A arte do tear Mesmo com a tecelagem industrial, o tear artesanal
tem seu lugar ao sol garantido

 

Sílvia Zoche
Repórter
17/03/2007

Você já deve ter visto e até pode ser que tenha alguma peça em casa feita de tear. O tear é uma máquina de tecer fio, que os transforma em tecidos. As confecções, por exemplo, possuem tais equipamentos, que produzem tecidos em grande quantidade. Mas ainda há quem trabalhe com o tear artesanal, manual.

Este é o caso da artesã e estilista Érika Senra, que começou a arte da tecelagem artesanal há cerca de 18 anos, por acaso, destino ou qualquer outro nome que se possa dar. Ela ganhou uma sacola cheia de retalhos e não sabia o que fazer.

Pensou bem e pegou uma porta velha que estava em um canto da casa, pregou uns pregos de cada lado. Rasgou os retalhos em tiras e passou uma tira para cima e outra para baixo. A intenção disso tudo? Fazer uma colcha de tear. "Totalmente rudimentar", diz.

Mas ela não se deu por satisfeita. Ela queria continuar com a tecelagem, mas de uma forma mais fácil. Foi à Ibitipoca e procurou por Benevinda, ou dona Vivida, como a chamam. "Em uma semana aprendi muita coisa com ela". No mesmo lugar ela comprou seu primeiro tear artesanal. "Comprei da filha de uma tecelã que estava vindo para Juiz de Fora", lembra.

Tempos depois, adquiriu seu segundo tear e aprendeu o estilo de tecelagem chilena. "Foi com a Joana que me deu boas dicas sobre o tear mineiro também. Acho mais bonito e dá um tear legal", comenta.

No começo, ela fazia colchas, toalhas, tudo que era mais relacionado a casa. Mas ela resolveu dar uma nova leitura a este trabalho e começou a fazer biquínis, casacos, carteiras para guardar dinheiro com um estilo mais sofisticado, calças, cintos... Tudo o que a imaginação mandasse e que ainda manda. "Foi a união da curiosidade da moda com o mais tradicional", explica Érika.

Foto de uma bolsa feita de tear Foto de uma bolsa feita de tear

Para quem usar o tear, é preciso ter os panos. Atualmente, Érika está gostando de trabalhar com a lona, que rasga em tiras, tinge da cor que deseja (com tinta para tecido mesmo) e une os pedaços costurando-os. "Mas é um momento. Isso não significa que só trabalho com lona". Tanto que os xales, que ela já se prepara para fazer na próxima estação, são feitos normalmente com linha e lã.

Foto de uma bolsa feita de tear A confecção dos produtos vão além do tear. Os detalhes também são importantes. Ela usa renda, fitas de cetim, hamp e outras fibras para dar um toque especial. "Estou sempre pesquisando novas linhas, tingimentos e texturas", revela Érika.

Mas Érika pretende passar o que ensinou a outras pessoas através de cursos, que está planejando montar. Até que o projeto saia do papel, ela explica alguns detalhes de como funcionar o tear. Existe a urdidura e a trama.

A urdidura são as linhas colocadas no tear, na vertical e passam pelo pente e liço (são eles levantam e abaixam os fios da urdidura para que a trama passe).

Urdindo Urdidura
Foto da urdidura, que é na vertical Urdindo
Tecendo Tecendo

A trama são as linhas que se trabalham na horizontal, depois que se colocou a urdidura no tear, com auxílio de uma espécie de agulha. Não é fácil, mas nada tão difícil que não possa ser colocado em prática com um um pouco de força de vontade.