Habita Vida

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Construindo o futuro Projeto reforma casas e muda a vida de comunidades carentes

Deborah Moratori
Rep?rter
19/03/03

J? foram dois bairros, mais de 40 moradias reformadas e cerca de 200 pessoas beneficiadas diretamente. Esse ? o trabalho da equipe do Habita Vida, um projeto que cuida da revitaliza??o est?tica de casas em regi?es carentes de Juiz de Fora e trabalha com o resgate da cidadania dos moradores dessas comunidades.

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O Habita Vida surgiu em 1997 quando a idealizadora, Rachel Falc?o, pensou em criar um projeto que pudesse intervir no visual da cidade, tornando-a mais bonita. "E a inten??o era desenvolver um trabalho de car?ter social".

A partir do interesse, Rachel passou a observar a cidade e analisar onde seria o melhor local para a realiza??o do projeto. "A id?ia era escolher um lugar cujo aspecto sensorial pud?ssemos mudar. Seria uma esp?cie de interven??o est?tica com o objetivo de fazer com que as pessoas sintam a cidade de uma forma melhor".

Professora substituta do curso de Artes da UFJF na ?poca e vivendo a experi?ncia de estar construindo a casa pr?pria usando materiais "alternativos", Rachel decidiu levar o projeto para a sala de aula. "A inten??o era trabalhar e criar esses materiais alternativos. Aprender a fazer tintas artesanais ? base de cal e pesquisar materiais reciclados que pudessem ser explorados em um detalhe de decora??o", explica. "Est?vamos trabalhando na busca de materiais mais baratos, esteticamente interessantes e que pudessem ser feitos pelos pr?prios moradores na reforma da casa".

Em 1998 a id?ia virou realidade quando se tornou um projeto de extens?o da UFJF. "Nessa fase, o projeto estava sendo testado em laborat?rio antes de ser aplicado na pr?tica". No ano seguinte surgiu o convite de o projeto ser inclu?do entre os trabalhos da ONG Permear (Programa de Estudos e Revitaliza??o da Mem?ria Arquitet?nica e Art?stica) que atua na preserva??o e revitaliza??o da mem?ria arquitet?nica e art?stica de Juiz de Fora e regi?o. "O convite surgiu justamente porque o desenvolvimento de materiais artesanais, o resgate de t?cnicas tradicionais, do saber fazer ? uma das vertentes da ONG", justifica. A partir da?, o Habita Vida, contou com a participa??o de arquitetos que trabalharam no desenvolvimento do reboco de cal e areia, sem cimento.

Do laborat?rio para a parede
Finalmente em 2000, o projeto foi levado a campo. A parceria entre a ONG e a UFJF, com a verba da Emcasa, possibilitou a reforma de seis casas no bairro Linhares. "Era o projeto piloto, em que a equipe envolvida testaria os materiais desenvolvidos."

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"No local n?s trabalhamos no acabamento das moradias, com o reboco e pintura externa das casas, e com a parte de paisagismo do entorno da casa", conta a arquiteta, L?via Andrade, coordenadora do Habita Vida. O trabalho foi desenvolvido em esquema de mutir?o. "Os moradores participavam da reforma e pagavam o material disponibilizado pela prefeitura em pequenas parcelas de R$ 20", explica. "Fazer com que os moradores participassem da reforma e estivessem aprendendo ? um dos pontos principais do projeto. Fazer com que eles estejam envolvidos com o trabalho ? uma maneira de estimul?-los a continuar a reforma dentro de casa. E ensin?-los a fazer o material permite que eles utilizem esse conhecimento de uma forma profissional", acrescenta Rachel.

Antes da reforma, de acordo com L?via, a equipe faz um trabalho inicial em que apresenta o projeto, mostra os materiais que v?o ser trabalhados, explica que esses materiais artesanais s?o uma boa op??o para serem utilizados e n?o uma falta de op??o. "S?o mostradas as fotos de casas que j? foram reformadas, slides, livros... Al?m disso, todos os detalhes s?o escolhidos por eles. Eles recebem o desenho da fachada da casa e ficam livres para sugerir as cores das tintas para as paredes, janelas e portas, um acabamento diferente", completa a arquiteta.

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Novo endere?o
Aprovado o projeto, a pr?xima etapa era escolher uma nova ?rea degradada, no centro da cidade, e que servisse de modelo para o futuro. Depois de concluir um conv?nio com a Cohab-MG - Companhia de Habita??o do Estado de Minas Gerais - que disponibilizou o empr?stimo para a continuidade do trabalho uma nova ?rea passou a ser beneficiada.

O local escolhido foi a Rua Pirapora, no bairro Dom Bosco, no trecho entre a Avenida independ?ncia e a Rua Belo Vale. "O local era perfeito: no centro da cidade, aos olhos de todos, no caminho para o hospital, para o aeroporto e na entrada e sa?da para o Rio de Janeiro", destaca Rachel.

"O problema ? que o local precisava de um trabalho al?m do previsto", explica L?via. "A comunidade era muito carente de infra-estrutura. Al?m de pequenas e grandes reformas nas casas, foi preciso mobilizar a prefeitura para que disponibilizasse para o local rede de ?gua e esgoto, sistema de coleta e lixo, ilumina??o el?trica".

Os trabalhos na rua continuam sendo desenvolvidos. "Agora estamos na etapa final de paisagismo", conta L?via. Ao todo 35 casas foram reformadas e 140 moradores beneficiados diretamente. As atividades seguiram o mesmo esquema do projeto piloto. "Os moradores aprendem a fazer a tinta e o reboco e trabalham junto com a equipe para manter o servi?o depois e para que o projeto tamb?m sirva ? qualifica??o profissional dessas pessoas", explica a idealizadora do Habita Vida.

L?via fala que o resultado ? percebido atrav?s de uma demonstra??o de carinho e satisfa??o maior com o ambiente em que esses moradores vivem. "A reforma na fachada da casa estimula os moradores a estenderem a melhoria para dentro de casa. A gente nota, depois do trabalho que a gente realiza, o prazer que eles encontram em cuidar do seu espa?o. E o projeto tamb?m tem essa inten??o de trabalhar com o lado social, na educa??o e forma??o dessas pessoas".

"De uma certa forma, o projeto resgata a capacidade de sonhar e de fazer planos desses moradores", finaliza Rachel.