilitação para a adoção. “No dia que descobri que eu tinha uma síndrome que não me permitia levar a gestação adiante, horas depois recebi a ligação do nascimento do meu filho Miguel. No mesmo dia, me senti no fundo do poço e veio a grande notícia! Foi inesquecível! Eu não dormi, a ansiedade foi tão grande que não conseguia respirar esperando a hora de ir conhecê-lo. O acompanhei por três dias no hospital, pois nasceu prematuro”. Ela completa que como no perfil de adoção o casal optou por crianças de zero a três anos, não tinha como organizar enxoval com antecedência. “Compramos tudo em 24 horas”.

Ana afirma que hoje entende que tinha que passar por tudo isso. “Eles tinham que ser meus filhos e eu tinha que ser mãe deles. Eu e meu esposo tínhamos que ser a família deles! Uma família gerada no amor. São meus filhos de maneira incondicional. Minha gestação durou três anos e hoje somos muito felizes. A questão da adoção é algo muito bem resolvido entre a gente, sempre falamos da questão, que eles não nasceram da barriga da mamãe, e, de acordo com a maturidade deles, falamos mais um pouco”.

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