Dia Internacional da Mulher: mulheres de destaque no cenário juiz-forano
Em ambientes historicamente predominados por homens, personalidades femininas alcançam postos de destaque e incentivam outras mulheres
Repórter
8/03/2015
Os direitos das mulheres tiveram grande evolução nos últimos anos, mas ainda há muito o que ser feito para igualdade de gênero no Brasil em 2015. Em tempos em que essa desigualdade era maior, personalidades femininas locais se destacaram em Juiz de Fora e região, superando preconceitos e adversidades, alcançando respeito em cargos e funções onde a predominância é masculina. Conheça um pouco da história da jornalista Érica Salazar, da deputada federal Margarida Salomão, da primeira porta-bandeira de Juiz de Fora, Nancy de Carvalho e da delegada regional Sheila Oliveira.
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Érica Salazar
O rosto mais conhecido da televisão de Juiz de Fora é da jornalista Érica Salazar. Atualmente no cargo de editora e apresentadora do MGTV 1ª Edição, da TV Integração, filial da Rede Globo, a jornalista se formou na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1998 e começou a trabalhar um mês após formada, na TV Tiradentes, antiga filial da Record. Após cinco meses, surgiu uma oportunidade na Globo e Érica foi aprovada. "Eu entrei na Globo em 1999 e fiquei um ano e meio como repórter externa. Depois deste tempo eu passei a apresentar o MGTV 2ª edição em férias de outros profissionais, aos finais de semana. Até que a outra apresentadora saiu repentinamente e eu fiquei provisoriamente como apresentadora. Com o tempo, o retorno foi positivo e eu fui efetivada, como apresentadora e repórter", conta.
Em 2009, com a mudança no cenário do MGTV, Érica foi escolhida pela empresa como o novo rosto do informativo. Passou para a primeira edição onde está há seis anos como apresentadora do telejornal local. "Há um ano e meio, eu me tornei a editora-chefe também, e pude colocar a minha cara realmente, levando meu perfil para as matérias. Estou neste desafio, de fazer algo informativo, dinâmico e essencial ao espectador", revela.
Segundo Érica, no início da carreira, apesar de poucos olhares preconceituosos, ela conquistou seu espaço. "Não foi nada realmente contra o meu trabalho, mas vinha de vários meios. A credibilidade a gente conquista aos poucos e as pessoas passam a não definir gênero nesta questão. Tem gente que acha que uma mulher não pode fazer uma matéria de carro, por exemplo. Eu acho que todo mundo tem essa capacidade, a partir do momento que estuda e se prepara para fazer aquela pauta. Eu não chegava crua na apuração, já tentava quebrar o gelo logo no início. Eu acho que conquistei um pouco meu espaço neste sentindo. Já cobri esportes, tinha dificuldades, mas trocava ideias com colegas e evitava cair no preconceito verdadeiro", explica.
Para a apresentadora, as mulheres que buscam seguir carreira dentro da comunicação social devem se manter femininas, mas com zelo. "Eu acho que a gente tem que cuidar do nosso comportamento e aparência. A notícia é sempre mais importante, tem que ser tratada com zelo. Isso traz mais aceitação do público. Não precisa deixar de ser feminina, de ser mulher. Eu acho que as mulheres tem muito mais a conquistar do que a comemorar no dia da mulher. Tudo passa pela ética jornalística, da pessoa, porque temos muitas coisas pra conquistar ainda", garante.
Margarida Salomão
A deputada federal Margarida Salomão (PT) foi pró-reitora e reitora da UFJF e candidata à Prefeitura de Juiz de Fora em duas oportunidades, em 2008 e 2012. Eleita como a deputada federal mais votada da cidade, com 53.485 votos, em 2014, Margarida comenta como foi o início de sua vida política. "A minha militância começou nos anos 1980, na universidade, como professora e liderança sindical. Depois, nos anos 1990, como pró-reitora e reitora, tive um enfrentamento muito grande aos governos tucanos com a sua concepção equivocada e perigosa sobre o ensino superior. Com este acúmulo, passei a militar fora da universidade, buscando mudanças além do quadro institucional", afirma.
Na Câmara dos Deputados, Margarida é uma das 51 deputadas federais. O número é considerado baixo, já que não chega a 10% da totalidade de deputados no Congresso Nacional e a ex-reitora incentiva uma maior participação feminina em Brasília (DF). "O ambiente e as relações interpessoais na política são fundamentalmente masculinas e isso faz com que as mulheres que não derivam, nem são herdeiras de uma militância masculina tenham que quebrar expectativas sobre sua atenção. Há uma desacreditação da mulher na política, muitas vezes sexual, ou sobre a capacidade do exercício do comando ou da função pública que assumiram. Temos também uma sub-representação feminina na Câmara, ocupando apenas 51 das 513 cadeiras. A nossa pauta é uma pauta subordinada, porque dependemos da boa vontade dos homens. As mulheres são a maioria da população brasileira, não faz sentido que sejam tão minoritárias nos espaços de poder. Por isso, o protagonismo político feminino é um elemento a ser reivindicado para a construção de uma democracia mais completa, mais justa no Brasil e deve estar no debate da reforma política. Eu entendo que o financiamento público de campanha e a paridade de gênero são essenciais para garantir o aumento da representatividade feminina. E para termos políticas mais efetivas para as mulheres é preciso que tenhamos mais mulheres na política", opina.
