Separação: homem também chora
Ao contrário do que dizem, os homens também sofrem quando o casamento chega ao fim, principalmente, quando o motivo é traição
*Colaboração
01/12/2007
Não tem jeito, quando o assunto é separação o sofrimento é inevitável para todas as partes envolvidas. Mulheres e crianças são sempre os que mais sofrem quando um casamento chega ao fim, certo? Errado. Os homens também compartilham dessa dor.
Engana-se quem pensa que o chamado 'sexo forte' não se altera quando o divórcio se torna uma realidade. Eles apresentam um sofrimento muito semelhante ao da mulher, porém, segundo a psicóloga Maria Lúcia Beraldo, vivem a situação sob um outro ângulo.
"Ao contrário da mulher, que dá uma conotação mais sentimental ao casamento,
quando decide se casar, o homem vê a mulher como um novo projeto de vida e quando
isso não dá certo, a frustração é muito grande"
, garante Maria Lúcia.
A psicóloga explica que o homem passa por um período de 'luto' em que se revolta
com a mulher que não soube amá-lo o suficiente, com a sociedade que a todo tempo
lhe cobra um casamento perfeito e com ele mesmo que também contribuiu para a falência
dessa relação.
O protético, Edilson Dias, foi casado por dez anos e há quatro se
separou. Ele conta que foi um período muito difícil."Meu casamento já não estava
bom, mas quando ela decidiu que não dava mais, meu mundo caiu. Fiquei sem chão, meio
perdido, foi uma fase muito dolorosa para mim"
, recorda.
Além disso, ao sair de casa, o homem não abre mão só da relação amorosa, mas do convívio com os filhos, com os amigos em comum, da cumplicidade de um casal, enfim, ele se divorcia de tudo. E esse divórcio lhe causa muita estranheza, ele sente que perdeu a sua identidade de homem casado.
Segundo Maria Lúcia, a própria sociedade exclui o homem divorciado de seu convívio.
"Ele deixa de ser convidado para festas, os amigos se afastam e a sensação de
vazio permanece porque na verdade, o casamento é uma grande âncora social"
, diz.
Sem filhos, Edilson não sentiu muito essa parada na vida social.
"Para não me
verem sofrer, meus amigos e minha família estavam sempre inventando algo para eu
fazer. Sem o apoio deles, não teria conseguido superar"
, garante.
Pesquisas apontam para o fato de que homens e mulheres enxergam o casamento de maneiras diferentes. Enquanto elas buscam um relacionamento amoroso, eles querem a construção de uma família. Quando a relação se deteriora, a mulher busca alternativas para melhorá-la, já o homem se acomoda quando a família está funcionando bem.
Para Maria Lúcia, o homem se ampara na postura machista do adultério para manter
o status do casamento. "Se a mulher é uma boa esposa, a casa está sempre
limpa e as crianças bem educadas, não há porque se separar. Para se satisfazer
sexualmente, ele pode recorrer a uma outra (ou várias) mulher(es), sem precisar
sair de casa"
, relata.
Segundo a psicóloga, um casamento não dá certo por dois motivos: ou o casal é
inábil para lidar com os conflitos naturais de um relacionamento ou o casamento
foi uma decisão impulsiva e não deveria ter acontecido, em ambos os casos, é frustrante.
"Ou o homem se frustra por não conseguir resolver seus problemas conjugais ou
por não ter sabido escolher"
- explica Maria Lúcia.
O outro lado da traição
Em relação à traição, Maria Lúcia afirma que as reações são muito parecidas, mas que os homens ainda têm uma postura bastante machista. Sua percepção lhe mostra que a aceitação da escapadela feminina depende muito do que está em jogo e da criação que esse homem teve.
Sendo o casamento uma empresa, se o aspecto financeiro não for afetado e indivíduo
não for extremamente machista, a traição é aceita por eles, assim como o é por elas.
Mas, se por outro lado, o machismo é muito forte na personalidade, a traição toma
outras conotações.
"Saber que a mulher está transando com outro dá um sentimento de invasão de
privacidade, mesmo que ele já não sinta mais desejo pela esposa. Na maioria das
vezes, aceitar isso é tão difícil para eles, quanto é para elas aceitar que seu
marido está apaixonado por outra"
, avalia Maria Lúcia.
Mas a psicóloga pondera que a traição pode ter o poder de juntar o casal novamente.
"Não estou fazendo apologia da traição, mas é comprovado que saber que o cônjuge
desperta o desejo de outra pessoa, pode fazer com que homens e mulheres repensem
as próprias atitudes"
. Mas isso é relativo, depende das pessoas envolvidas, pois,
ao mesmo tempo em que altera a libido e ajuda a restabelecer a relação, ela pode
despertar uma enorme raiva.
As relações amorosas são um território sem lei, não há regras prontas que garantam a felicidade e a harmonia de um casamento. Embora os estereótipos sejam mantidos, as reações e os sentimentos dependem muito da história de vida de cada um.
*Marinella Souza é estudante de Comunicação Social da UFJF