No meio de tudo
A dif?cil rela??o entre padrastos, madrastas e enteados

Fl?via Machado
04/01/02

Muitas vezes, um segundo casamento ? sin?nimo de filhos a mais. E o come?o de uma rela??o, que prometia ser um mar de rosas, pode ficar bastante tumultuado. A entrada de ?terceiros? numa fam?lia acarreta ci?mes, invas?o de espa?o e uma nova ordem dentro da casa. A receita para uma adapta??o sadia, ou pelo menos aceit?vel, na opini?o da psic?loga da Cl?nica da Fam?lia ( Av. Rio Branco, 3408), Ana Stuart, ? simplesmente dizer a verdade e entrar de cora??o aberto nas rela?es. ?Quando uma rela??o entre padrasto e enteado acontece de maneira natural e sem jogos, a crian?a ou o adolescente aceita melhor e compreende a verdadeira inten??o do futuro candidato a pai", acredita.

At? chegar neste ponto, no entanto, n?o ? nada f?cil. As poss?veis complica?es numa rela??o deste tipo v?o depender, como esclarece a psic?loga, da personalidade das pessoas envolvidas e tamb?m de como era a conviv?ncia anterior das crian?as. Neste ?ltimo caso, quanto menor a crian?a maior a aceita??o em rela??o a padrastos ou madrastas, j? que n?o h? uma percep??o ou um par?metro completamente definido de valores por parte da crian?a. A maturidade do casal tamb?m influencia e vai ser muito importante para a compreens?o dos fatos.

Nem tudo s?o espinhos

Na opini?o de Ana Stuart, muitas vezes um padrasto ou uma madrasta s?o necess?rios. Geralmente, quando a m?e ou o pai n?o est?o dando conta de criar seus filhos sozinhos, existe a possibilidade de que uma pessoa de fora compreenda melhor os fatos e consiga contornar problemas e desentendimentos, ou que simplesmente ajude a educ?-los.

A auxiliar administrativa, Luciana Arcuri, viveu uma situa??o bem-sucedida. Ela passou por uma separa??o quando seu filho, Pablo, tinha apenas cinco meses de idade. Quando ele estava com quase dois anos ela casou-se novamente e a conviv?ncia entre padrasto e enteado n?o poderia ser melhor. ?De cara, o relacionamento entre os dois foi perfeito, mesmo porque o Camilo (atual esposo) adora crian?as?, conta ela. O ?nico problema que enfrentou na ?poca foi o ci?mes de seu ex-marido, que n?o admitia que o filho chamasse o padrasto de pai. ?Hoje, com 14 anos, Pablo leva bronca do padrasto, se for necess?rio. E ningu?m diz que eles n?o s?o pai e filho?, garante Luciana.

Cada caso ? um caso

Por viuvez, div?rcio, separa??o ou simples namoro, existem diversas formas de encontrar um enteado pela frente. Mas as raz?es envolvidas s?o praticamente as mesmas, como ci?mes, incompreens?o, imaturidade, ego?smo. As consequ?ncias s?o brigas, chatea??o e uma poss?vel dissolu??o da rela??o ou mesmo do n?cleo envolvido sob um teto em comum, ou seja, algu?m sai de casa por n?o concordar com a situa??o, seja o filho ou o padrasto/madrasta. Para n?o chegar neste ponto - alerta a psic?loga - ?s? mesmo uma terapia familiar para entender o que est? acontecendo e tentar resolver os problemas.?

Em nenhuma das fam?lias, no entanto, o resultado da experi?ncia vai acontecer da mesma maneira. Alguns casos s?o cl?ssicos e cit?-los aqui pode facilitar a compreens?o dos fatos para as pessoas envolvidas.

Homem divorciado com filhos casa-se novamente. Sua nova esposa tamb?m tem filhos e ele passa a morar na casa dela, portanto, com os filhos dela e deixando seus filhos leg?timos com a sua primeira esposa. De acordo com a psic?loga, duas situa?es costumam ser definidas nestes casos. O agora padrasto passa a assumir o papel de paiz?o dos seus enteados, pois ele quer proporcionar o melhor para sua nova fam?lia, j? que n?o conseguia faz?-lo com a anterior por poss?veis brigas ou complica?es do div?rcio. Esta atitude pode levar os filhos leg?timos a ficarem com ci?mes do pai por agir daquela forma com seus enteados. Ou ent?o, o pr?prio padrasto vai sentir-se culpado com a situa??o e criar uma ?barreira emocional?, pois ele acredita que com seus filhos leg?timos ele n?o foi um pai exemplar e n?o poder? ser tamb?m com seus enteados. O fator culpa ? o que determina aqui o desentendimento.

Adolescente que mora com a m?e vi?va e sente-se o dono da casa. A m?e casa-se novamente. Duas hip?teses s?o sugeridas por Ana Stuart neste caso. A primeira delas ? que o seu filho vai se incomodar a princ?pio, mas logo depois vai aceitar a situa??o, pois sente-se mais livre e menos preocupado com a solid?o da m?e. A outra vai ser a competi??o dentro da casa, seja por espa?o ou por qualquer coisa. A competi??o pode ser velada e hostil, ou seja, dura mas de maneira aceit?vel, ou verbal e insuport?vel, isso quer dizer que as brigas ser?o escancaradas e a conviv?ncia sob um mesmo teto torna-se imposs?vel.

Mulher casa-se com homem divorciado que j? tem filhos. No come?o h? uma rela??o saud?vel com todos, mas ap?s alguns anos a mulher tem seu primeiro filho e a conviv?ncia muda, pois ela acredita que o marido come?a a diferenciar os filhos dele com a esposa anterior, do rec?m-nascido. O que leva a esta situa??o, segundo Ana Stuart, ? que o marido pode vir a agir diferente com seus filhos por ci?mes do rec?m-nascido, o que normalmente acontece com filhos leg?timos. Mas a atual esposa n?o compreende o quadro e acaba confrontando-se com o marido e, principalmente, com seus enteados.


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