Entre as dificuldades citadas por Margarida, a deputada incentiva uma posição firme do público feminino, lutando pelo protagonismo em suas vidas. "Eu enfrentei dificuldades como todas as mulheres que buscam ser protagonistas de suas vidas enfrentam. É uma luta difícil porque está no campo das micro-relações, na esfera da cultura e há objeções relevantes numa sociedade secularmente patriarcal como a nossa. O papel desejado da mulher é o de esposa e de mãe. Quando o estupro pode ser tratado como premiação publicamente e impunemente, "você não merece ser estuprada", percebemos qual é a visão ideológica dominante. As pessoas podem até ser simpáticas, mas, na prática, prosseguem agindo de acordo com o sistema em que estão inseridas. Então, quando a desigualdade de gênero aflora como pauta política é muito importante porque se não vem à tona, fica como está. O meu conselho é para todas as mulheres: que sejamos firmes na luta pelo protagonismo nas nossas vidas e pelo reconhecimento do nosso papel enquanto sujeitos sociais."
Nancy de Carvalho
Nancy de Carvalho é um dos nomes mais conhecidos no âmbito cultural de Juiz de Fora. Uma das fundadoras do Bloco do Beco e primeira porta-bandeira do Carnaval da cidade, ela conta sua história. "Minha ligação com o Carnaval existe desde pequena, quando a G.R.E.S. Feliz Lembrança ensaiava na minha casa. Dali em diante eu fui aprimorando, saindo em escolas de samba, em blocos e cheguei onde cheguei hoje: primeira porta-bandeira de Juiz de Fora, em 1952. Dali em diante eu nunca deixei de sair em outras escolas, como Real Grandeza", explica.
O carnaval de Juiz de Fora sempre respeitou Nancy, segundo a passista. "Sempre fui muito bem tratada. Todo mundo me considera até hoje. Essa homenagem que o Bloco do Beco fez pra mim este ano foi um caos, eu não consegui nem dançar direito", relembra.
Sheila Oliveira
À frente da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (PC) de Juiz de Fora desde novembro de 2013, a delegada Sheila Aparecida Pedrosa Melo Oliveira concluiu o curso direito em dezembro de 2000 e estava decidida a ingressar na carreira policial. Sheila já passou por várias frentes como delegada de Polícia: a primeira lotação foi na Delegacia de Furtos e Roubos de Ubá (MG), onde permaneceu até novembro de 2009. Foi transferida para Juiz de Fora e até 2013 assumiu as delegacias de Plantão, a 4ª Delegacia, na Zona Nordeste, a 3ª delegacia, na Zona Norte, o Núcleo de Ações Operacionais (Naop) da Delegacia Regional e a Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran), respondendo pelo trânsito e habilitação até outubro de 2013, quando deixou o cargo para assumir a Delegacia Regional. "Antes mesmo de me formar eu prestei concurso para inspetora de Polícia Civil e tomei posse em janeiro de 2001. Permaneci neste cargo até o dia 16 de junho de 2006, quando tomei posse para Delegada de Polícia de Minas Gerais", fala.
De acordo com a delegada, ela nunca sofreu nenhum problema dentro da Polícia Civil por ser mulher, em um ambiente formado majoritariamente por homens. "Eu nunca tive esse tipo de problema. Muitos familiares meus são policiais, eu já conhecia mais ou menos o ritmo de trabalho. E eu tenho um relacionamento muito bom com minha equipe, principalmente no ambiente interno. Todos me respeitam muito", diz.
No entanto, Sheila cita dificuldades no âmbito pessoal por ser mulher. "A grande maioria dos policiais são homens, e você tem que ter um relacionamento mais próximo, de sair junto, fazer investigações juntas. Isso pode gerar comentários negativos. Eu sou casada, tenho quatro filhos, e tenho que fazer um trabalho de qualidade e ser uma boa mãe, uma boa dona de casa, uma boa esposa, dando atenção à família. Não que isso não aconteça com o homem, mas todos sabemos que há uma responsabilidade maior sobre a mulher nesta questão de educação dos filhos, da logística da casa, entre outras coisas. Nossa jornada é dupla, muito estressante, cansativa", revela.
Ao assumir a delegacia em 2013, Sheila contou parte de sua história ao Portal ACESSA.com. Confira esta entrevista aqui.
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